Variante P.1 do Covid-19 circula nas Missões

Variante do Covid-19 já atinge pacientes em Santo Ângelo e aumenta o número de crianças e jovens acometidos pela doença. Na região das Missões, oito municípios apresentaram presença...

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Variante do Covid-19 já atinge pacientes em Santo Ângelo e aumenta o número de crianças e jovens acometidos pela doença. Na região das Missões, oito municípios apresentaram presença da nova variante: Pirapó, Porto Xavier, Roque Gonzales, São Borja, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões e Vitória das Missões. 

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O alto índice de contágio é uma das características desta nova cepa do Covid-19. A variante designada como P.1 também está associada a casos de reinfecção pela doença em Manaus é motivo de tenção em todo o mundo por provocar um quadro mais grave nos pacientes. A chegada na região Missioneira foi confirmada pelo secretário de saúde do município Flavio Christensen na manhã de quinta-feira, dia 27.

A afirmativa tem base no boletim genômico do coronavírus, publicado dia 26 pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs). Documento que aponta para o predomínio da variante P.1 no Rio Grande do Sul.

Outra informação que faz parte do atual contexto da pandemia regional é que Santo Ângelo é a referência para as Missões e a capacidade hospitalar local opera no limite, pois ainda sente o reflexo de um pico de contágio iniciado na segunda quinzena de maio. Segundo o secretário municipal de Saúde, além da nova cepa do vírus, a infecção dos mais jovens pode estar associada a menor rigor nos cuidados adotados para evitar a contaminação.

No entanto, os dados locais mostram tendência de estabilização nos números gerais de casos nesta semana. Mesmo com a tendência de estabilização, a capacidade hospitalar está sendo levada em conta para a elaboração dos decretos municipais para e tomar as decisões relativas a circulação que pessoas nos finais de semana. Não só para Santo Ângelo, mas para todos os municípios da região missioneira.

Segundo o secretário de saúde a equipe de monitoramento tem a missão de garantir a única chance de sobrevivência da população com a saúde comprometida pelo vírus, que é a internação hospitalar. “Temos que ter leitos disponíveis para quem precisa” disse o secretário.

Uma das medidas tomadas na última semana, para ampliar o atendimento é a internação na UPA. Conforme informou Flavio Christensen na manhã de quinta-feira, dia 27, nove pacientes estavam internados nesta unidade, que também disponibiliza uma fisioterapeuta para auxiliar na recuperação dos pacientes.

Aulas presenciais

Mesmo neste contexto de circulação de uma nova variante do vírus e aumento no número de internações, donos de escolas particulares e o Governo do Estado pressionam as prefeituras para a retomada das aulas presenciais, principalmente na educação infantil.

Para atender esta demanda, autoridades de saúde cederam à pressão do setor da educação e iniciou-se a vacinando dos professores. Além de exigir das instituições de saúde os cuidados com as medidas de afastamento e higienização.

Outras classes de trabalhadores

Contudo, classes de trabalhadores que também estão na linha de frente, e não pararam de trabalhar durante a pandemia, como caixas de supermercados, motoristas de ônibus, frentistas de postos, bancários, ainda estão sem previsão de ter acesso a vacina.


O pesquisador da Fiocruz Amazônia Felipe Naveca explica características da nova cepa do vírus Sars-CoV-2 surgida em Manaus, a variante designada como P.1, associada a casos de reinfecção por Covid-19 no estado. 

pesquisador da Fiocruz Amazônia Felipe Naveca
pesquisador da Fiocruz Amazônia Felipe Naveca

O que se sabe sobre ela, qual a sua origem, seu grau de transmissibilidade, e qual é o risco que existe em relação à perda da eficácia das vacinas contra a Covid-19?

Felipe Naveca: Nós estamos sequenciando coronavírus desde o primeiro caso, em março do ano passado. Nós submetemos um artigo na semana passada que conta a história toda da vigilância genômica do coronavírus do Amazonas, desde o primeiro caso. Dentro disso, nós não tínhamos nenhuma informação nem perto da variante P1 até novembro, nada que fosse nem similar. Quando, no dia 10 de janeiro, os pesquisadores do Japão deram o alerta de que tinham encontrado algo muito diferente em pessoas que tinham passado pelo Amazonas, isso chamou atenção e nós fomos comparar os dados que eles tinham obtido. E realmente nada apontava para isso até novembro. Nós conseguimos confirmar o que o dado epidemiológico dizia. As pessoas tinham passado pelo Amazonas e nossos dados genéticos confirmaram que a origem da P1 era a linhagem 28 que circulava no Amazonas. No outro dia nós tínhamos um experimento em andamento para sequenciamento de um caso suspeito de reinfecção, e aí já apareceu a variante P1 exatamente igual à sequência obtida no Japão, e já causando reinfecção. A coisa foi muito rápida naquele período, de um dia para o outro as informações já mudavam, e hoje nós temos três casos de reinfecção confirmados por P.1 no Amazonas. Três mulheres que tiveram doença leve na segunda vez, felizmente, mas foram casos de reinfecção. E duas delas chamaram muita atenção. Uma pelo fato de que a paciente tinha feito teste de anticorpos uma semana antes, mais ou menos, e tinha dado positivo, ou seja, ela tinha anticorpos, e mesmo assim foi infectada; e outro caso foram apenas 92 dias [após a primeira infecção]. Ou seja, provavelmente teria anticorpos, era muito cedo para ter perdido. Isso sugere que a P1 possa estar escapando dos anticorpos. A gente ainda não tem certeza disso, tem experimentos em andamento no IOC e também em Oxford, junto com o pessoal da AstraZeneca, para entender isso melhor.
Nossos dados genéticos apontaram para um possível surgimento entre o dia 15 de novembro e o dia 4 de dezembro, e justamente a amostra mais antiga que nós conseguimos identificar é do dia 4 de dezembro. Então, isso também bate com as estimativas, não conseguimos identificar antes disso.
Nós desenvolvemos um teste de PCR em tempo real para ajudar no screening dessa amostra, para não ter que tudo ir para o sequenciamento, que é mais caro, mais demorado, mais laborioso. A gente consegue fazer uma triagem com uma ferramenta de PCR em tempo real que nós desenvolvemos para as variantes mais importantes. Então, ela detecta a P1, a variante do Reino Unido e a variante sul-africana, porque elas têm uma mutação em comum. E aí nós começamos a usar esse teste pra screening, e hoje nós temos mais ou menos 800 amostras testadas do Amazonas, e com isso percebemos que foi aumentando ao longo do tempo o percentual de pessoas infectadas com a P1. Na primeira semana, foi 5%, depois passa a 17%, 40%, 60% e hoje a gente está perto de 80% das amostras detectadas para P1. Hoje ela praticamente domina a circulação do Sars-CoV-2 no Amazonas.

Fonte – Fiocruz

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