Médica que já acompanhou o atendimento de 12 mil pacientes na UPA de Santo Ângelo durante a pandemia (desde julho de 2020) esclarece sobre a polêmica que envolve a prescrição de remédios para tratar COVID-19.
A médica plantonista da UPA mencionou em entrevista que ficou chocada com o nível de irresponsabilidade social do jornalista que publicou a matéria com o título “Doentes de covid-19 tratados com dipirona”, pois na opinião dela, a polêmica tem três consequências que afetam diretamente a população: Uma delas está associada à relação de confiança existente entre a pessoa doente e a principal porta de atendimento que é a UPA, outra consequência é o incentivo a automedicação e por fim, a manutenção da ideia de que o uso de certos medicamentos protegem as pessoas de uma doença, sem tratamento estabelecido e altos índices de mortalidade.
Em resumo, esta médica que está na linha de frente do combate à doença, teme que este tipo de polêmica estimule a automedicação e o uso indiscriminado de determinados fármacos, criando falsa sensação de proteção, como consequência, o relaxamento nos cuidados que realmente se mostram eficientes até agora contra a covid-19. A médica relembra que, ainda não há medicamentos que combatam diretamente ao vírus e argumenta que 90% dos pacientes que contraíram o vírus se recuperaram em Santo Ângelo, ou seja, até a última quarta-feira, dia 01 de abril, 6566 pessoas contraíram o vírus e 670 precisaram de internação, isso corresponde a 10% deste universo contaminado. Nestas 670 pessoas em que a doença se mostrou mais agressiva, 121 foram a óbito.
No entanto, não há evidência de que certos medicamentos tenham evitado o agravo da situação e também não há evidencias suficientes de que o percentual de 90% que se recupera sem agravo foi beneficiada pelos medicamentos.
Entre as pessoas internadas compreende-se que são os cuidados e medicações ministradas de modo personalizado que ajudam no tratamento, ou seja, o atendimento incondicional dos profissional de saúde que não medem esforços para que cada organismo reaja e se recupere. A médica esclarece que a UPA está preparada para avaliar a evolução da doença, lamenta que não existam mais leitos para acolher casos menos graves, mas falou que a UPA está de portas aberas para acolher a população que é aconselhada a voltar lá, sempre que se sentir com medo ou perceba que o problema se agravou.
E o kit de medicamentos?
Quanto aos medicamentos, conta que a Associação Médica Brasileira, até o final do ano de 2020, adotava uma postura “ensina do muro” sobre o uso da hidroxicloroquina/cloroquina, invermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, inclusive na UPA de Santo Ângelo, eram prescritos os medicamentos citados seguindo protocolos recomendados.
No entanto, explica que já existem consensos de que a utilização destes fármacos deve ser banida dos protocolos de atendimento. O comitê local de Enfrentamento ao Covid-19 também se reuniu com pneumologistas e infectologistas e acompanham o entendimento da AMB – Associação Médica Brasileira que emitiu o boletim 02/2021 no dia 23 de março reafirmando que estes medicamentos não possuem eficácia científica comprovada, nem mesmo, benefício no tratamento ou prevenção da covid-19. O uso passou a ser feito somente pelo desejo dos pacientes. A médica informou que a secretaria de saúde possui os kits de remédios e estão a disposição da população quando alguém é diagnosticado, caso o paciente se sinta mais seguro ao tomar estas drogas.
Segundo relatou a médica, a maioria das pessoas atendidas confia na metodologia de trabalho adotado e a mudança no protocolo já gerou resultados positivos, diminuiu o fluxo de pacientes com problemas causados pela intoxicação ou efeitos colaterais destes medicamentos.
E por fim, alerta a população sobre a guerra de informações a que todos estão submetidos. Falsas notícias ou notícias distorcidas são usadas com finalidades políticas, para obter benefícios com o discurso popular, de fácil aceitação, pois todos querem um remédio que cure. Mas, por enquanto, somente a vacina pode amenizar a situação diante de uma pandemia sem precedentes, usar questões de saúde pública para obter vantagens políticas é um ato grave.
Todo paciente internado pelo SUS passa pela UPA, já são nove meses de atendimento diário e são estes profissionais que fazem todo o encaminhamento, lá são realizadas as coletas para os testes, os aconselhamentos de retorno ao centro de atendimento em caso de agravamento, orientações para manter o isolamento social, entre outras que estão relacionadas a este momento de exceção que Santo Ângelo e o mundo vivencia.
Edição | Marcos Demeneghi