A água que não consegue penetrar no solo compactado das lavouras

O solo compactado na zona rural impede, cada vez mais, que a água da chuva penetre nas camadas mais profundas da terra. Nesta edição da série “Água doce”...

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Compactação e adensamento de áreas agrícolas em Santo Ângelo (6) - água doce (Copy)


Texto e edição: Marcos Demeneghi

A terra das Missões está cada vez menos porosa e este não é problema localizado, cientistas da Embrapa estão pesquisando este fenômeno em várias regiões do Brasil. Em Santo Ângelo os técnicos da Emater também detectaram este fenômeno, até o momento foram avaliadas seis propriedades rurais e todas elas apresentaram algum nível de adensamento e compactação. Com o solo nestas condições, a água da chuva escorre superficialmente e não penetra para as camadas mais profundas, precarizando o armazenamento nos lençóis freáticos e causando perda de produtividade nas lavouras.
Segundo o Pesquisador da Embrapa Trigo, José Eloir Denardin, o plantio direto é aplicado em cerca de 70% das lavouras brasileiras, sem, contudo, promover os benefícios esperados. Entre estes benefícios, alguns deles têm relação direta com o tema da série “Água doce”, que é a capacidade que a terra tem de absorver, filtrar e reter a água da chuva, armazenando-a nos lençóis freáticos e emergindo em nascentes perenes, formando riachos e rios límpidos.

Quais as causas?
A compactação é atribuída ao trânsito de máquinas agrícolas e animais, já o adensamento tem relação com a biologia e a química da terra. Mesmo que seja realizado o plantio direto na palha, nem todos os processos do “sistema de plantio direto” são obedecidos pelos produtores locais. Márcia Dezen atua nas Missões, no escritório da Emater de Santo Ângelo e já constatou este problema nas propriedades que visita. Ela explica que o “Sistema de Plantio Direto” exige a rotação de cultura, não somente a alternância entre culturas de verão e inverno.
A agrônoma Márcia Dezem explica que tem observado níveis de compactação e adensamento diferentes em cada propriedade, relatando que este fenômeno depende, desde a utilidade dada para aquela área de terra, que pode ser para pastoreio ou produção de grãos, até o tipo de cultura plantada anualmente e as respectivos cuidados com a rotação de cultura.
Nestas áreas mais adensadas e compactadas são constatadas erosões superficiais, muitas vezes nem percebidas pelos produtores, mas também há casos em que a água da chuva abre sulcos maiores, como as antigas erosões que ocorriam antes da adoção do “Plantio Direto”. Isso ocorre por que a cobertura de palha não é suficiente para reter a água e a camada de terra porosa mais superficial não dá conta do volume de água que vem das nuvens, pois as camadas mais profundas, não absorvem com eficiência a água da chuva.

Compactação e adensamento de áreas agrícolas em Santo Ângelo (7) - água doce (Copy)

Qual a possível solução
Os cientistas da Embrapa e os agrônomos da Emater de Santo Ângelo estão propondo uma ação de recuperação destas áreas, segundo Álvaro Uggeri o problema não é recente e tem impactos econômicos. Recomenda-se logo após a colheita da soja, romper a camada compactada com um subsolador e logo em seguida realizar o plantio de uma cultura de crescimento rápido, pode ser o milho, sorgo ou outra cultura que permita a formação de volume de palha superior e raízes mais abrangentes, profundas e vigorosas, a fim de recuperar a porosidade e estabilidade microbiológica da terra.
Nos termos dos pesquisadores da Embrapa é possível reproduzir o seguinte trecho: “Enquanto a palha protege o solo, as raízes recuperam, constroem ou mantêm a estrutura do solo, agronomicamente almejada. No sistema de plantio direto, enquanto a palha se destaca pela proteção do solo frente à ação da energia cinética da chuva, também ocorre à redução da perda de água do solo por evaporação e à redução da amplitude térmica do solo ao longo do dia, as raízes das plantas se notabilizam como recuperadoras, construtoras ou mantenedoras da estrutura do solo.”

Fluxo da água doce
O adensamento e a compactação do solo não é um problema exclusivamente agronômico de produção agrícola, mas de impacto no ciclo da água e do ecossistema local. Quando o solo apresenta maior cobertura vegetal, seja ela verde ou palha seca, permite que a água da chuva seja melhor aproveitada, isso evita que a água da chuva escorra rapidamente para os rios, levando com sigo terra, produtos químicos e fertilizantes.
Além disso, o solo conservado facilita que a água seja armazenada nos lençóis freáticos e brote em nascentes perenes, dando origem aos riachos e rios. Quando escorre superficialmente, além de sujar o rio, vai embora para o oceano sem o aproveitamento regional, pois, de um modo geral, a única água doce disponível na região é aquela que que vem da chuva.
Leia a afirmativa do pesquisador da Embrapa José Eloir Denardin: “A prática do “plantio direto” no Brasil, por mais de 30 anos, sem a atenção preconizada pelos formalismos estabelecidos para a adoção do “sistema plantio direto”, tem resultado em compactação e/ou no adensamento do solo, com implicações na elevação de riscos e danos à agricultura e com impactos em questões pertinentes à segurança alimentar, à estabilização do produtor na atividade agrícola e à balança comercial do país.”

Confira uma matéria bem interessante… Postada no seguinte link – https://www.facebook.com/100022134193381/posts/621880298559771/

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