A gastronomia de Santo Ângelo sempre foi muito valorizada. Contamos com festivais que promovem momentos de apreciação da culinária missioneira, onde os participantes comprovam o quanto nossos “quitutes” fazem jus ao título de “Cidade das Tortas”. Mas para que um negócio no ramo culinário alcance a prosperidade é necessário um conjunto de fatores, já que não basta a cidade ser reconhecida se o produto a ser oferecido não possui a mesma qualidade, ou então estar localizado em um lugar de difícil acesso. Diferente disso, o casal Erico e Eloídes Kreuning, aliou qualidade e localização estratégica, e há 30 anos trabalha na famosa “Banca do Churros“ .
Provenientes do Rincão Vermelho, interior de Roque Gonzales/RS, o casal veio para Santo Ângelo no ano de 1980, após vender um lote de terras onde moravam. Para manterem-se, Erico trabalhou na Cooperativa Tritícola de Santo Ângelo (Cotrisa), e sua esposa, Eloídes, trabalhou como doméstica na casa de João Lissarassa, que na época era o dono da Banca de Churros e da Pizzaria Saci. E foi durante uma limpeza nas panelas da casa que Eloídes ficou curiosa sobre aquela massa diferente que havia sido feita. “Logo que perguntei para ele, me disse ser massa de churros, e que estava com vontade de vender o negócio, pois estava sem tempo de dedicar-se integralmente, sendo que acabou me oferecendo a banca. Ele me pediu 150 mil cruzeiros, o que somava todas as nossas economias. Foi uma jogada arriscada, se o empreendimento afundasse, estaríamos em sérias dificuldades financeiras. Mas foi bem pelo contrário, ficamos conhecidos como a ‘Banca do Churros da Praça do Jacaré’. No começo vendíamos em torno de 100 churros ao dia, o que representava um bom lucro. Com o passar do tempo, incrementamos e passamos a vender pastéis e refrigerantes. Em junho de 1986, chegamos tirar 92 salários mínimos de lucro, o que nos estimulou a aperfeiçoar o negócio. Chegamos a ter duas bancas, esta na praça e outra ao lado do Clube 28, onde meu marido cuidava. Com o tempo, ficou difícil de cuidar de dois estabelecimentos, acabamos vendendo uma e ficando com esta. Hoje é um verdadeiro sucesso, comercializamos em torno de 300 churros ao dia, sem contar os pastéis e refrigerantes”, conta Eloides Kreuning.
Atendendo a uma clientela diversificada, formada por todos os tipos de pessoas, classes sociais e idades, a banca tornou-se referência para quem chega à cidade. Foram diversas pessoas que provaram esta delicia das missões, entre eles médicos, funcionários da prefeitura, pessoas de outras cidades, e até prefeitos e ex-prefeitos estiveram na famosa “Banca do Churros”. Para Erico Kreuning, é uma alegria poder fazer tantos amigos ao longo desses 30 anos. “Foram inúmeras personalidades do município que provaram dos nossos churros. Os prefeitos sempre vinham aqui, sendo eles, Carlos Schröder, Mauro Azeredo, Alberto Wächter, Valdir Andres, José Lima Gonçalves, Adroaldo Loureiro, e, atualmente, Eduardo Debacco Loureiro. Para mim é uma alegria imensa, saber que as pessoas gostam do nosso produto, que nos reconhecem como um dos melhores churros da região. Pessoas de todas as cidades vem nos comprar, tem um casal de Santa Rosa que todo domingo vem buscar 10 churros, é sagrado. Além disso, pessoas que vem de Ijuí, Caibaté, São Luiz Gonzaga, Santo Antônio das Missões, entre outros”, diz.
O negócio prosperou tanto que duas famílias sobrevivem com a renda obtida com a venda de churros. O casal já está aposentado, mas ainda por gosto ao trabalho e por fidelidade aos clientes antigos mantiveram-se fazendo os deliciosos alimentos. Entretanto, a filha dos proprietários, Maria Claudete Kreuning, tem assumido cada vez mais o negócio da família, e prepara-se para ficar definitivamente à frente da tradicional banca. Sem dúvidas, a história da “Banca do Churros” se confunde em alguns momentos com a própria história de Santo Ângelo, sendo esta uma verdadeira trajetória de sucesso e dedicação destes dois corajosos empreendedores que fizeram dos churros muito além de um simples negócio, um ponto de parada obrigatório para quem mora ou visita a cidade.
Churros – este é um alimento de origem espanhola, muito popular nos países latino-americanos. Este doce é preparado com massa a base de farinha de trigo e água, em formato cilíndrico e frito em óleo vegetal. Logo após, ele pode ser salpicado com uma camada de açúcar por fora (opcionalmente, também com canela).
Sendo um doce originário da Espanha, é bastante consumido nos países hispano-americanos, desde o México até a Argentina. Porém, nestes países, o churro geralmente não possui recheio (como ocorre no Brasil), este geralmente de doce de leite ou chocolate. No Uruguai, Argentina e outros países da América Latina, o churro também pode receber recheio. É comum, no Brasil, vendedores ambulantes em carrocinhas parecidas com as de cachorro-quente comercializarem o produto em praças e eventos a céu aberto, como feiras e festas municipais.