Final de graduação: Cara a cara com a monografia. E agora?

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A professora Vera Werle, graduada em Letras e Direito, com especialização em aprendizagens psicológicas e mestre em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania, integra o corpo docente do IESA, nos cursos de Direito e Pedagogia, além das disciplinas que ministra, sendo a profissional responsável nestes dois cursos pela coordenação do Programa de Monografias. Nesta entrevista, a professora Vera Werle salienta sobre os principais passos da construção de uma monografia e o combate ao plágio acadêmico.    
1) Quais são os passos que um acadêmico enfrenta do início até o término de sua tese de graduação?
Acredito que cada instituição tenha um sistema o qual depende do entendimento e dos objetivos no que se refere ao trabalho de conclusão de curso. O que se pode afirmar, de forma geral, é que todo processo de pesquisa inicia com a definição do tema e a sua problematização. Nos cursos de Direito e Pedagogia do IESA, essa etapa começa com a elaboração do projeto de pesquisa, componente curricular do sétimo período dos referidos cursos.  Nesta fase, o acadêmico define o seu objeto de estudo e efetivamente dá início a sua pesquisa, implicando a seleção de fontes, leitura, fichamentos, escrita do projeto, participação em seminário ou bancas de projetos. Já num segundo momento, é feito o encaminhamento formal do orientando  ao professor orientador,  para então, a partir da rediscussão do projeto de pesquisa, começar a elaboração da sua monografia. A terceira etapa corresponde ao período de realização das bancas, com a apresentação do trabalho à banca examinadora. O que se pode afirmar em relação a este processo todo é que ele configura para o aluno uma experiência única com a escrita e a pesquisa acadêmicas, sendo altamente relevante que as instituições de ensino superior primem pela seriedade deste espaço.                                        
 2) Quais são as principais dificuldades encontradas, hoje, em nosso país, referentes aos incentivos de se trabalhar com a linha de pesquisas?
Diria que a dita pesquisa científica, aquela que resulta na produção de conhecimento novo reconhecido pela comunidade científica e “perseguida” pelas universidades do país, pelo seu status e importância nas avaliações institucionais do Ministério da Educação, é uma possibilidade para poucos, em razão das exigências que impõe. Como diz Cláudio de Moura Castro, “ela é rara e cara”, pouco repercutindo na melhoria do processo ensino-aprendizagem na universidade. Cabe salientar, entretanto, que existe o que se convencionou denominar de pesquisa acadêmica, cuja realização depende, em grande parte, da vontade e dedicação de professores e alunos, e condições institucionais mínimas. É sabido que este tipo de pesquisa representa ganhos no que se refere às aprendizagens dos acadêmicos e à prática pedagógica do professor. Penso que deveríamos ter uma política de ensino superior no Brasil fomentando esse tipo de pesquisa, com incentivo financeiro às linhas de pesquisa. 
3)  Com os avanços das Novas Tecnologias de Comunicação, é notável o uso de ferramentas virtuais para o favorecimento de informações. Neste quesito, o plágio ainda ocorre livremente nas teses apresentadas?
A Internet caracteriza, sem dúvida, no século XXI, um importantíssimo instrumento de informação, inclusive para o campo da pesquisa. Considerando o contexto de elaboração de trabalhos acadêmicos representa, ao mesmo tempo, um meio facilitador e sedutor para a ocorrência das “fraudes de autoria”. E elas ocorrem em todos os níveis, graduação e pós-graduação, inclusive nas dissertações de mestrado.  Na minha opinião, o meio mais eficaz para se combater o plágio está no trabalho de orientação, cabendo ao professor orientador as intervenções nesse sentido. Como professores, sabemos ou “desconfiamos” quando a escrita não é de autoria do aluno e temos a nossa disposição programas que possibilitam o rastreamento de plágio. Ainda vale destacar que o plágio não é o único problema no que se refere às fraudes dessa natureza. Existe hoje um verdadeiro comércio que sobrevive às custas da venda de trabalhos acadêmicos. É possível comprar monografias, dissertações e até teses de doutorado.
4) Existe um alto índice de acadêmicos brasileiros com dificuldades em escrever?
Perde-se muito tempo querendo implantar novas metodologias de ensino, discutindo se ensinar a língua  padrão  é uma imposição da cultura de elite e tantas outras “bobagens” ideológicas, e enquanto isso nosso aluno fica sem aprender. Contribui ainda neste contexto para a baixa escolarização de nossas crianças o “desencanto” pela atividade docente, que precisa resgatar o seu lugar social. A questão toda é que o ensino formal tem a obrigação de oportunizar à criança  o acesso à língua culta padrão.

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