Há comunicadores que encontram dificuldade em colocar no lugar certo o pronome pessoal oblíquo “se” na frase. O Correio do Povo [4.11.11, p.12] oferece este exemplo: “Embora os resultados pareçam mostrar uma opinião nacional dividida, o fato de quatro em dez israelenses entrevistados terem declarado-se a favor de um bombardeio contra o Irã é surpreendente.” Em termos de língua padrão, gramatical, correta, o pronome “se” está malposto na locução verbal “terem declarado-se”. Esse pronome, como qualquer outro pronome pessoal oblíquo, não deve ficar depois de particípio. Depois de particípio, de qualquer particípio, não se deve pôr, de jeito algum, o pronome pessoal oblíquo. No caso em tela, a locução verbal com particípio admite que o pronome oblíquo “se” fique antes da forma verbal “terem” ou entre a forma verbal “terem” e o particípio “declarado.” Correto é, portanto, dizer e escrever “o fato de quatro em dez israelenses entrevistados se terem declarado a favor” e também “o fato de quatro em dez israelenses entrevistados terem-se declarado a favor”.
Os nomes próclise, mesóclise e ênclise continuam nas locuções verbais. Estas, uma vez formadas com verbo no infinitivo e no gerúndio, admitem as três colocações antes ditas, ou seja, a próclise, a mesóclise e a ênclise. Sendo assim, o pronome oblíquo pode ficar antes do primeiro verbo [próclise], ou no meio dos dois verbos [mesóclise], ou depois do segundo verbo [ênclise]. A locução verbal formada com verbo no particípio só admite próclise e mesóclise. Não admite, pois, ênclise.
Fecha-se a teoria dessas colocações pronominais com exemplos que têm na locução verbal o infinitivo. Caso de próclise: Quatro em dez israelenses entrevistados se devem declarar a favor de um bombardeio. Caso de mesóclise: Quatro em dez israelenses devem-se declarar a favor de um bombardeio. E caso de ênclise: Quatro em dez israelenses devem declarar-se a favor de um bombardeio. Fecha-se agora essa teoria com exemplos que apresentam na locução verbal o gerúndio. Caso de próclise: Quatro em dez israelenses se vêm declarando a favor de um bombardeio. Caso de mesóclise: Quatro em dez israelenses vêm-se declarando a favor de um bombardeio. E caso de ênclise: Quatro em dez israelenses vêm declarando-se a favor de um bombardeio. E fecha-se essa teoria com exemplos que mostrem na locução verbal o particípio. Caso de próclise: Quatro em dez israelenses se têm declarado a favor de um bombardeio. Caso de mesóclise: Quatro em dez israelenses têm-se declarado a favor de um bombardeio. E caso de ênclise? Não há. Pois não se pode, como já expressado antes, colocar o pronome oblíquo depois de particípio. Convém guardar isto: Nível gramatical da língua portuguesa proíbe ênclise depois de particípio.Mais um detalhe gramatical. Nos casos de mesóclise, o pronome oblíquo pode ficar grudado com o primeiro verbo por meio do hífen – devem-se declarar, vêm-se declarando e têm-se declarado – ou pode ficar desgrudado, solto – devem se declarar, vêm se declarando e têm se declarado. Existem falantes que preferem a forma hifenizada. As duas formas, porém, são gramaticais, corretas. E usáveis.