Pedra mó é identificada a cerca de 60 metros da cascata do Itaquarinchim no Bairro Kurtz em Santo Ângelo, próxima do local onde era o porão de um antigo moinho movido pelas nostálgicas rodas d’água. Pertenceu à família de Rudolfo Reinoldo Pydd, era edificado em madeira e funcionou nas décadas de 50,60 e 70. No ano de 1978 foi adquirido por Osvaldo Funghetto que anos depois construiu outro moinho e operou até o ano de 2012 com sistemas mais modernos, usando turbina movida com a força da água e polias metálica para moer os grãos de cereais
Osvaldo Funghetto acredita que a outra metade desta pedra esteja soterrada nas imediações e faça parte dos conjuntos de pedras do moinho que ele adquiriu no ano de 1978 e utilizou por 15 anos, antes de adotar outro sistema de moagem feito por meio de cilindros metálicos.
Funghetto disse que o sistema possuía dois conjuntos de pedras mó, um era usado para moer milho e outro para moer trigo. As pedras de moer milho, ele doou para pequenos agricultores de Eugênio de Castro e a pedra, companheira da que foi encontrada no mato, foi doada para um morador da cidade, que a transformou em apoio para as plantas de seu jardim.
O moinho antigo da família Pydd possuía um sistema composto por uma bica suspensa feita em madeira e as tradicionais rodas d’água que moviam os mecanismos de moer com as pedras mó. Assim confirma uma das filhas de Rudolfo, Doris Pydd Libert, 77 anos que ainda mora em Santo Ângelo. Ela conta que o pai também adquiriu um cilindro para moer o trigo e nesta época, se formavam filas de carroças para esperar o beneficiamento dos grãos.
Doris contou ainda que sua família adquiriu o moinho no início década de 50, mais ou menos, no ano da realização da primeira Fenamilho (1954).
Antes disso, no início da colonização de Santo Ângelo, quando a ocupação portuguesa se estabeleceu depois dos conflitos que cercam a história missioneira, as terras onde o Itaquarinchim forma a cascata pertenceram ao Coronel Bráulio Oliveira, que foi intendente de Santo Ângelo entre os anos de 1900 e 1916. Quando já existia naquele lugar um engenho, conforme relata o pesquisador Darlan Machi.
Sobre este tema Marchi divulgou no ano de 2010 no blog “Santo Ângelo em Fatos e Fotos” o seguinte resumo de suas investigações: “A cascata do Itaquarinchim hoje localizada na zona urbana da cidade, estava dentro da porção de terras que pertencia ao coronel Bráulio de Oliveira, que foi intendente do município de 1900 à 1916. Na obra “O Rio Grande do Sul”, Alfredo R. da Costa fez um detalhado levantamento da infra-estrutura, recursos, geografia e história dos municípios do estado no ano de 1922. Em seus registros sobre a Santo Ângelo da época encontramos o seguinte trecho: ‘Coronel Bráulio possúe, também, uma linda cascata no arroio Itaquaranxim, situada a 1.000 metros distante da villa de Santo Ângelo. Junto à referida cascata, que poderá servir para exploração de qualquer industria, possúe o coronel Bráulio Oliveira um engenho para beneficiar arroz e moinho para milho movido a água’. ”
O antigo moinho
A foto guardada por Doris Pydd Libert mostra a construção do antigo moinho da Família de Rudolfo Reinold Pydd. Segundo investigação realizada no cartório de registro de imóveis de Santo Ângelo, descobrimos que a compra foi formalizada no ano de 1953.
Nos registros fotográficos é possível observar a bica que alimentava uma roda d’água e o processo de edificação do moinho de madeira narrado por Dóris.
A mulher de branco que aparece na foto é Giselda Pydd, filha mais velha do casal Rudolfo e Herdwig Pydd (Herdwig veio da alemanha com 13 anos de idade)
Antes da Família Pydd foram proprietários da área denominada Cascata, Arroio Itaquarinchim: Guilherme Kurz (1952), João Wontobel (1945) e Família Reis(1945), Por fim, o primeiro proprietário que se tem registro é de 1944, Carlota Reis.
As pesquisas indicaram também que as áreas lindeiras (vizinhas) que pertenceram ao Intendente Cel. Bráulio Oliveira, formalmente não faziam parte da área denominada Cascata, Arroio Itaquarinchin, embora registros literários mencionem o Coronel Braúlio Oliveira como proprietário deste lugar. A narrativa encontra razão, pelas terras serem vizinhas da propriedade onde a história dos moínhos se desenvolveu posteriormente. Este conteúdo contou com a colaboração de Márcia Posai, neta de Rudolfo.
Reportagem e edição | Marcos Demeneghi
A consciência histórica de Luciano Cardoso
Uma das pedras mó que já não era usada para fazer farinha no moinho do Sr. Osvaldo Funghetto foi guardada por Luciano Cardoso. Por volta do ano de 2013, ele viu a pedra escorada em um poste próximo das instalações e perguntou ao Funghetto se poderia ficar com ela, prontamente foi cedida.
Luciano mora no Bairro Kurtz, não muito longe da cascata do Itaquarinchim e conta que viu uma das pedras do moinho Funghetto escorada em um poste, ganhou a pedra, mas demorou seis meses para leva-la para casa, pois era muito pesada e precisou de um guindaste para fazer o transporte.
Luciano Cardoso tem um olhar aguçado para perceber este tipo de artefato histórico, não somente ligado aos moinhos e engenhos, pois ele preserva uma série de outros objetos que se constituem registros históricos de nosso modo de vida e dos acontecimentos de sua região.
Possui ainda uma peça de engenho, uma engrenagem usada nos mecanismos de moega movidos a tração animal, relógios de parede antigos, uma arma usada na revolução farroupilha, que ele mesmo restaurou, rodas de carroça, móveis de madeira garimpados com amigos e conhecidos, entre outros que fazem parte da história de sua família e do município de Santo Ângelo.
De algum modo, este morador faz o papel de guardião da história, assim como este pedaço de pedra encontrado no mato, que hoje serviu para reviver e incentivar a pesquisa história que envolve os moinhos hidráulicos que existiram na cascata do Itaquarinchim.
Resta saber se em tempos mais antigos, como no período jesuítico, este lugar também não foi usado com a finalidade de moer grãos e mover engenhos.
Edição e reportagem | Marcos Demeneghi
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