Vertentes brotam na zona norte próximas às casas do Bairro Pascotini em Santo Ângelo de modo silencioso, mas persistente. A água doce e transparente escorre pela superfície e quando chega na rótula das avenidas Getúlio Vargas e Salgado Filho, obras de infraestrutura urbana a escondem e ela escoa anônima abaixo do trânsito. A água emerge novamente, segue e ganha força ao unir-se a outros córregos que nascem no Bairro Dornelles.
Este curso hídrico segue o fluxo e determina o leito, mas não tem uma identidade formal, ou seja, não tem nome oficial. Se um morador seguir o riacho conhecerá a geografia primitiva do território da cidade que um dia foi mata nativa. Este riacho urbano segue sem nome, passa por residências do bairro Dornelles, Rogowski, Neri Cavalheiro, Ditz e muda de cor e odor. Neste caminho recebe esgoto doméstico, industrial, lixo de todos os tipos.
No Bairro Neri Cavalheiro encontra terreno acidentado, rochoso e revela uma queda d’água com 4 metros ou mais de altura, o som característico do líquido se desmanchando rompe a barreira vegetal indicando que mais uma queda d’água pode ser encontrada na zona urbana do Município. Atualmente leis ambientais protegem esta vegetação, caso contrário, estaria devastada para servir de loteamento urbano.
Entre outros fatores, os loteamentos preparados sem a infraestrutura de esgotamento sanitário forçam a população em geral, abandonada pelo poder público e sem instrução suficiente, a usar o riacho como fossa, esgoto e lixeira. É deste modo que transformamos lugares que são fonte de vida, beleza e contemplação em espelho de uma sociedade que não aprendeu lições básicas de vida em harmonia.
Contudo, este ilustre riacho sem identidade formal continua fluindo, acolhe o riacho Tchungum e segue pelo Bairro Ditz até desaguar no Rio São João. Antônio Nader Ribeiro conhece estes lugares como poucos moradores da cidade, ele explica que há cerca de 20 anos, ou mais, ele e seus amigos, depois das partidas de futebol, aproveitavam a beleza destes lugares para um “bom banho de rio”. Inclusive a cascata que hoje integra a matéria da série Quedas d’água já foi frequentada por ele.
No entanto, Nader explica que os loteamentos realizados sem infraestrutura não colaboram com a preservação dos riachos urbanos, pois o esgoto que é despejado no riacho e o lixo que desce por eles é muito grande. Na opinião deste morador que viu a cidade crescer em direção aos riachos é necessário uma séria atitude de implantação de redes de esgoto e conscientização para acabar com este problema.