Os desafios de cuidar de um cavalo na zona urbana

A ONG Pé de Pano é responsável atualmente por 20 animais em sua sede e 15 em lares temporários. Eles resgatam e cuidam de cavalos que sofrem maus-tratos.

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Em um período de sete dias, três óbitos de cavalos foram registrados em Santo Ângelo, um deles causado por acidente no dia 17 de agosto próximo ao trevo de acesso do Parque de Exposições Siegfried Ritter, outro acidente ocorreu perto do Instituto Federal Farroupilha, e o terceiro caso, um cavalo foi abandonado em estado crítico e não resistiu. Estes episódios são os mais difíceis para a ONG Pé de Pano – SOS Cavalo, que age para ajudar estes animais e faz um trabalho de socorro, mas também, ações preventivas.

Pé de Pano
A ONG Pé de Pano – SOS Cavalo completa neste mês de agosto quatro anos de atuação em Santo Ângelo. Voluntáriamente os integrantes da ONG resgatam e cuidam de cavalos que sofrem maus tratos ou que são encontrados com ferimentos causados por acidentes de trânsito.
A Pé de Pano já atendeu mais de 300 cavalos em quatro anos de trabalho, atualmente estão disponíveis para adoção 20 cavalos na sede da ONG e 15 em lares temporários. “É um processo de fiel depositário, pois, o animal continua na Pé de Pano, e a pessoa se torna tutor dele, ela tem todos os cuidados com os gastos e alimentação. Temos requisitos para a adoção dos animais, é feito um termo registrado em cartório, é um processo rigoroso”, explicou.

SOS
De acordo com a presidente da ONG, Ana Carolina Morais, o trabalho para resgatar é complexo, pois, diferente de animais de pequeno porte, que muitas vezes estão abandonados na rua, à maioria dos cavalos estão em posse de seus proprietários, mas passam por algum tipo de maus-tratos, então é necessária a retirada desse animal do tutor. Os resgates são realizados com o apoio da Brigada Militar e Polícia Ambiental.
Quando o animal vem a óbito, o Governo Municipal por meio das secretarias de Agricultura e Meio Ambiente apoia as ações e faz o recolhimento e enterro do cavalo, tanto em atropelamentos ou em propriedades rurais.
Opinião da presidente
Na opinião da presidente da ONG Ana Carolina, um dos fatores causadores de óbitos está relacionado a utilização do cavalo no transporte de carga com tração animal. Ela relata que existem casos recorrentes de maus-tratos, no qual, a ONG com o apoio da Brigada Militar resgata o animal que está em situação de risco, e dias após o dono adquire um novo cavalo para o mesmo trabalho. Normalmente é de recolhimento de materiais para reciclagem.
Ana Carolina afirma que “a única forma de solucionar esse problema é proibindo a tração animal, nós já recolhemos cinco animais da mesma pessoa, dois vieram a óbito, passa um tempo, e ela compra outro cavalo e se torna um ciclo vicioso, o problema não acaba. A solução seria encontrar outra forma de trabalho ou com o cavalo de lata, que é um carrinho coletor, ou então, como foi feito em Porto Alegre, ofertar cursos profissionalizantes para que essas pessoas possam trabalhar em outro ramo, com a carteira assinada”, disse a ativista.
A ONG Pé de Pano – SOS Cavalo recebe apoio do Governo Municipal por meio de uma ajuda de custo, a presidente explica que o valor é pequeno, mas consegue auxiliá-los, porém, não exclui a necessidade da realização de campanhas solidárias e o recebimento de doações da sociedade.
Para divulgar o trabalho realizado pela ONG, ela conta com uma página no Facebook com mais de 9.600 seguidores, atualizada regularmente com fotos e vídeos dos atendimentos e resgates feitos. Muitas vezes as imagens são fortes, pois, mostram a realidade vivenciada pelos animais que sofrem os maus-tratos.
“Infelizmente se faz necessário mostrar essas fotos fortes por uma questão pedagógica, porque como as pessoas vão colaborar com o trabalho da ONG se elas não têm noção do que acontece? Seria muito fácil postar uma foto bonita dos cavalos, mas a pessoas não iriam se comover com isso, e a realidade também não é essa. A realidade é muito triste e preocupante, se a gente não divulgar as pessoas não vão ter noção, se elas não souberem não irão ajudar e nem se mobilizar para solucionar o problema”, explicou Ana.

A relação de Hermelindo e a égua Boneca
Ao mesmo tempo em que existem proprietários que não cuidam de forma correta de seus animais, ainda podemos conhecer exemplos de quem faz o contrário disso.
Hermelindo tem uma carroça e, dentro dela, uma cadeira rodas. Este santo-angelense depende destes fatores para se locomover, pois ele tem uma deficiência física que o impede de caminhar. Morador do Bairro Indubras, na tarde de quarta-feira, dia 21, levou a égua “Boneca” para pastar no acostamento da ERS 218.
A relação de Hermelindo e a égua Boneca é bem estreita, um exemplo peculiar de como os moradores urbanos ainda valorizam ou necessitam dos animais para atividades cotidianas. Ele fala com carinho da potra, filha da Boneca e também enumera os cuidados que tem com os animais que possui.
Ele fica até três horas monitorando a égua Boneca por meio de uma guia, para que o animal paste no acostamento da Rodovia ERS 218, sem causar nenhum acidente. O local é bem próximo de onde aconteceu um acidente envolvendo uma carroça e um automóvel, neste mês. O choque foi ao anoitecer e um cavalo morreu naquele episódio.
Hermelindo lembra que a quantidade de grama que a Boneca pasta no acostamento não é o suficiente para alimentar corretamente o animal, ele também usa aveia crioula e outros cereais que compra para alimentar a égua.
Outro cuidado que ele menciona são as ferraduras, ele explica que isso também gera despesa, pois a cada dois meses é necessário realizar a manutenção no ferrador. “Não é barato ter um cavalo”, explica Hermelindo, que se dedica para manter sua relação com a Boneca e sua filha.

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