Ali estive. Ali vi não só areia e ar, não só camelos e metais, mas o homem”…Neruda, P., in As Uvas e o Vento
Madrugada fria!, sinto no meu despertar. O tropel de “bigas” do guerreiro do século XXI quebra o silêncio gelado do dia que se prenuncia nos meandros fumarentos das brumas matinas. É o outono arquejante, que sucumbe às forças do império hibernal.
Quero mais e mais silenciar, recolhido que estou, enquanto mulheres e homens guerreiros, em alarido provocante sobem com suas “bigas” pela Antunes – rua em que moro e onde me abrigo. Não receio que me vejam ou minha presença pressintam. Há algo errado, eu sei. – Um erro que não é só meu, e tem sua origem além das moneras, que açambarcam o tempo, as formas e todas as esferas.
No mundo cosmopolita de símbolos e ignotos traços, tramam-se palavras e distorcem-se sentidos para isentar-se a mim e a você de qualquer culpa por não estarmos lá junto aos “batedores” do tempo que se prenuncia de uma nova era. Enquanto homens e mulheres, avançando, cedem espaço e pensam que governam, quando a natureza poderosa impera.
Nesta semana, ah!, nesta semana apenas, se fala em meio ambiente e ecologia. – Palavras? Meras e vazias palavras! Não para os guerreiros anônimos, cujos carros de combate me despertaram bem cedo. – Era escuro e a cerração aumentava mais o frio, mas lá e acolá, pelas avenidas das cidades “enlixadas” do mundo, marchavam eles. E não era uma apoteose de ambientalistas aos deuses da Terra. São homens e mulheres que fazem de sua faina diária um combate feroz e permanente.
As pessoas – na maioria – recolhidas aos seus leitos, não percebem talvez, mas eles – garis –, soldados anônimos da Pátria, estão no limite dos ideais que os inspiram, pois sua luta parece inócua, enquanto cada família média da Terra produz em torno de seis (6) quilos de lixo plástico por mês. Mas o pior lixo são os dejetos humanos que poluem córregos, rios, lagos, mares, oceanos e bacias freáticas. E, isto tudo, por inapetência do Estado, cuja incapacidade a todo o tempo é declarada pelo próprio Estado, por seus órgãos judicantes como o Judiciário.
Recentemente, uma cidade da nossa fronteira, sufocada pelos dejetos que produz, recorreu à iniciativa particular para sanear seu meio ambiente, a que se insurgiu o Estado. Isto quer dizer não faz e se opõe a que outro o faça. Não dá para entender isso. Será que a saúde é mercadoria, que pode ser substituída? Quando teremos a tranqüilidade de ver grassar por toda parte as parcerias público-privadas, em que o Estado se capacite a por fim as mazelas que tanto afligem as comunidades, e que dizem respeito serviços essenciais, como saúde, educação e transporte, voltados todos ao meio ambiente, desonerando o próprio Estado, com custo de vidas.