O município de Vitória das Missões encomenda um registro fotográfico do trecho do Rio Ijuí, localizado na divisa com Santo Ângelo, que permite a travessia a pé entre uma margem e outra. Estima-se que a passarela organizada com pedras facilitava as rotas comerciais no tempo das Missões Jesuíticas e indica um local histórico e cercado de lendas
Mais um tipo de passarela rústica usada pelos povos originários da América é evidenciado no Rio Ijuí por conta de um período de escassez de chuva. Esse é um dos principais afluentes que compõem a Bacia do Rio Uruguai e banha vários municípios gaúchos, entre eles, Vitória das Missões e Santo Ângelo. O local foi fotografado nesta semana a pedido da Administração Municipal de Vitória das Missões e fica em área rural, entre as localidades de Rincão dos Paulus (Vitória) e Linha Sabiá (S. Ângelo).
Segundo Ênio Carvalho que trabalha na administração direta do município de Vitória das Missões, está sendo elaborado o projeto “Observatório Natural das Missões” que pretende identificar e resgatar informações sobre a fauna e flora do lugar, mas também, fatos históricos que remetem aos primeiros habitantes da região. Por conta disso imagens aéreas foram feitas para identificar este local que é cercado de histórias e lendas.
Neste ponto do rio é possível passar de uma margem a outra a pé, estima-se que permitia a passagem de tropas de animais e chegou a constituir uma importante rede de estradas usadas em rotas comerciais efetivadas na época das reduções Jesuíticas, inclusive que tenha intervenção humana em sua presença neste lugar.
Relatos históricos conhecidos indicam que os jesuítas aportaram no Brasil em 1549, no Peru chegaram em 1567, no México em 1572 e na Nova França em 1611, mas o sistema missioneiro levou várias décadas para se estruturar e consolidar. Entre os anos de 1626 e 1706 organizou-se no que hoje é o território do Rio Grande do Sul, sete povoados com grande potencial produtivo, isso foi possível por conta de um tempo de paz e união entre guaranis e os missionários espanhóis, padres em missões nesta região. Em toda América foram 30 povoados onde habitavam de cinco a seis mil indígenas. Desenvolveu-se a produção agrícola, pecuária e até industrial, estas estradas ligavam seus povoados e eram consideradas estratégicas para o escoamento da produção primária.
Uma das ações do projeto que instaura o “Observatório Natural das Missões” é a implantação de uma placa informativa no lugar onde está essa passarela. A ideia da Administração Municipal é realizar o resgate de fatos que permitem contextualizar sobre as origens históricas da região.
Evanir Liberalesso é proprietárias de terras que estão nas proximidades, ela explica que os moradores preservavam as pedras no lugar. Sempre que a força da água levava parte delas, a comunidade, em esforço coletivo, tentava recolocar as pedras.
Álvaro Theisen protagoniza a iniciativa chamada “Grande Projeto Missões” neste trabalho acompanha relatos históricos e documentos e acredita que essa passarela integrava os caminhos missioneiros que formava a rede entre a redução de São João Batista encaminhando para os ervais do Ihacorá, como um caminho que permitia andar sem passar por mais nenhum rio ou riacho, somente o Rio Ijui.
Um dos historiadores Missioneiros, José Roberto Oliveira, lembra que esse lugar pertenceria a Redução de Santo Ângelo Custódio, que era o maior produtor de erva mate da época. Compreende que este caminho poderia ser uma das vias de escoamento da produção. Segundo o historiador o fato da ponte é apenas uma peça de um grande quebra-cabeça que remonta a história e comprova a organização destes povoados.