O cultivo comunitário de hortaliças que une haitianos e brasileiros

As hortaliças plantadas em um terreno urbano, em que antes só tinha gramíneas, crescem aos cuidados de imigrantes haitianos, estudantes e professores do Instituto Federal Farroupilha-IFFar.

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As hortaliças plantadas em um terreno urbano, em que antes só tinha gramíneas, crescem aos cuidados de imigrantes haitianos, estudantes e professores do Instituto Federal Farroupilha-IFFar. Juntos, aprendem técnicas de cultivo agroecológico, diminuem as barreiras linguísticas e ainda levam para a mesa cenoura, tomate, pepino, alface, beterraba, berinjela; chás e temperos variados, como manjericão, hortelã, menta, entre outras; além das Plantas Alimentícias Não-Convencionais – PANCs, como a Ora-pro-Nobis, caruru, Capuchinha, peixinho de horta. O trabalho é realizado todo o sábado pela manhã

Fotos: Maria Aparecida Lucca Paranhos
Fotos: Maria Aparecida Lucca Paranhos

O Projeto “Horta Comunitária: acolhimento e integração de imigrantes haitianos, segurança alimentar e nutricional” foi abraçado pelo IFFar e voluntários, como a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Brochado da Rocha, Ana Lúcia Tcatch, pois é no pátio desta escola que os canteiros foram implantados. Unem-se, para o cultivo e para o acompanhamento do projeto, dois alunos voluntários, do Curso Técnico em Agricultura do IFFar, Suzana Costa, Coordenadora Pedagógica de Ciências e Matemática e mediadora em várias demandas, junto à SMED e também outros servidores do IFFar atuam como colaboradores eventuais. Esta horta materializa uma aspiração antiga da Professora Maria Aparecida Lucca Paranhos, idealizadora e principal incentivadora do projeto.

A professora percebeu que os haitianos estavam abertos a esta experiência e encontrou a motivação necessária para colocar em prática alguns ideais que envolvem a agroecologia e a produção urbana de alimentos. A docente considera este tema fundamental diante do contexto pandêmico em que vivemos, não só pela crescente demanda por alimentação saudável, mas também porque interagir com plantas e vegetais tem efeito terapêutico e pode nos ajudar a lidar com a ansiedade — nada mais conveniente em tempos em que esse sentimento tornou-se onipresente. Conectar-se com outras formas de vida pode, ainda, trazer uma perspectiva mais positiva em um momento de vulnerabilidade já que estamos cercados por um sentimento de morte, de incerteza, de finitude.

A relação com os grupos de imigrantes foi iniciada em 2020, com o projeto de extensão “Interação Linguística Português-Francês” em que foram ministradas aulas de língua a fim de mitigar dificuldades de comunicação enfrentadas pelos imigrantes, principalmente para a inserção nos espaços de trabalho. A mediação inicial para este projeto se deu no grupo da ZISSAN do qual a professora participa. A partir de 2020, pela impossibilidade de dar continuidade a essa ação, em função da pandemia, o sonho da Horta Comunitária ganhou força, pois, além de promover a inclusão social, cria um espaço para a comunicação em língua portuguesa e contribui para a segurança alimentar de aproximadamente 10 pessoas, envolvendo 8 famílias.

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Para 2021, a ideia é incluir os alunos da escola e seus familiares. Além disso, há o desafio de ampliar a ação para outros espaços públicos que estejam ociosos e possam se constituir em laboratórios de aprendizagens para uma vida cidadã, em busca de uma sociedade com menos desigualdade social, mais inclusiva e acolhedora, que promova a inovação e o desenvolvimento sustentável, entendido como aquele que consegue atender às necessidades da geração atual sem comprometer a existência das gerações futuras.

Algumas orientações técnicas seguidas para alcançar os resultados

As primeiras ações técnicas utilizadas para alcançar o resultado foram a descompactação do solo e a estruturação com matéria orgânica, ou seja, foi usado um trator e uma grade para revolver o terra. Depois disso, foram depositados restos de bananeira e galhos de árvores, bem como foi implantada uma cobertura de aveia e nabo para potencializar a microbiologia e melhorar as condições gerais de plantio do local. Na correção do solo foi aplicado calcário, cama de aviário, além do material orgânico para melhorar o solo.

f20a30dc-b634-49c1-ae24-5af9b56e3507 (Copy)A área foi cercada para evitar a entrada de animais e também foi construído um espaço para a vermicomposteira em que resíduos orgânicos são reciclados para a produção de húmus que é usado na adubação dos canteiros. O material para o cercamento da área e construção da vermicomposteira foi fornecido SMED, assim como as ferramentas como enxadas, ancinho, regadores e um sistema com aspersores para irrigação, que é feita, pelo menos duas vezes por semana. O projeto conta, ainda, com o apoio da Cáritas Diocesana que forneceu sementes orgânicas de verduras e legumes variados. O Setor de Produção do IFFar também produz mudas e, quando necessário, são adquiridas no comércio local pelos próprios participantes do projeto. A Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), por sua vez, contribuiu com “cama de aviário” material utilizado para a adubação inicial dos canteiros.

O planejamento dos canteiros e das respectivas variedades a serem cultivadas foi feito levando em conta a incidência solar, pois existem plantas que necessitam de mais ou menos sol para o pleno desenvolvimento. Além das hortaliças convencionais da nossa região, também são escolhidas espécies em função dos hábitos alimentares dos participantes do projeto, os haitianos. Por exemplo, incentivaram o plantio do feijão guandu, milho, caruru e ora-pro-nobis (que são PANCs bastante apreciadas pelos haitianos), além de plantas medicinais e ervas aromáticas muito apreciadas para chás e para o preparo de suas refeições. Por enquanto, a irrigação é feita com água da rede de distribuição da cidade, mas a ideia é captar a água do telhado da escola, armazená-la e usá-la para garantir o desenvolvimento das plantas, exclusivamente com a água da chuva.

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Para além de tudo o que já foi exposto, o espaço da horta se constitui em um laboratório de aprendizagens, desde o processo de cultivo, a reciclagem de resíduos, por meio da vermicompostagem até a confecção de pratos a partir de ingredientes produzidos na horta. Os participantes são orientados quanto à segurança alimentar e nutricional, para o aproveitamento integral dos alimentos, como folhas, talos e cascas (bolo usando a casca e banana, suco com folhas de menta, bolo salgado com folhas e talos de cenoura e beterraba, dentre outros). Para o próximo ano, a ideia é ampliar esta proposta com a inserção de orientação de uma nutricionista.

Ivan Preuss, que é Técnico em Agropecuária, Coordenador do Setor de Produção do IFFar e Coordenador Adjunto deste projeto explica que podemos chamar de uma horta comunitária agroecológica, pois não são usados produtos químicos industrializados, apenas técnicas como a rotação de cultura, cobertura vegetal do solo, consórcio de plantas e aplicação de caldas para o controle de pragas, doenças e para a fertilização. Os princípios da produção agroecológica baseiam toda a produção, sem o uso de agrotóxicos nem adubação sintética.

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Quanto ao consórcio de plantas, Ivan explica que são cultivadas espécies diferentes no mesmo canteiro inclusive feitas experimentações “um dos canteiros que produziu muito, foi onde usamos sementes que sobraram de cenoura tomate, berinjela, resolvemos aproveitar e plantar tudo no mesmo canteiro e produziu muita alface e cenoura neste lugar. Nestes consórcios, é possível plantar alface com beterraba, rúcula com cenoura, couve e feijão, milho com abóbora”. Dessa forma, um inseto que pode prejudicar uma cultura é atraído para outra à qual não causará danos.


Dicas do Ivan para o controle natural de pragas e doenças

Para controle o oídio no tomate e no pepino é usada uma mistura de leite de vaca e água;
Para o combate das lesmas, usa-se casca de ovo triturada sobre os canteiros, pois as lesmas e caracóis preferem manter distância de bordas afiadas e rastejar em solos mais favoráveis;
Para o controle do pulgão, é usado detergente líquido diluído em água;
Também é usado a água de cinza e cal como fertiprotetor das plantas.
A cobertura vegetal com palha inibe o crescimento de ervas invasoras.

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1 comentário

  1. Viviane Lucca Responder

    Excelente trabalho desenvolvido em vários sentidos integração, estímulo alimentação saudável, despertar para buscar conhecimentos, aplicar conhecimento entre outros. Parabéns Prof Na tua Aparecida e todos envolvidos