Sexta-feira – 31/12/2010

Onde as ideias correspondem aos fatosTropelias de final de anoEm se tratando de viagens aéreas, o final de ano é propício para que a Lei de Murphy se...

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Onde as ideias correspondem aos fatos
Tropelias de final de ano
Em se tratando de viagens aéreas, o final de ano é propício para que a Lei de Murphy se confirme: “Tudo que pode dar errado, dará errado”. Quando amigos e pacientes perguntavam onde passaria o Natal, eu respondia: “sendo entrevistado pela rede Globo”. Tenho um sexto sentido apuradíssimo para detectar problemas em aeroportos. Como a greve dos aeroviários foi controlada, minhas previsões pareciam infundadas.
No dia planejado para o embarque ao Rio de Janeiro, recebi a confirmação de que meus sentidos (principalmente o sexto) funcionam bem; eu simplesmente não tinha reserva. Minha filha Renata ficou encarregada das reservas, que é a parte mais sofisticada nas viagens aéreas. A mim caberia o pagamento pelas passagens, como sempre. Ela deve adorar o seu nome. É a única explicação para haver duas reservas em nome de “Renata” e uma em nome de Ana Lúcia. Ao Renato, pagador das passagens, nem suplência em lista de espera.
Instalou-se um impasse: ou eu fazia uma cirurgia de mudança de sexo nos próximos 10 minutos, tornando-me Renata, ou não poderia embarcar. A solução foi fazer nova reserva para o dia 29. Elas viajaram, eu fiquei. Inteiro. Não assistiria ao show do Roberto Carlos, mas chegaria a tempo de ver o espetáculo da queima de fogos em Copacabana. No dia 28, a Renata ligou para saber se recebi um e-mail com as instruções para o embarque. Fiquei sabendo que irei pela Avianca. Foi neste exato momento que meus dedos dos pés começaram a comichar. O nome da companhia aérea pareceu-me boliviano ou colombiano. Ou seja, passível de ser confundido com avião de traficante e ser abatido. Fiquei aliviado quando descobri que a companhia aérea é chilena.
O pavor retornou quando fui informado que trocarei de avião em Guarulhos, São Paulo, onde esperarei por quatro horas um vôo para o Rio. A Renata tentando me consolar disse “eles orientam direitinho para não se perder”. Nem a promessa de “refeição quente” em substituição àquelas seis bolachinhas e um copo de água ou refrigerante que são servidas pelas outras companhias, melhorou meu humor. Instalou-se a certeza de que passaria a virada de ano dando entrevista para a rede Globo. Meus pesadelos são recorrentes: quando estou em maus lençóis, a Globo aparece para me entrevistar.
Caso consiga chegar ao Rio em tempo de ver a queima dos fogos, poderei conferir a eficácia da tecnologia espanhola na fabricação de fogos de artifício. Em anos anteriores, eles eram chineses. Havia a reclamação de que apenas 50% das 20 toneladas de fogos funcionavam. Os espanhóis prometem um espetáculo. A previsão é de muita chuva na “hora da virada”. Talvez eu esteja lá, molhado e feliz por demonstrar que nem sempre a Lei de Murphy está certa: algumas vezes, o ruim pode ficar ainda pior. E é só o começo de um longo ano.
Para os ajuizados, que assistirão tudo pela televisão, desejo um venturoso 2011.

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