Fumaça causou disparada na concentração de monóxido de carbono e aerossóis no ar do RS, apontam pesquisadores

Grupo analisou a presença dos dois poluentes no Estado antes e depois da crise climática.

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Renan Mattos / Agencia RBS
Capital vive dias de céu encoberto pela fumaça dos incêndios florestais.Renan Mattos / Agencia RBS

A fumaça das queimadas causou registros atípicos de poluição no Rio Grande do Sul nesta semana. A conclusão é de um grupo de pesquisa da Atitus Educação, que utilizou dados do satélite Sentinel-5P, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).

O monitoramento espacial é uma opção para enfrentar a lacuna de dados da qualidade do ar no Estado, que tem cinco estações de medição ativas, número considerado insuficiente por estudiosos.

Na quarta-feira (11), o grupo verificou que a maior parte do Estado registrou uma disparada na presença de monóxido de carbono (CO) e aerossóis (veja a comparação no mapa abaixo). O aumento dos dois poluentes está associado à piora na qualidade do ar.

O levantamento considera apenas regiões do RS e não há detalhes por municípios. Na avaliação, os pesquisadores analisaram “manchas” do Norte, da Serra e da Região Metropolitana.

Da presença de monóxido de carbono, o resultado obtido em 11 de agosto – quando não havia fumaça das queimadas – foi de 0,028mol/m². Na quarta, subiu para 0,175mol/m², o que significa seis vezes mais (ou 525%) na comparação entre os dois períodos.

O índice de aerossóis (micropartículas) na atmosfera passou de 0,77 em agosto para 5,81 na quarta-feira, uma diferença sete vezes maior (ou 654,55% acima) do que um mês antes.

Esses foram os maiores valores encontrados na série histórica de cinco anos de dados do satélite.

— Monitoramos CO e aerossóis porque são os que mais se acentuam durante as queimadas. Em todos esses anos de pesquisa, não vi nada parecido, nem nos piores momentos em São Paulo e Rio de Janeiro. É uma situação preocupante — diz Alcindo Neckel, responsável pela pesquisa e professor da Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Atitus Educação.

Segundo o pesquisador, a dinâmica dos poluentes muda conforme a região. A concentração de monóxido de carbono foi menor em pontos da Campanha e Sul na quarta. Na medição de aerossóis, municípios da Região Metropolitana, Centro, Missões, Norte e Noroeste foram os com os resultados mais altos (vermelho) no mesmo dia.

O levantamento teve a participação de outros pesquisadores: Guilherme Peterle Schmitz e Luana Pasquetti, bolsistas do mestrado em Arquitetura e Urbanismo na Atitus.

Alcindo Neckel/ESA / Reprodução
Comparação entre 11 de agosto (mapas inferiores) e 11 de setembro (acima); na escala, quanto mais vermelho, mais poluição foi detectada.Alcindo Neckel/ESA / Reprodução

Prejuízo à saúde

As partículas geradas pelas queimadas florestais prejudicam o sistema respiratório: pode ocorrer irritação ou inflamação das vias aéreas superiores e inferiores, segundo Adalberto Rubin, chefe do serviço de pneumologia da Santa Casa de Porto Alegre.

— O excesso de monóxido de carbono interfere na absorção do oxigênio, o que torna mais difícil o trabalho do pulmão. Esse aumento repentino (da poluição) não é comum, e pode trazer desconforto para a população, principalmente para idosos ou pessoas com doenças respiratórias prévias — pontua.

O cenário fez a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Porto Alegre divulgar orientações para a população se proteger do efeito da fumaça. Cuidado com a hidratação, ficar menos tempo em ambiente aberto e manter portas e janelas fechadas estão entre elas.

— Para a maioria das pessoas, a situação não significa risco à vida ou de internação. Isso depende da quantidade do material que está no ar, do tempo de exposição mais longo e das condições prévias do aparelho respiratório — acrescenta a pneumologia.

O que diz o governo do RS

Responsável pelo monitoramento da qualidade do ar, o governo estadual enviou a seguinte nota à reportagem:

A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) informa que Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) está em constante monitoramento da qualidade do ar na Região Metropolitana. Apenas a estação de Triunfo apresentou qualidade ruim nos dias 15 e 16 de agosto e, recentemente, nos dias 10 e 11 de setembro. A mesma estação avaliou a qualidade do ar como Moderada de 4 a 9 de setembro. As demais estações localizadas na Região Metropolitana apresentam a qualidade do ar como boa ou moderada nos últimos 30 dias, conforme Resolução CONAMA Nº 506/2024.

Fonte: VINICIUS COIMBRA GZH
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