Ativistas pedem o fim das carroças urbanas em Santo Ângelo

A Pé de Pano é composta por um grupo de cinco ativistas da causa animal que lutam para mudar uma realidade específica de Santo Ângelo, elas solicitam políticas...

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A ONG Pé de Pano de Santo Ângelo arrenda quatro hectares onde os cavalos resgatados se recuperam
A ONG Pé de Pano de Santo Ângelo arrenda quatro hectares onde os cavalos resgatados se recuperam

Em agosto de 2015 um grupo de mulheres resgata um cavalo em situação de maus tratos em Santo Ângelo e assim inicia a ONG – Pé de Pano. Em cinco anos de atuação já cuidou de 300 cavalos, proporcionou a adoção de 30 e mantêm livres e alimentados 15 equinos em uma área de 4 hectares na zona rural do município. A Pé de Pano é composta por um grupo de cinco ativistas da causa animal que lutam para mudar uma realidade específica de Santo Ângelo, elas solicitam políticas públicas voltadas para núcleos familiares que vivem da exploração do lixo em situação de vulnerabilidade e para animais que sofrem maus tratos em decorrência de atividades econômicas degradantes

A Ong – Pé de Pano é percebida pela comunidade de Santo Ângelo como guardiã dos cavalos em situação de maus-tratos e é requisitada sempre que uma há uma ocorrência deste tipo. No entanto, a presidente e advogada da ONG, Cristine Peixoto, afirma que existe uma inversão de papéis, na qual, as ONGs fazem o trabalho, mas, por omissão do poder público. “Se um cavalo cai no meio da rua, ninguém socorre” explica Cristine.

A ONG tem um aporte de R$ 2 mil reais do poder público municipal e este recurso é usado para arrendamento da área onde se recuperam e vivem estes cavalos, bem como para parte do complemento alimentar. No entanto, Cristine informa que este valor é insuficiente para a maior parte dos gastos que são com saúde e transporte dos cavalos atendidos. Conforme informou a presidente, a garantia do atendimento só é possível por meio de vaquinhas solidárias on-line, contribuições espontâneas de empresas locais e pessoas físicas, brechós, entre outras ações protagonizadas por este grupo.

O esforço desta ONG é para que o poder público assuma novas responsabilidades e inicie um processo de mudança da realidade social que está envolvida no uso de equinos na tração de veículos como carroças e as populares gaiotas.

Na área arrendada se recuperam 15 cavalos - Foto: Marcos Demeneghi
Na área arrendada se recuperam 15 cavalos – Foto: Marcos Demeneghi

A ONG é composta ainda pela vice-presidente Ana Carolina Moraes, a tesoureira Bruna Birkmam, a secretária Yasmin Tesche e a Veterinária Carolina Corrêa. “Nós abrimos a discussão e mostramos que é possível fazer. Basta o poder público querer e o único caminho é proibir o uso de veículos com tração animal, compreendemos que para isso é necessário ofertar novas formas de trabalho para as famílias que usam esse recurso como sustento”. Explica a advogada da ONG Pé de Pano, que esclarece o posicionamento deste grupo de cinco mulheres que trabalham no cuidado e resgate destes animais. “nos propomos a ser auxiliares e não protagonistas na fiscalização e cuidado dos cavalos”.

Cada cavalo é identificado com nome

“Jesus que foi resgatado no natal, a zoe foi esfaqueada no bairro Tesch, o capitão foi atropelado na Av. Salgado Filho, Tupiara foi abandonada na Av. Sagrada Família, o Chicle foi abandonado numa carroça na Duque de Caxias, aquele outro caiu com um homem bêbado na Getúlio Vargas, a Palmeirinha foi resgatada quase morta em frente a Quick, a jurema é de Entre-Ijuís e o tupã estava abandonado em um matagal na RS 344, a Catarina o Negão… e assim é, cada um tem uma história de maus-tratos que podem ser comprovadas com fotos e laudos veterinários e por isso foram resgatados e estão sob nossos cuidados”, fala com fluência Cristine.

Afirma ainda que todos estes animais estavam em situações muito precárias, “gravíssimas”. A veterinária Ana Carolina Moraes explica que o asfalto exige muito mais cuidado com os cascos dos cavalos, e fala das diferenças entre o campo e o asfalto, relata que na maioria das vezes os próprios donos fazem a ferragem e de modo incorreto.

Cavalos resgatados nas ruas de Santo Ângelo pela ONG Pé de Pano - Foto Marcos Demeneghi
Cavalos resgatados nas ruas de Santo Ângelo pela ONG Pé de Pano – Foto Marcos Demeneghi

Porque proibir o uso de veículos com tração animal?

“Recolher lixo com o uso de veículos com tração animal não é uma causa social que deva ser apoiada, por vários motivos”, argumentam as ativistas da causa animal da ONG Pé de Pano. Percebemos crianças que deveriam estar na escola, mas estão em cima de carroças, idosos que poderiam receber auxílio social e atendimento em saúde recolhendo lixo. O trabalho na zona urbana com uso do cavalo na tração de veículo é praticamente impossível de trazer o bem estar para o animal e a dignidade para os cavalos, do ponto de vista econômico é inviável e além disso é um animal de pastagem, de campo, complementam as ativistas.

Argumentam ainda, que cerca de 90% dos cavalos tem problemas de nutrição, pois é muito caro manter um animal de grande porte na zona urbana do município, por este motivo consideram inviável defender o uso do animal para tração de veículos, pois é uma atividade inviável do ponto de vista financeiro.

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Quanto ao argumento histórico e tradicional da importância do cavalo nas atividades econômicas, o grupo reconhece o legado do cavalo para impulsionar a economia do país na época colonial, mas repudiam o uso dos equinos depois da industrialização e expansão urbana e tecnológica, pois no seu posicionamento social e ponto de vista, os cavalos já cumpriram essa função na formação econômica do País, além de que, no passado as condições em que viviam eram bem diferentes das percebidas hoje no meio urbano. A grande maioria dos cavalos trabalha em situações de exploração, ou seja, até a exaustão, sem os devidos cuidados que precisam.

Edição e reportagem | Marcos Demeneghi

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