Os três nordestinos
No dia 7 de outubro de 1961, quatro amigos tomavam cafezinho e trocavam ideias no bar do Cisne, ponto obrigatório do bate-papo dos santo-angelenses da época. Era um sábado à tarde e os quatro resolveram continuar a conversa na residência de João Calisto de Medeiros, no segundo piso do prédio número 178 da rua 3 de Outubro (propriedade de Nildo Tech, dentista prático de Buriti). Eram eles o Juiz de Direito Bayard de Toledo Mércio, Calisto, o advogado Darcy Von Hoonholtz e o representante comercial Édson Fonseca. Lá pelas dezessete horas, eles me pediram que redigisse ata, dando por fundada a Faculdade de Direito de Santo Ângelo, sob a égide da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, que tinha como mentor Felipe Tiago Gomes.
A CNEG (hoje CNEC) não mantinha nenhum curso superior, pois o objetivo único era o de dar ensino gratuito, o fundamental e o ensino médio, para alunos sem recursos financeiros, de acordo com a filosofia que determinou sua criação, em Recife. Um curso superior em Santo Ângelo não teve, inicialmente, a simpatia da direção nacional. Por aqui, a reação foi de descrença, recheada de pessimismo. Calisto, sargento do Exército, nascido no Rio Grande do Norte, apaixonado pela causa, muito amigo do paraibano Felipe Tiago Gomes (do qual não era parente, como pensavam alguns), conseguiu a adesão deste como a do deputado Paulo Sarasate,cearense, que era o presidente nacional da Campanha.
Graças aos três nordestinos, Santo Ângelo ganhou um Curso de Ciências Jurídicas e Sociais, objetivo muito difícil de ser alcançado naquele tempo. Coube a Felipe e Sarasate convencer o ex-Ministro da Educação, Clóvis Salgado, a relatar, favoravelmente, no Conselho Nacional de Educação, o processo de criação do primeiro curso superior da Capital das Missões. Para avaliar a importância da conquista, é de lembrar que o curso de Direito chegou aqui, primeiro do que em Santa Maria. O voto do relator foi aprovado e, em reconhecimento, a Câmara de Vereadores concedeu a cidadania honorária aos três nordestinos e ao mineiro Clóvis Salgado.
Na sessão solene de entrega da honraria, houve episódio imprevisto, constrangedor, quando o presidente do Legislativo, homem simples, honrado, mas de instrução primária, lascou estas pérolas:
– Tenho a honra de entregar a diploma aos nossos homenageados e um brinde à senhora Lia Salgada, esposa do Dr.Clóvis Salgado.
Por justiça, Santo Ângelo bem que poderia dar os nomes dos três nordestinos e do mineiro a vias públicas da cidade. Afinal de contas, a Faculdade de Direito, nome lamentavelmente apagado, deu a este solo histórico um salto de cinquenta anos, em termos de progresso em todos os sentidos.
A FRASE DO CHICO XAVIER – Altruísmo é o amor que se engrandece.