Um livre pensador

Mário Correia foi escravo e ao mesmo tempo, filho adotivo do Coronel Tupi Portinho, ganhou liberdade aos 19 anos e se tornou um livre pensador.

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Um monumento em homenagem a Mário Correia pode ser visto na Rua Antunes Ribas. Esta estátua revela traços detalhados da fisionomia, bem como, características culturais da terceira fase da vida deste homem. Ele é retratado com um livro, chimarrão e bombacha.
Uma placa identifica o dia do nascimento, 10 de maio de 1884 e também da morte, 2 de fevereiro de 1970.
Nas décadas de 50 e 60 se reunia com simpatizantes, entre eles, o militar da reserva, José Delfino do Nascimento, juntos, organizavam caravanas em carroças e charretes e faziam incursões no interior do município, ou onde as pessoas requisitassem, para difundir suas ideias de fé e espiritualidade.
Mário Correia se intitulava cristão e tinha Jesus como modelo a ser seguido. Também acreditava na possibilidade da comunicação com espíritos (pessoas já falecidas) e, nesta visão de mundo, todas as implicações que o fenômeno demandava.
Foi neste propósito que sua obra se organizou. Chegou a formalizar uma Sociedade Espírita, onde mantinha um albergue para as pessoas que buscavam alívio a problemas sem explicação na medicina, segundo os adeptos deste conhecimento, seriam efeitos da mediunidade ou de processos obsessivos provocados pela influenciação dos espíritos. A sociedade espírita criada por este filho de escravos ainda existe, justamente onde o monumento está posto. Sociedade Espírita Paz e Guia.
Regina Sá é neta do Sr. Mário Correia, durante muitos anos ela guardava uma carta crônica deixada por seu avô, foi editada no ano de 1955. Regina conta que Mário Correia tinha um filho adotivo, chamado Norival Pinto, (Pai da Regina).
A neta lembra que nesta sociedade criada pelo avô, além dos quartos mantidos para acolher as pessoas em tratamento, era realizada anualmente uma festa em honra a São Sebastião, chamada festa dos inocentes, que reunia centenas de crianças.

Carta crônica de Mário Correia – 17 de novembro de 1955

Quero mostrar a minha crônica como negro ignorante, filho da negra Norata Peres, escrava do Brigadeiro Portinho, grande homem conhecido na história do país Brasileiro, como grande chefe guerreiro na guerra contra a nação paraguaia.
Sou que sou filho da preta velha, meu pai eu ignoro. Fui escravo e ao mesmo tempo, filho adotivo do Coronel Tupi Portinho e sua escrava Dona Manoelinha Barbosa Portinho. Na idade de 19 anos pedi a minha liberdade, e por ambos não foi negada,
Fui analfabeto na letra. Morto material, fui cantor nas grutas, nas aldeias, nas vilas e também lá nas cidades. Fui negro de respeito e também abusador, fui bebedor, jogador e peleador de marca touro, domador de potro e de mula, tive de profissão bota de meio pé, chinelo grande nos garrões, boleadeira e laço na garupa, buçal e rédea na mão, vivia de tropeiro nas estâncias, comendo churrasco gordo, cigarro grande nos queixos, e o meu belo chimarrão. Onze anos na orgia foi o meu colégio.
Praticando o bem e o mal, achei a luz nas trevas para cultivar a minha moral. Com 30 anos de idade, sonhei com três palavras descidas do céu a terra, dizendo ser de Jesus, e Maria, e José em espírito de verdade: Tu tens que ser um sábio fazendo as tuas pesquisas, como livre pensador, tendo como luz e guia os espíritos redentores.
Ainda não sou bem educado, sou um escravo de mandato, mas, tenho que dar este recado. Em lugares sou bem aceito e em outros, grande desprezado. Em lugares sou livre e em outros escravizado. Tive que deixar de amar para não viver apaixonado, porque pude compreender que tinha que deixar de amar, para deixar de odiar.
Meus irmãos e amigos, minhas irmãs e amigas, nessa luta de vitória, querem achar Mário Correia, procurem dentro das trevas, nem no céu e nem na glória, me procure nas matas, nas grutas e nos miolos do sertão, aprendendo a ser humilde e também dar o perdão, vivo orando como fera dentro do meu coração.
Assina o Professor espírita O Sr. Mário Correia

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3 comentários

  1. Junior Responder

    Boa noite, sou de Roque Gonzales e aqui há vários centros criados após a visita do Sr. Mario. Poderia informar o endereço dessa estátua? Obrigado.

    1. Redação JOM Responder

      Fica na Rua Antunes Ribas, nº 2344, Centro da cidade, uma quadra e meia depois da Padaria Paladar, no sentido sul/norte.

      1. Junior Responder

        Obrigado