Edição e Fotos – Marcos Demeneghi | Jornalista
As políticas e práticas de conservação e valorização dos remanescentes arqueológicos das reduções jesuítico/guaranis de São Miguel Arcanjo, São João Batista, São Lourenço Mártir e São Nicolau foram debatidas sob o tríplice aspecto na visão dos setores público, privado e comunidade. Neste encontro, que ocorreu na Câmara de Vereadores de São Miguel das Missões, os anseios da comunidade e os projetos políticos que envolvem este patrimônio compartilhado e materializado no Parque Nacional das Missões foi debatido na tarde de quinta-feira, dia 14
O Workshop sobre o Parque Histórico Nacional das Missões realizado em São Miguel das Missões na tarde de quinta-feira, dia 15, teve a participação do representante nacional do Iphan, Herbert Moura Rego e de lideranças dos setores público, privado e comunidade dos municípios de Entre-Ijuís, São Miguel das Missões, São Luiz Gonzaga, São Nicolau, entre outros municípios.
A Secretária de Turismo de São Luiz Gonzaga, Luisa Catherine, sugeriu a criação de um fórum permanente reconhecido pelo Iphan e sem vaidades políticas. Questionou a todos sobre o real desejo de engajamento na pauta da conservação e de buscar alternativas para a sustentabilidade econômica do parque. Questionou a vontade política dos representantes dos Municípios das Missões em formar e capacitar um corpo técnico de pessoas não sujeitas a interrupções dos mandatos políticos, formada também por arqueólogos e museólogos. Avalia que o sítio de São Lourenço Mártir precisa de conservação, pesquisa arqueológica e de pessoas que captem recursos para alavancar os projetos. “Temos muito a avançar, mas temos que avançar mais rápido, criar estratégias reais, para que possam ser conservados, ter infraestrutura adequada, para receber visitantes e turistas do mundo todo”, ponderou Catherine.
O prefeito de São Miguel das Missões, José Roberto, defende mais integração entre os municípios das Missões, entre os setores público e privado e acredita que a comunidade deve estar inserida nas ações de turismo regional, principalmente, na prestação de serviços para as pessoas que vêm de outros lugares para visitar a região. O prefeito de São Miguel das Missões defendeu a implantação de um centro de interpretação, no qual o turista poderá conhecer melhor a história das missões e dos sítios que compõem o Parque Nacional das Missões. Ainda mencionou o desejo de avançar em projetos como uma cobertura para o público que assiste ao espetáculo Som e Luz, a criação de uma projeção mapeada que preencheria lacunas (de 28 mim) entre as apresentações do espetáculo. O prefeito alertou sobre a necessidade de elaborar projetos que somem no propósito de avançar na pauta de infraestrutura para o turismo regional.
O historiador José Roberto Oliveira exaltou as questões referentes ao patrimônio intangível. Chamou a atenção para o patrimônio que reside nas histórias de sustentabilidade econômica, desenvolvimento de habilidades dos nativos, nas trocas harmônicas geradas naquele período histórico, explicando que as edificações que impressionam pela grandiosidade são efeito de uma causa maior que foi o encontro dos jesuítas com a cultura guarani. O historiador defende que esse foi o grande legado. Compreende que o cristianismo utópico foi uma realidade nas Missões Jesuíticas e que o eco daquele tempo ainda influencia no jeito de ser dos gaúchos, está na música, no povo que habita as missões, em suas mais singelas expressões cotidianas. “É fundamental que sintamos isso, que não seja um negócio para ganhar voto, dinheiro, mas que seja do nosso dever espiritual. Nós, missionários (desta geração), temos o dever de recontar a história Missioneira, caso contrário, ela poderá se perder no tempo”, concluiu José Roberto Oliveira.
O arqueólogo, professor e historiador Artur Barcelos foi um dos painelistas da tarde, ele acredita que muitas das expectativas da região, em torno dos processos de conservação do patrimônio, seriam melhores equacionadas com a contratação, in loco, de um arqueólogo federal e que os municípios devessem investir na ideia de ter um arqueólogo municipal. Considera que o centro de interpretação seja uma aposta válida para fomentar o acolhimento mais adequado do turista, aliando a valorização do patrimônio histórico e também o cultural.
Herbert Moura Rego relembrou que é graças ao Iphan que o processo de conservação deste patrimônio foi iniciado e a própria história da autarquia está relacionada com a criação e conservação destes sítios nacionais. Foi por meio do Iphan que os processos de conservação foram iniciados e hoje o parque é uma realidade. Garantiu uma interlocução sem ruídos e que o Iphan está disposto a melhorar o diálogo com os municípios, inclusive com a participação neste fórum permanente que pode ser instalado na região. “Foi muito bom ouvir a comunidade neste evento” finalizou Herbert.
Neste evento, o município de São Borja, entregou nas mãos do arqueólogo Herbert Moura Rego o pedido de tombamento do acervo de esculturas jesuítico/guaranis composto por 34 peças. Um documento feito em conjunto com o Instituto Federal Farroupilha que pede a reconsideração deste projeto de tombamento, tendo em vista que, num primeiro momento teve o pedido negado pelo Iphan.
O encontro foi promovido pela Associação dos Municípios das Missões – AMM, Associação dos Legislativos das Missões ALM, Prefeitura de São Miguel das Missões.
O mediador do Workshop foi Álvaro Thaisen, que lidera o Grande Projeto Missões e também é um dos promotores do evento.