O Mensageiro iniciou a reportagem especial “Os novos imigrantes”. Será uma série de matérias que vão compor uma reportagem que sintetiza o fenômeno de chegada de imigrantes haitianos em Santo Ângelo. Nesta primeira parte apresentamos a contextualização de como tudo iniciou e quais as motivações primeiras destes estrangeiros que deixaram o país de origem para buscar uma nova vida na Capital das Missões. Confira:
Os que primeiro chegaram e os recém-chegados
O primeiro grupo de 50 haitianos que chegou a Santo Ângelo foi acolhido e orientado pela Alibem. Eles entraram no Brasil pelo Acre e vieram direto a nossa cidade. Novos grupos continuam chegando, e são influenciados pelos relatos dos haitianos que vieram primeiro.
Mas agora não tem mais o subsídio da indústria, eles se alto-organizam e o fenômeno tem gerado um período de incertezas para os companheiros pátrios e os moradores de Santo Ângelo, que não entendem exatamente o que está ocorrendo.
O “start” em Santo Ângelo
Aqueles primeiros estrangeiros receberam subsídio para compra de passagem do Acre para Santo Ângelo, orientação para a obtenção dos vistos de permanência no Brasil, junto a Polícia Federal e segundo o diretor administrativo da Alibem, Ângelo Meneghetti, naquela época foi providenciado alojamento, ofertada três refeições diárias, tratamento igualitário em relação aos trabalhadores brasileiros e firmadas algumas parcerias para sanar problemas de comunicação.
A Alibem é uma indústria que atua no Rio Grande do Sul (com suínos) e em Mato Grosso (com gado). É considerada a 2ª maior empresa de suínos do Estado e a 5ª maior do Brasil em volume de abates. Gera mais de 4 mil empregos diretos. Exporta para mais de 40 países e distribui produtos em todas as regiões brasileiras e continua expandindo os negócios. Na unidade de Santo Ângelo são abatidos 2.200 suínos diariamente e pretende-se chegar a 3000 abates diários.
O sonho dos haitianos
O sonho destes estrangeiros que estão vindo para o Brasil é trabalhar, conquistar condições mínimas de moradia e trazer suas famílias para aqui residirem. Eles percebem que o Brasil está em condições de vantagem econômica e de infraestrutura social em relação ao Haiti.
Os grupos mais recentes que chegam a Santo Ângelo não têm mais o aporte logístico da empresa e participam da livre concorrência com os trabalhadores inscritos no RH da Alibem. Eles também vêm de outras cidades gaúchas, influenciados pelos relatos dos que aqui se instalaram na primeira fase da imigração de haitianos, pois a Alibem formatou para os primeiros migrantes um modo de acolhimento e de adaptação em Santo Ângelo.
Contudo, neste novo momento os que chegam sentem falta de acolhimento, tem dificuldade de comunicação, de acessar os serviços públicos e até particulares oferecidos na cidade. De algum modo, estão sujeitos a boa vontade dos amigos que os acolhem como podem.
Meneghetti alerta que nas unidades da Alibem de Santo Ângelo e Santa Rosa estão empregadas cerca de três mil pessoas e mais de 200 delas, são haitianos. A unidade de Santa Rosa ainda emprega 50 argentinos. Ele considera um universo pequeno em relação a mão de obra brasileira empregada, afirmando que não há nenhum tipo de preferência entre haitianos e brasileiros, somente é analisado o perfil de quem se inscreve para cada uma das vagas de trabalho dentro da indústria e é oportunizado para aquele que melhor se encaixa no tipo de trabalho oferecido.
Eles continuam chegando
Um haitiano que chegou a cerca de três semanas em Santo Ângelo relatou que acredita na potencialidade do Brasil e afirmou que teria muitas coisas que interessam a eles. “Quero fazer mais experiência na vida, comparar as realidades dos dois Países e se aproveitar bem esta experiência, vou trazer minha família para cá”.
O haitiano já se comunica em Português, aprendeu por conta própria com ajuda de livros, já trabalhou em Manaus e veio para Santo Ângelo para tentar um emprego na Alibem. Ele ainda não conseguiu emprego e depende da boa vontade de amigos. Percebe que muitos colegas que continuam chegando, falam muito pouco o português e não tem nenhum tipo de acolhimento. “Muito mal organizado” ele disse.
“Não tem ninguém aqui. Não tem ninguém para receber, é um processo mal organizado, precisaria ter uma estrutura mínima. Alojamento, local para morar, pelo menos um espaço para receber e orientar o imigrante”, completa o haitiano que não quis se identificar e está a três semanas na Capital das Missões.
A reportagem continua na próxima semana quando traremos outros enfoques a cerca desta questão que está em debate na comunidade local, despertando, solidariedade, curiosidade e preconceitos.