“É um profundo engano imaginar que em outras circunstâncias quaisquer de nós estaríamos melhor do que estamos agora. Você está fazendo o máximo onde você está, em qualquer outro lugar você estaria pior, não melhor”. Besant, Annie – escritora, conferencista e teósofa
Não raro nos surpreendemos com determinadas situações que nos levam a indagar – o que afinal estou fazendo aqui? – Meu Deus, por que isso comigo? – Eu não merecia isto! – Ah, isso é castigo do céu! Para logo um pensamento nos confortar – Bah!, deve ser meu carma. Tenho um amigo que a tudo que lhe acontece de imprevisto, que lhe agrade ou aborreça, diz que é o seu carma. Afinal, o que é isso?
Sabemos que a passagem de alguns grandes homens os pegou de surpresa. Não estavam preparados para aquele momento. Aliás, muitos até ali – o momento extremo -, alentam a esperança de continuarem a viver “indefinidamente” na carne, tal a ignorância que os cerca a respeito do assunto. Então, lamentam-se, exclamando que muito ainda têm a dar ao mundo. Deixam obras inacabadas, algumas personalíssimas como as de ordem artística, intelectual ou moral. É comum ocorrer isso. E este é o fulcro da questão “carma”.
Temos conhecidos que perderam familiares no vigor da juventude, profissionalmente realizados, a quem se supunha um futuro promissor, mas o destino os colheu, como costumamos dizer, prematuramente. As comunidades e amigos se consternam com esses fatos inusitados. Lavoisier já dizia que – “Na natureza nada se cria, nem se perde, tudo se transforma”, numa alusão aos elementos primários da natureza, onde também se inclui o homem, que um dia também perece.
Se os luminares da ciência pudessem se eternizar, a própria sabedoria divina entraria numa perigosa contradição ao princípio elementar da transitoriedade das formas. Mas o que importa para nós aqui é saber o que é o carma, onde ele entra em nossas vidas e como transportá-lo a outras esferas.
Quando começamos uma vida orgânica, retomamos nossa individualidade com a bagagem que lhe é própria – seu patrimônio moral -, num despertar lento às experiências bem e mal sucedidas, mas que fazem parte da sua criação cármica insculpida no seu clichê anímico. Isto quer dizer que carma é uma obra em andamento. E, muitas vezes, é errando que haveremos de chegar ao seu aperfeiçoamento. No caminho encontraremos pessoas especiais, que nos alcançarão auxílio e, com isso, nos ensinarão a lei da solidariedade que, à medida que a aplicarmos vamos aprendendo o princípio do amor fraterno.
O amor além da barreira familiar e egocêntrico, para universalizar-se e, como tal, expandir-se a todas as direções que a benquerença possa nos levar. Então, nossa obra, gradualmente, se completará, e nos libertará da pessoalidade tacanha, levando-nos à leveza cármica do ser, que então brilhará qual estrela pelos céus dos muitos universos que compõe o macrocosmo.