Comemorar é recordar, celebrar, festejar. É também trazer à memória, publicamente, alguns acontecimentos que retomam uma história. Com esse espírito de contentamento, no dia 5 de maio de 2011 a escola festejou os 50 anos de sua oficialização, bem como da prática de destacado trabalho educacional em benefício de milhares de pessoas que nela estudaram. A comemoração do Jubileu de Ouro da Escola Técnica Estadual Presidente Getúlio Vargas ultrapassou as solenidades e se constitui num momento privilegiado para refletir sobre o passado e o presente desta instituição, que já ofertou a Educação Infantil e hoje agrega a Educação Especial numa Classe Especial para alunos com Deficiência Intelectual, Sala de Recursos para alunos com Deficiência Auditiva, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Profissional com cursos técnicos em Eletrotécnica e Mecânica Industrial. A escola dispõe de 85 professores, 17 funcionários e acolhe cerca de 1300 alunos. A história da escola envolve alguns fatos que ocorreram na atual região missioneira. Conforme Oliveira (2009) há mais de 10 mil anos viviam nativos neste território que a partir de 1626, quando estas terras pertenciam à Espanha, iniciaram o projeto Jesuítico-Guarani, com a fundação de São Nicolau. Nesta primeira fase fundaram 18 reduções no atual Estado do Rio Grande do Sul. Em 1638 foram expulsos destas reduções para o outro lado do rio Uruguai, onde hoje é Argentina, e retornaram em 1682 com a fundação de São Francisco de Borja, o primeiro dos Sete Povos das Missões. Em 1687 retornam às reduções de São Nicolau e São Miguel Arcanjo e também fundam São Luiz Gonzaga. Em 1690 fundam São Lourenço Mártir e em 1697 fundam São João Batista. Em 1706 é fundado o último dos Sete Povos então denominado Santo Ângelo Custódio. Ao todo foram 30 Povos distribuídos em áreas hoje pertencentes ao Brasil, Argentina e Paraguai. Lugon (1977) escreve que a experiência missioneira foi mundialmente reconhecida, sendo que Voltaire a chamou de “triunfo da humanidade”, Montesquieu a evocou como sendo o “primeiro estado industrial da América” e os jesuítas a definiram como a “realização ideal do cristianismo”. Devido à Guerra Guaranítica, ocorrida de 1754 a 1756, à expulsão dos Jesuítas transcorrida em 1768 e, a passagem do território para o mundo Luso-Brasileiro (1801 e 1828), foram iniciadas as emancipações. São Borja se emancipa em 1833 e, neste local em 19 de abril de 1882 nasce Getúlio Dornelles Vargas que mais tarde, ao ser homenageado, empresta o seu nome para nomear a escola referendada, que tem em sua frente um singelo monumento em sua memória. Santo Ângelo se emancipa somente em 1873 e se desenvolve na área próxima da antiga redução. Do período reducional, onde hoje está edificado o colégio provavelmente houvesse casas de índios ou pequenas lavouras familiares. No período de 1930 até 1945, Vargas ocupou o cargo da Presidência da República. De acordo com o relato do Senhor Léo Petersen Fett, no encerramento da campanha da segunda candidatura que o reconduziu a presidência no período de 1951 a 1954, o então candidato esteve em Santo Ângelo e depois foi a São Borja para acompanhar o pleito. Ele acredita que na ocasião, provavelmente, as lideranças políticas tenham solicitado a criação de uma escola técnica no município. Sua fundação ocorreu no ano de 1961, quando Juscelino Kubitschek era presidente brasileiro e Leonel de Moura Brizola Governador do Estado.
Segundo as informações de Freitas (2005) a escola foi instituída com a função de contribuir com o projeto de desenvolvimento da região que enfrentava dificuldades na exportação do café e na superação da crise na pecuária. Assim foi buscado o adiantamento em várias áreas, sendo que as que mais prosperaram foram as do comércio e da indústria. Devido às emancipações dos distritos de Santo Ângelo, a base econômica, que era a exploração agropastoril, foi vitalizada pelas pequenas indústrias, pelo comércio e pela prestação de serviços. Com a crescente necessidade de mão-de-obra qualificada os cursos técnicos beneficiam até hoje não só nosso Município, mas toda a região. A pesquisa de documentos oficiais revelou que a escola já recebeu várias denominações. Em 1961 foi instituída como Escola Industrial Presidente Getúlio Vargas, que em 1969 foi alterada para Ginásio Industrial. No ano de 1976 foi autorizado o funcionamento do Centro Interescolar Estadual de 1º e 2º Graus para atendimento nas áreas de tecnologia (Técnicas Industriais, Domésticas e Comerciais), Ciências, Educação Artística e Educação Física. Em 1977 é extinto o Ginásio Industrial e aprovado o Centro Interescolar de 1º Grau que continuou atendendo as áreas tecnológicas. Em 1988 o Centro Interescolar Estadual (CIE) foi transformado em Escola Estadual de 1º Grau, que em 1989 foi modificado para Escola Estadual de 1º Grau e 2º Grau. Em 1990 é autorizado o funcionamento do ensino de 2º Grau com as habilitações de técnico em Mecânica e Eletrotécnica. Em 1993 é aprovado o funcionamento da Sala de Recursos para Deficientes Auditivos e em 1996 da Classe Especial para alunos com Deficiência Intelectual. Em 2000 é mudada a designação para Escola Técnica Estadual Presidente Getúlio Vargas permanecendo com este nome até a presente data. Seguindo a filosofia escolar tem-se buscado distinguir a ação educativa para fundamentar uma cultura de interação com as diferenças individuais, qualificação do planejamento e da fundamentação teórica da ação educativa. Para aprimorar o trabalho conta-se com biblioteca, auditório, laboratórios de informática e de Ciências, oficinas, refeitório, galpão crioulo, parquinho e quadras de esportes. Também são oferecidos cursos de dança e de jogos. Há anos luta-se pela conquista de uma área esportiva coberta. De acordo com Teixeira (1997), quando se educa se cresce. E quando se cresce se vive. Desse modo ele conclui que educação é vida no sentido mais autêntico da palavra. De fato se cresce ao se viver boa parte do tempo de nossas vidas na escola em função da tarefa de educar. A educação “invade” a vida da equipe diretiva, dos professores e funcionários, ao se engrandecer pela acolhida dos alunos e a confiança da comunidade regional. Fazer parte deste grupo carinhosamente denominado ”Getúlio” é, com certeza uma alegria e uma honra que foi festejada com muita aprendizagem e alegria. O Cinqüentenário é uma realidade!
*Sílvia Regina de Oliveira (Professora da Educação Especial na área da Deficiência Intelectual; Professora de Filosofia do Ensino Médio).
REFERÊNCIAS:
ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL PRESIDENTE GETÙLIO VARGAS. Documentos Oficiais da Escola do ano de 1961 ao ano de 2011. Santo Ângelo: Secretaria, 2011.
FREITAS. Délcio José Possebon. Et. al. Um olhar sobre os aspectos históricos e geográficos de Santo Ângelo. Santo Ângelo: EDIURI, 2005.
LUGON, Clóvis. A república “comunista” cristã dos guaranis. (1610-1768). 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1977.
OLIVEIRA. José Roberto. Pedido de perdão a um triunfo da humanidade. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2009.
QUADROS, C. As brizoletas cobrindo o Rio Grande do Sul: a educação pública no Rio Grande do Sul durante o governo de Leonel Brizola: 1959-1963. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2003.
SUAPESQUISA. Presidentes do Brasil. Obtido em http://www.suapesquisa.com/presidentesdobrasil Acessado em 26 abr. 2011.
TEIXEIRA, Anísio. Educação para a democracia: introdução à administração educacional. 2ªed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.