O ferro é um material duro, resistente e de baixo custo, por conseguinte, um dos produtos mais usados no mundo. Estas características também permitem que o ferro seja reaproveitado ou reciclado, deste modo, passa a existir uma rede de catadores e pessoas que trabalham com este tipo de material.
As propriedades do ferro inspiram trabalhadores que buscam uma fonte de sobrevivência, acumulam o material para revende-lo ou transforma-lo, contudo, são estes atores sociais que proporcionam cenas como a ilustração fotográfica do “Retrato Cotidiano” de hoje. Este lugar está na Rua Barão de Santo Ângelo, onde uma espécie de serralheiro acumulador ocupa o passeio público e avança para o estacionamento da rua, local onde estoca o material coletado.
Um dos princípios da reciclagem é utilizar algo que não tem mais utilidade, para transformá-lo novamente em um item igual ou sem relação com o anterior, a mesma revolução industrial que caracterizou o século XX e trouxe uma série de benefícios à humanidade, fez dos recicladores agentes fundamentais na destinação eficaz dos bens de consumo descartados.
Acumuladores
No entanto, este modo de vida centrado na produção evidencia contradições e paradoxos de difícil solução. A busca pela sobrevivência pode incentivar a existência de pessoas acumuladoras, que usam a abundância do material descartado em um modo de vida, dependendo de como este trabalho é feito, pode trazer transtornos a saúde física e mental dos acumuladores, bem como situações desagradáveis para os vizinhos.
O Zero Hora publicou uma matéria no ano de 2012 que relata algumas características que identificam os acumuladores:
:: Recolher bens e objetos que a maioria das pessoas joga fora.
:: Viver em condições insalubres e sem organização e não permitir que alguém arrume ou limpe sem sua supervisão.
:: Ser incapaz de usar as divisões da casa para a real finalidade (cozinha para cozinhar, banheiro para tomar banho, quarto para dormir).
:: Ter muitos animais de estimação e não estar a cuidar deles da melhor maneira – transtorno chamado de animal hoarding.
:: Acumular sucatas ou lixo (como embalagens) e amontoá-los em pilhas.
:: Negar que seja um exagero o vício de acumular, ter vergonha do hábito, mas mesmo assim não conseguir controlar o impulso.
“Plano Diretor”
Quanto ao uso do espaço público para guardar o ferro em questão o “Plano Diretor” do município de Santo Ângelo é o instrumento jurídico que regulamenta as questões inerentes a circulação de pedestre pela calçadas e o respectivo uso para outras finalidades, parte desta regulamentação está determinada no Artigos 167, 168 e 169 deste documento.
Art. 167 – “Em hipótese alguma o passeio público poderá ser interrompido (interditado) em 100% de sua largura e extensão, devendo ficar uma faixa livre de 50% para o trânsito dos pedestres, salvo no caso de obras em andamento, conforme o que prevê o Art. 53”.
Art. 168 – É proibido nas calçadas o uso de elementos construtivos sob a forma de degraus, rampas, canaletas para escoamento de água, obstáculos entre outros elementos de urbanização que possam obstruir a continuidade e a circulação de pessoas.
Art. 169 As calçadas devem oferecer:
I – Acessibilidade, assegurando a completa mobilidade dos usuários;
II – Largura adequada, atendendo as dimensões mínimas
III – Fluidez, permitindo aos pedestres andar a uma velocidade constante;
IV – Continuidade, apresentando piso nivelado, resistente e antiderrapante mesmo quando molhado. Este deve ser horizontal, com declividade máxima na menor dimensão de 3% e na maior dimensão de 5% para escoamento de águas pluviais;
V – Segurança, não oferecendo aos pedestres nenhum perigo de queda ou tropeço.
O responsável pelo lugar em destaque nesta matéria já foi notificado pelo poder público e visitado pela fiscalização, que exigiu providências para que os referidos artigos sejam cumpridos.
Texto e edição | Marcos Demeneghi