Foi de um simples boato que surgiu o cinema com a maior tela do Estado do Rio Grande do Sul. Na década de 1950, rumores no meio social davam a dica de que empresas paulistas se instalariam no município e possuíam o objetivo de construir um Cine Hotel. Como já havia o Cine Theatro Municipal, na esquina da rua 25 de Julho com a Marquês do Herval, o qual era arrendado à família Panzenhagen, já concretizava o sonho de fundar o Cinema Cisne em um local com sede própria.
A empresa Cine Missioneira Ltda foi fundada em 1º de maio de 1951 por Carlos Conrado Panzenhagen, quando este realizou a venda de lotes na zona sul da cidade com o propósito de fundar um cinema. A área vendida no passado hoje leva o seu nome no batismo do bairro: São Carlos. De imediato, a empresa utilizou o Cine Theatro Municipal para a exibição de filmes até o término da obra, a qual durou seis anos.
O cinema fundado por Carlos Conrado passou para o filho Hélio e hoje é administrado pelo neto Flávio Panzenhagen. No ato da fundação, em 22 de março de 1958, foi exibido o filme “Viva Las Vegas”, com ingressos vendidos a CR$ 16. As poltronas foram confeccionadas em Ijuí. A capacidade inicial do Cine Cisne foi de 1.500 lugares, tendo 900 poltronas no 1º piso e outras 600 no andar de cima.
Para Flávio Panzenhagen, “o cinema foi um ponto de encontro de amigos, casais e familiares no passado” que, no decorrer dos anos, foi perdendo espaço para a televisão e, consequentemente, videolocadoras e internet. “As dificuldades surgiram com o tempo e a política de distribuição de filmes foi o principal empecilho no permanente sucesso de bilheteria do Cisne, o que proporcionou o desejo de fechar as portas em diversas oportunidades. Isto fez com que a empresa se adequasse às exigências da Ancine e buscasse o apoio da comunidade e da administração municipal”, explicou.
Os primeiros sócios da empresa foram Marcelo Mioso, Fiorino Fantinelli e Carlos Conrado Panzenhagen Filho, posteriormente à sua fundação, e, hoje, conta com a seguinte sociedade: Flávio Antônio Panzenhagen, Jairo Augusto Panzenhagen, Luiz Carlos Panzenhagen, Cláudio Fantinelli e Flávio Fantinelli.
Há dois anos, o cinema Cisne passou a contar com duas salas de exibição. A sala antiga conta com 600 lugares e a atual tem capacidade para 145 pessoas. A nova sala de exibição, sala 2, possui poltronas novas, som sourround, climatização e filmes digitalizados.
Mesmo sendo um dos sobreviventes do interior do Estado, o Cine Cisne já participou de três estreias mundiais em três oportunidades: Homem Aranha 3, Piratas do Caribe e Harry Potter. E após anos de boatos sobre o fechamento do cinema, o final do ano de 2009 e 2010 deram ao Cisne um bom momento. “O filme 2012, com sete semanas em exibição, bateu o recorde do Titanic, que era de cinco semanas em 1998. O Avatar ficou seis semanas em exibição, e o filme Lua Nova conseguiu cinco. Todos com lotação máxima. Na época do lançamento mundial do Homem Aranha 3, ficamos entre as dez maiores bilheterias do país, no primeiro final de semana do lançamento”, revela Flávio.
Um dos pontos curiosos do Cine Cisne foi a presença do ator Paulo Autran, em 1979, com a apresentação de um monólogo. Além da presença do Cinema há 53 anos em Santo Ângelo, a família Panzenhagen ainda administra o Cine Lux, há 71 anos, em São Luiz Gonzaga/RS, sob a direção de Luiz Carlos Panzenhagen.
Futuro do Cine Cisne- Segundo o proprietário do cinema Cisne, Flávio Panzenhagen, as dificuldades foram muitas, os obstáculos foram constantes, mas aos poucos foram e estão sendo vencidos. “Foram e continuam sendo muitas as dificuldades. No início dos anos de 1980 com o surgimento do vídeo cassete, os cinemas perderam a exclusividade dos filmes, pois as pessoas descobriram o ‘cinema em casa’ reduzindo drasticamente o público das salas dos cinemas, entrando aí os novos formatos de sala de projeção no Brasil, salas pequenas e mais confortáveis. Os cinemas de interior por essa exigência dos frequentadores, por poltronas mais confortáveis, som melhor e outras tantas, fecharam suas portas pela falta de poder econômico dos seus proprietários, já que o investimento era muito alto para o retorno lento que o negócio proporciona, alguns conseguiram se manter como foi no nosso caso e outros desistiram e essas cidades perderam os seus cinemas, e quando se fecha um cinema, é muito complicado reabrir, o melhor a ser feito é lutar para não fechar”, conta.
Os planos para o futuro do cinema Cisne em Santo Ângelo estão bem definidos e consolidados, sendo tudo muito bem planejado. “Planos temos muitos, mas precisamos ter os pés no chão, pois trabalhar com cinema exige muito cuidado. Nosso objetivo imediato é reformar a sala um, reduzir de tamanho, colocar poltronas confortáveis e ampliar a cafeteria”, explica Flavio Panzenhagen.
O proprietário traz um legado de família. O amor pela sétima arte foi fundamental para a decisão de manter este ícone histórico que é o tradicional Cinema Cisne aberto. “É muita responsabilidade estar à frente de um cinema com o nome e história como o Cisne. Existiu um sonho quando fizeram o cinema, existiu um objetivo perante todo o município e região, então, seguir este trabalho, exige muito mais que determinação, é preciso ter respeito e coragem, pois o Cisne está no coração de Santo Ângelo, é um cartão de visitas para as pessoas que aqui chegam”, revela.