Você já deve ter percebido aquelas plantas de caule fino que não crescem além de dois metros de altura, muito comuns na beira da estrada, não é mesmo? São plantas que todo mundo vê, mas poucos sabem o nome, ou lhe atribuem importância. Pois bem, são estas espécies da flora nativa que atraem os olhares do biólogo Peter Willian de Aguiar. Periodicamente ele calça um par de botas, veste uma roupa apropriada, passa protetor solar, pega a sua câmara fotográfica e sai para o campo.
A relação dos santo-angelenses com as plantas é multifacetada. O biólogo Peter de Aguiar tem uma relação mais aprofundada com as ervas do campo, tecnicamente chamadas de herbáceas, as expedições que realiza para fotografar e identificar plantas, geralmente são feitas em faixas de transição de terras ou nas áreas de domínio das estradas. Neste trabalho o cartão de memória nunca volta com menos de 500 a 600 fotografias.
Como consequência deste trabalho realizado no bioma local, Peter já identificou 800 espécies de herbáceas pertencentes a 70 famílias diferentes. O biólogo pretende montar um guia fotográfico com a classificação das plantas herbáceas que compõe o bioma de Santo Ângelo e publicar um trabalho de referência regional para as futuras gerações.
Neste tipo de identificação se torna importante realizar fotografias em detalhe que possam mostrar as características das flores, dos frutos, folhas e caule. Com base nestes documentos fotográficos é possível comparar com a literatura cientificamente reconhecida e realizar a identificação destas espécies que aqui crescem.
Peter explica que percebeu a escassez de literatura local sobre botânica e resolveu se dedicar a um trabalho de catalogação e identificação de espécies nativas, aquelas que crescem em solo santo-angelense.
O Biólogo explica que o município está em uma área de transição entre os biomas Pampa e Mata Atlântica, destacando a biodiversidade e peculiaridades desta vegetação que compõem a geografia local. Reconhece também que a monocultura e as grandes plantações já restringem a sobrevivência de várias espécies e por este motivo suas investigações são realizadas nas faixas de transição, ou seja, na divisa de propriedades rurais ou na beira da estrada onde a vegetação nativa ainda consegue se multiplicar. Em sua coleção de 700 espécies identificadas, mais de 60 estão no Decreto 52.109/14 que identifica as plantas com diferentes graus de ameaça de extinção no Rio Grande do Sul.
Peter é natural de Santo Ângelo, mas cresceu no interior de São Miguel onde viveu até os 11 anos. Formou-se bacharel em biologia pela URI, Campus Santo Ângelo e conta que agora trabalha no melhor escritório possível, que é o campo junto a natureza, as plantas.
Iniciou o mestrado recentemente na UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul, campus de Cerro Largo e realiza uma pesquisa sobre morfoanatomia e fitorremediação. Em resumo, Peter procura identificar herbáceas nativas com características resilientes a determinados contaminantes de solo ou de água que podem contribuir para a despoluição de áreas degradadas.
Peter tem uma estreita relação com as plantas, mas pela formação que tem, não é só a beleza e perfume das flores, ou a imponência das frondosas árvores que lhe atrai para a pesquisa, mas sim, particularidades desconhecidas de ervas comuns, que só chamam a atenção quando um pesquisador ressalta as suas qualidades por meio de árdua pesquisa.
Foi o olhar atento para as plantas persistentes, aquelas que insistem em sobreviver diante das adversidades do tempo e do solo, que guiam a vida deste jovem cientista. Por fim, o verde e a resiliência das plantas continuam inspirando novas pesquisas e descobertas.