Sexta-feira – 24/12/2010

Onde as ideias correspondem aos fatosEspírito NatalinoNatal é uma época propícia para repensar atitudes. Fazer um balanço do que fizemos ao longo de nossas vidas e imaginar como...

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Onde as ideias correspondem aos fatos
Espírito Natalino
Natal é uma época propícia para repensar atitudes. Fazer um balanço do que fizemos ao longo de nossas vidas e imaginar como as coisas seriam se, em determinado momento, tivéssemos agido de forma diferente. Nossos erros só nos desmerecem, quando não aprendemos com eles.
Escrevi, tempos atrás, sobre a frustração ao não receber a caneta prometida pelo meu avô, quando lhe escrevesse uma carta. Eu estava no primeiro ano. A professora colocou-me sentado na última fila (quando viu meu material escolar dentro de um saco plástico) e foi enfática ao afirmar que lá era meu lugar. Perdi o interesse pelo estudo. Quase repeti o ano letivo. Passava aos trancos e cascudos (desferidos pela mãe, enjoada de tanto ser chamada na escola) até a quinta série. Foi quando dois vendedores de livros mentiram para minha mãe que eu havia escrito a melhor redação da escola.
Ela deixou de comprar uma máquina de costura para adquirir coleções de livros. O remorso me tornou estudioso. O resultado dessa história toda é que demorei quase dois anos para escrever a carta ao meu avô e, ao invés da caneta prometida, uma Parker 51, ganhei uma Compactor, que guardo no cofre para nunca esquecer o episódio. Pessoas com sonhos desfeitos em tenra idade tendem à melancolia exagerada.
O engraçado é que após contar essa história para justificar minha opção política pela candidata Dilma (e comprar uma briga demorada como o Jonatã Júnior) ganhei do professor Arnoni Schmidt, a minha tão cobiçada Parker 51. Para quem não sabe o que é essa caneta, basta saber que foi a primeira a ser fabricada com um material revolucionário, que depois viria a ser conhecido como “matéria plástica”. Era adquirida em joalherias, pois possui a pena em ouro 18 quilates.
Quando ele me mostrou a caneta, pensei que era para se exibir por possuir uma. Para minha surpresa, ele disse: “esta caneta ganhei do meu pai. Nunca teve o mesmo significado que tem para ti. Estou te presenteando com ela. Pode mandar apagar o meu nome gravado e colocar o teu”. Como agir numa situação dessas? Fiquei tão embaraçado que acho que nem agradeci corretamente. Meu ego se rejubilava: eu tinha uma Parker 51.
O filósofo Osho disse que nossas doações são abençoadas quando o objeto doado nos é útil. Quando damos algo do qual nos queremos livrar, não há boa ação, pois o destino seria o lixo. É aqui que reside a grandeza do gesto do Arnoni: Para me deixar confortável a aceitar o presente, tentou simular pouco caso por ele. Quando algo não é importante para ti, tu não cuidas. A caneta está impecável, apesar de ter sido fabricada há 50 anos, o que denota cuidado e carinho.
Não guardo dinheiro no cofre. Ele está reservado para minhas memórias palpáveis: o contrato de financiamento do meu primeiro carro e do consultório, a caneta Compactor, um anel de rubi, que meu pai herdou do pai dele e que me passou, as certidões de nascimento das minhas filhas, um cortador de unhas, um relógio em ouro que comprei para usar no debut das minhas filhas, uma ametista lapidada que ganhei quando fui dentista voluntário em um garimpo e minha Parker 51. Além de outros objetos. São os meus tesouros.
Que o espírito de Natal tome conta de ti, caro leitor, para que faças um inventário do que realmente é importante em tua vida. Presenteia com desprendimento e recebi com gratidão. Conta as tuas bênçãos e te regozija com elas. Perdoa e sê perdoado. Abandona teus preconceitos. Olha para tua família e amigos como quem olha para o pote de ouro existente no final do arco-íris. E lembra de ninar o Cristo que está nascendo em ti.

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