“O Sagrado separa o essencial do inútil, ilumina e desimpede o caminho, dissipa as miragens e as brumas. Só a oferenda faz a harmonia celeste penetrar na sociedade humana.” Sesóstris III, faraó da XII Dinastia
Um governante deveria ser sábio, apenas isso, independentemente de dominar alguma especialidade. Pois em sendo sábio, sua qualificação seria sobrada para escolher seus assessores, então haveria justiça social durante seu governo. O povo nunca seria perquirido sobre isso, ou aquilo. Afinal, quando o povo vive num estado de real satisfação, a alegria campeia sem indagações.
E, além do mais, um sábio não se deixaria influenciar na escolha dos seus assessores. E, estes, uma vez escolhidos, não ousariam jamais, por em risco sua reputação e sua autoridade, pois todos pertenceriam – juntamente com a pessoa do governante a um “clube” restrito de homens e mulheres seletos, a que seriam “iniciados” por qualidades morais e culturais fora do comum.
Quando você descobre que, vinte séculos antes da era cristã, um governante detinha conceitos que, ainda hoje, muitos dos nossos governantes desconhecem, você tem a “pesada” sensação de que a humanidade está andando para trás, isto é, moral e espiritualmente se desculturando. Isto pode ser terrificante quando sabemos que esse governante lidera sobre alguns milhões de almas. Então é fácil imaginar que povo e governo são esses.
Quando o povo vive nas trevas e seus governantes no esplendor do seu efêmero “reinado”, há um cruel descompasso entre um e outro. Temos – na condição de povo – uma visão embaçada do nosso futuro, pois não vislumbramos um “oásis” que nos refrigere o corpo e a alma, então temos a nítida sensação de vivermos o niilismo e estarmos perdendo nosso tempo, como almas em evolução.
No entanto, a Mente Cósmica perscruta muito além dos montes e das brumas do tempo, antevendo, a tudo e todos, o grande martírio a que deveriam se sujeitar suas criaturas, atravessando os umbrais das trevas na busca da luz.
E se o contrário fosse, qualquer um de nós faria o que fez Adão, pois a angelitude como paradigma, seria uma conquista inglória, que não enobrece a ninguém.
Então, quando vemos mendigos, ou uma comunidade perecendo, na verdade são vidas sendo imoladas na pira da flagelação e da dor, ao que se dá o nome de oferenda. E o que é uma oferenda se não o que de mais sagrado temos e que, solenemente, ofertamos aos nossos deuses! E isto, nem sempre o fazemos conscientemente, mas mesmo assim, não deixa de ser uma oferenda – algo sagrado pelo rito e objeto. – Aqui, acontece então o sacrifício da separação – o essencial do inútil. É a grande crucificação. Talvez não percebamos isto, por não termos visão do amanhã que transcende a matéria, e nem sensibilidade para a oportunidade presente, em que vivemos alheatoriamente, em egóicas e intermináveis disputas.