Sábado 06/08/2011

EspaçoEste espaço geralmente é destinado ao esporte, mais precisamente ao futebol. Hoje resolvi abrir uma exceção, sair um pouco da rotina. Poderia tranquilamente nestas linhas demonstrar todo o...

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Espaço
Este espaço geralmente é destinado ao esporte, mais precisamente ao futebol. Hoje resolvi abrir uma exceção, sair um pouco da rotina. Poderia tranquilamente nestas linhas demonstrar todo o meu descontentamento com o desempenho de meu time ou comentar a má fase de nosso maior rival, mas, expecionalmente hoje não me sinto a vontade para isso.
Esta semana, mais precisamente na terça-feira, recebi um telefonema de uma pessoa que eu não conhecia. Não identifiquei o número, mesmo assim atendi. Do outro lado da linha, pude perceber toda a aflição desta pessoa. Ele mal podia falar de tão abalado que estava. No início, acreditei que poderia ser uma brincadeira dos meus inúmeros amigos sacanas que adoram uma diversão. Mas não era, infelizmente.
Tratava-se de um ser humano desesperado, desiludido, aterrorizado. Antes que eu pudesse indagá-lo de como chegou a mim, o angustiado senhor começou a contar a sua deprimente história: Hoje sou um homem acabado, sem forças e totalmente incapaz de resolver um problema sério que me atormenta diariamente. Meu filho, meu querido filho, era um moço bonito, saudável, atencioso, cheio de planos e hoje é mais um refém das drogas. A alegria que reinava em nossos lares deu lugar a uma imensa escuridão. De uma hora para outra, tudo virou trevas em nossa família. Nosso garoto tem apenas 16 anos e, mesmo com toda esta porcaria ingerida, em seus raros momentos de lucidez noto que restou um pouquinho daquele moleque querido e adorado por uma legião de amigos.  Já tentamos de tudo. Apesar da sua boa vontade de curar-se, o vício dos entorpecentes fala mais alto. Não sei mais o que fazer. Pressinto que estou perdendo meu maior tesouro um pouco a cada dia. Tentei falar algo, qualquer coisa, mas, não saiu nada. Por uns instantes ficamos em silêncio. Ele me perguntou; O senhor ainda está na linha? Sim, sim, sim, respondi quase que por impulso. O senhor deve estar achando estranho eu ter ligado para seu celular. Antes que eu respondesse, o pai do jovem saciou minha curiosidade. O senhor lembra-se da vinda da Taça do Mundial de Clubes a nossa cidade no Clube 28 de Maio em 2008? Pois, é, estávamos lá, felizes e orgulhosos. Havia seguranças protegendo a relíquia colorada. Estávamos com dificuldades para tirar uma foto de recordação. Até o senhor intervir. Pediu licença aos seguranças e finalmente pudemos tocá-la e registrar o fato. Lembro disso como se fosse hoje. Havia uma maleta preta em cima da mesa. Minutos depois a taça foi guardada nessa maleta.
Meu filho ainda lhe disse: Não ganhamos nenhum brinde. O senhor fitou meu menino na época com 12 anos e pediu para ele esperar um pouco. Minutos depois, o senhor retornou com uma camiseta branca, não era oficial, mas, era bonita. Afagou seus cabelos e disse, espero que te sirva. Vocês trocaram um breve abraço e em seguida o senhor foi chamado por um grupo de pessoas. Queria lhe dizer senhor César, que hoje ele está lúcido e me disse: Pai você lembra-se de como ganhei esta camisa? É linda não? A estas alturas duas lágrimas geladas caiam livremente dos meus olhos. Não contive a emoção e muito menos as lágrimas. Queria saber mais, socorrer, enfim fazer alguma coisa. Propus-me a ajudá-lo. O pai disse que fariam uma nova tentativa em uma clínica de recuperação da capital. Pediu-me para relatar este fato na coluna e orar, assim mais pessoas aderiam à oração, minha última esperança! Despedimos-nos e no anseio não perguntei seu nome.
Isto me tocou profundamente. Por mais que me esforce, não consigo lembrar-me do menino. Procurei nas inúmeras fotos e nada.
E o que me irrita é que tenho uma boa memória. Bom isso pouco importa. O que realmente importa é que este garoto consiga vencer esta batalha e vai vencer com ajuda de Deus e de seus pais!

•Um ótimo e abençoado final de semana!

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