O Auditório Azul do IESA ficou lotado na quarta-feira, dia 28, para a abertura da 22ª Semana Acadêmica do Direito – que, nesta edição, trouxe como tema as “Pautas do Direito Penal debatidas pela mídia e pelo senso comum”. O evento seguiu até a sexta-feira, dia 30, com convidados, profissionais reconhecidos na área, a exemplo do advogado Bráulio Marques, conselheiro do Conselho Superior de Polícia do Estado, e de seu filho, Jader Marques, doutor em Direito conhecido pela atuação em dois polêmicos casos: na defesa de um dos sócios da Boate Kiss, Elissandro Spohr, e por ter sido um dos advogados de Leandro Boldrini, acusado de assassinar o menino Bernardo.
Contando com 388 júris no currículo, Bráulio destacou que perdemos a capacidade de ouvir e ver. Com o desafio de explanar o tema “Mídia e criminalidade: um produto chamado crime”, o palestrante buscou mostrar a influência que a mídia exerce sobre a sociedade e a incapacidade que temos de discernir o que é certo e o que é errado. “A mídia não só informa, como deforma”, disse. “Ficamos reféns dos gatekeepers, que selecionam o que devemos e não devemos saber, e quanto de determinado assunto precisamos conhecer.”
Conforme destacou Bráulio, para a mídia, as ações criminais têm um valor muito alto. “E para aqueles que não acreditam nessa influência, basta verificar este número – já desatualizado: uma propaganda de 30 segundos durante o seriado Lost chegou a custar 900 mil dólares. Outro dado: somente no País, os Estados gastaram R$ 2 bilhões em propaganda em apenas um ano”. Segundo Bráulio, estes valores acabam determinando o que precisa ser divulgado e o que deve ser ocultado da sociedade, em prol de uma boa relação entre mídia e cliente.
O discurso de Bráulio foi complementado pelo filho, Jader Marques, que trouxe para discussão o tema “Redução da maioridade penal, política de drogas e segurança pública: um elogio à intolerância”. Para o advogado, quanto mais educados somos, menos falamos e menos questionamos – o que nos torna alvos fáceis da mídia. “Falamos em reduzir a maioridade penal, quando o nosso Estatuto da Criança e do Adolescente já determina que, a partir dos 12 anos, nossos jovens sejam colocados na cadeia. A cela é igual a de um adulto. Eles ficam sem ver os pais, sem ter contato com o mundo. A diferença é que eles são obrigados a continuar seus estudos e a se profissionalizar”, explica.
Para Jader, nos tornamos pessoas que desejam o pior para o outro. Que acreditam que trancafiar uma criança é a solução para a violência do País, assim como o desarmamento é um prejuízo para “os homens de bem”. “Precisamos abrir nossa cabeça para a tolerância. Precisamos ser seres humanos. Acredito, inclusive, que a melhor estratégia de estado, após um crime, seria esquecer. E o esquecimento garantiria que muitos seguissem suas vidas, sem serem influenciados, com novas oportunidades.Todos erramos. O que não podemos é tatuar no outro, que cometeu um erro, que ele não pode dar a volta por cima.”
Homenagem
Durante a abertura da Semana Acadêmica, o coordenador do curso de Direito, professor José Lauri Bueno de Jesus, prestou uma homenagem a Bráulio Marques – egresso da Casa e com vasto currículo na área do Direito e na vida pública. Conforme lembrou o homenageado, há 42 anos ele não retornava à Instituição.