Santo Ângelo é incluído no mapa gaúcho da Erva Mate

O reconhecimento não está em função da produtividade do município, mas sim, relacionada a fatores históricos e turísticos que apontam para Santo Ângelo como uma central exportadora de...

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Foto: Marcos Demeneghi
Foto: Marcos Demeneghi

Alterações na configuração dos Polos Ervateiros colocaram Santo Ângelo no mapa da Erva Mate do Rio Grande do Sul, no entanto, este reconhecimento não está em função da produtividade do município, mas sim, relacionada a fatores históricos e turísticos que apontam para Santo Ângelo como uma central exportadora de erva mate na época jesuítica

O Rio Grande do Sul foi dividido em cinco polos produtores de erva mate, organização que abrange 206 municípios. A área total cultivada de erva mate no estado alcança 31.695 hectares e a produção está estimada em 277 mil toneladas da folha.

A reorganização do setor produtivo foi realizado com base em um estudo que integra o Programa Gaúcho para a Qualidade e a Valorização da Erva-Mate da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), que é executado pela Emater/RS-Ascar, em parceria como setor ervateiro.

Cinco polos identificam o mapa e o estudo já permitiu realizar ajustes ainda no mês de julho.
• Missões/Celeiro, com sede em Palmeira das Missões;
• Alto Uruguai, sede em Erechim;
• Nordeste Gaúcho, sede em Machadinho;
• Alto Taquari, com sua sede em Ilópolis;
• Região dos Vales, com sede em Venâncio Aires.

De acordo com o engenheiro agrônomo e extensionista da Emater/RS-Ascar, Ilvandro Barreto de Melo, os objetivos da configuração dos polos são de obter uma melhor organização e planejamento estratégico das ações, para viabilizar eficiência na gestão do setor, posicionar e melhor caracterizar as grandes regiões produtoras do Rio Grande do Sul.

SANTO ÂNGELO E A ERVA MATE

“Agregamos também alguns municípios que não têm produção de erva-mate, mas que em função do potencial turístico foram adicionados, como é o caso de São Miguel das Missões e Santo Ângelo, no viés da influência jesuítica para a história do mate gaúcho”, informou Ilvandro Barreto de Melo.

Santo Ângelo faz parte da história da Erva Mate no cenário Gaúcho e segundo a historiadora Professora Nadir Damiani documentos que serviam de inventário e de relato das atividades dos padres jesuítas nas reduções podem comprovar esta relação.

Nadir detalha ainda que cada Redução Jesuítica era autossuficiente, mas apresentava uma produção vocacionada, por exemplo; São Miguel era especialista no cultivo de cereais; São Lourenço na confecção de cerâmicas, tijolos, telhas… São João Batista, na fundição de ferro e aço, Santo Ângelo, algodão e erva-mate, etc.

Para compreender qual a relação de Santo Ângelo com a erva mate, tendo em vista que atualmente não há registros de produção comercial no município, pois as lavouras mecanizadas de soja acabaram com os ervais nativos, é necessário voltar no tempo e compreender como se estabeleceram as questões territoriais desde o descobrimento das Américas.

Herval localizado na área experimental do IF Farroupilha, campus de Santo Ângelo - Foto: Marcos Demeneghi
Herval localizado na área experimental do IF Farroupilha, campus de Santo Ângelo – Foto: Marcos Demeneghi

TERRITORIALIDADE

Segundo dados do IBGE Santo Ângelo foi emancipado de Cruz Alta em 22 de março de 1873 e nesta data possuía um vasto território, ultrapassando os 10 mil km² de área. Quando comparado ao primeiro ano de emancipação, o território é muito menor e corresponde a 680.498m².

Vale lembrar que, no tempo jesuítico a redução de Santo Ângelo Custódio servia de referência para um território ainda maior que na época da emancipação.

NA HISTÓRIA

Dois momentos distintos da ocupação territorial das missões ajudam compreender os conflitos e fundamentos da territorialidade do Rio Grande do Sul. Estes fatos são narrados pelo historiador José Roberto:

“O Tratado de Tordesilhas de 1494 deixou todo o território rio-grandense do lado espanhol, diante disso, em 1609, jesuítas de base hispânica começaram a fundar Reduções na territorialidade e em 1626 fundam a primeira do lado esquerdo do rio Uruguai – São Nicolau. Neste período, fundam 18 destas comunidades, as primeiras do Estado.

Depois disso, foram atacados pelos Bandeirantes se deslocam para o outro lado do rio Uruguai, onde ficaram 45 anos. Depois disso, retornaram fundando os chamados 7 Povos das Missões a partir de 1682, ocuparam todo o Estado com suas estâncias e ervais, sendo Santo Ângelo a última das reduções fundadas neste período.

Uma prova de como os jesuítas ocupavam o território gaúcho é a redescoberta de uma cruz missioneira em São José dos Ausentes – local que era o final da Estância da Vacaria dos Pinhais – hoje a grande região da cidade de Vacaria. Do mesmo modo seguiam as estâncias até a Lagoa dos Patos”.

José Roberto defende a tese de que os Jesuítas e Guaranis formaram o “primeiro estado industrial da América” ele busca embasamento nos relatos de Montesquieu, um dos principais escritores do mundo, juntamente com Voltaire que chamou de “triunfo da humanidade” o projeto.

Redução de Santo Ângelo Custódio exportadora de erva-mate

Os principais artigos que exportavam era a erva-mate, o fumo, o algodão, o açúcar, os tecidos de algodão, os bordados, as rendas, os objetos trabalhados em torno, mesas, armários, e baús de madeiras preciosas, esculturas, peles, curtumes e arreios de couro, rosários e escapulários, mel, frutas de muitas espécies, cavalos, mulas, e carneiros, assim como e excedente de diversas indústrias, como a de instrumentos musicais. Todos eram vendidos à Europa, Corrientes, Buenos Aires e Lima-Peru. Importavam produtos manufaturados e metais. Toda a produção era orientada para a satisfação das necessidades do todo.

HISTÓRIA “PITORESCA”

Nadir Damiani esclarece ainda que nos primeiros tempos os guaranis exploravam os ervais nativos e com o aumento da demanda, inclusive com exportação de erva-mate para a Europa, foi desenvolvida uma técnica de plantio de mudas, no mínimo pitoresca.

O pé de erva-mate forma sementes resistentes (duras) que dificilmente germinam em estado natural. A observação dos jesuítas permitiu concluir que as sementes que estavam nas fezes de passarinhos brotavam com mais facilidade no meio do mato. A partir desta observação resolveram potencializar o cultivo de mudas e colocavam sementes de erva-mate na alimentação das crianças, elas defecavam em lugares estratégicos para produzir mudas da planta.

A última das reduções fundadas neste movimento de retomada do lado oriental do Rio Uruguai, servia de referência para uma base territorial bem abrangente e registra fatos que reconstituem a história da erva mate no Rio Grande do Sul.

Edição – Marcos Demeneghi

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