Série Novo imigrantes: As barreiras linguísticas

A matéria da série os “Novos Imigrantes” de hoje divulga a atitude de um santo-angelense que tenta ajudar os haitianos a romperem limites impostos pelas diferenças linguísticas.

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Afonso Canísio JungAfonso Canísio Jung é professor aposentado e percebeu as dificuldades que os haitianos vivenciam diariamente em um país de língua portuguesa. Afonso ministra aulas semanais de português para estes estrangeiros que falam dois idiomas, o crioulo haitiano e a língua oficial daquele país, francês.
O professor explica que entre os haitianos há quem fale, inclusive o inglês básico, são imigrantes que têm ensino superior. Sim, muitos deles têm especialização profissional, são enfermeiros, músicos, técnicos em informática, professores…
No entanto, as barreira criada pelo desconhecimento do português limita a atuação dos estrangeiros no Brasil e como consequência eles ocupam os empregos disponíveis no setor de produção industrial. Por este motivo a Alibem é a “menina dos olhos dos haitianos”.

Trabalho voluntário e tarefa desafiadora
Para ajudar, tanto os mais especializados, quanto aqueles que têm apenas o ensino fundamental ou médio é que o professor Afonso organiza encontros semanais para ensinar português.
Tudo começou em uma república de haitianos em setembro de 2017, onde não havia cadeiras e mesas e estes estrangeiros viviam em situações precárias de infraestrutura, contudo, Canísio pediu ajuda e o Padre Rosalvo se sensibilizou com a situação. O pároco liberou o uso de uma sala ao lado da Catedral Angelopolitana para as aulas de português. Organizou-se então, todos os sábados entre 15h30min e 17h30min, um grupo de estudos. Com giz e quadro negro o professor adapta seus conhecimentos para que eles “se defendam”, como expressou o Afonso ao falar das dificuldades cotidianas impostas pelas diferenças linguísticas.
O trabalho é voluntário e a tarefa desafiadora. “Como o público é muito desparelho se torna difícil” disse o professor. Ensinar o português para os haitianos exige jogo de cintura, pois chegam em sua sala alunos novos todos os sábados e o processo de ensino torna-se quase impossível, alguns compreendem e falam o mínimo do português, outros somente por mímica, além disso, tem escolaridade, idade e interesses diferentes.

Amigos mediadores
Na rotina de trabalho dos haitianos empregados na Alibem os desafios linguísticos são vencidos com a ajuda dos haitianos que já aprenderam a falar português (aqueles que chegaram antes). Eles desempenham a função de mediadores e ajudam no processo de comunicação básica. Mas nem todos conseguem emprego naquela indústria.
Caroline Giordane Cortês, que trabalha na Fundação Gaúcha do Trabalho, Sine de Santo Ângelo, explica que nos últimos meses estão chegando novos haitianos, são as esposas, filhos e amigos dos que chegaram primeiro e praticamente não se comunicam em Português. Eles buscam uma ocupação remunerada. Caroline acredita que se houver um trabalho de ensino do idioma este problema será vencido rapidamente pois são muito disponíveis ao trabalho e possuem qualificações profissionais.
No entanto, Caroline do Sine entende que, pelas diferenças linguísticas, os haitianos se submetem a qualquer tipo de trabalho e a maioria que procura emprego busca uma ocupação em indústrias, no cargo de auxiliar de produção. Nestes postos de trabalho são desempenhados tarefas repetitivas que não exigem maiores desafios linguísticos. Mas a indústria local não tem condições de absorver todos os novos imigrantes que estão chegando, além de que, nem todos tem o perfil adequado para trabalhar na indústria.
A Gerente Regional do Ministério do Trabalho Kelly Regina Selva confirma que a maioria deles vem acompanhada de amigos ou familiares que residem no Brasil há mais tempo e auxiliam na prestação das informações necessárias. “Quando desacompanhados, diante das barreiras linguísticas, procuramos nos comunicar através de recursos gestuais e palavras-chave, que se mostram suficientes para o correto preenchimento dos dados e emissão da Carteira de Trabalho a todo estrangeiro que procura este serviço portando a documentação necessária” destacou Kelly ao falar da rotina daquele órgão federal.

Em processo
Este contexto de contrastes linguísticos sensibilizou o professor Canísio, ao se envolver com os estrangeiros percebeu a situação que eles se encontram e resolveu realizar um trabalho voluntário e quase solitário. O professor tem a esperança de que os novos imigrantes possam realizar coisas mínimas como ir ao banco transferir dinheiro para os familiares que ficaram no Haiti, ir ao supermercado comprar alimentos e usarem os serviços públicos disponíveis em nossa cidade.
ONGs, universidades e entidades de educação tem uma rica oportunidade para estudo e interferência neste fenômeno migratório. Afinal, é uma situação que se impõe em nosso meio, independente de opiniões e posicionamentos favoráveis ou contrários, as necessidades básicas dos haitianos, questionam nosso senso de humanidade em relação a estes irmãos de outras pátrias.

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