A mestria das letras e a modéstia dos grandes homens

Artur Hamerski leu dezenas de livros e percebe que as frases, ideias e conhecimentos que guarda fermentam na memória. Lá pelas tantas, sente uma cócega no cérebro e...

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Artur Hamerski leu dezenas de livros e percebe que as frases, ideias e conhecimentos que guarda fermentam na memória. Lá pelas tantas, sente uma cócega no cérebro e tem vontade de expor para o outro o que sabe, seus ideais e emoções. Escreve para os que gostam ou não o aprovam, tanto faz, pois acredita que nem todos precisam concordar e aceita o contraditório.

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Sua inspiração está nos grandes autores da língua portuguesa, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Benito Barreto, Darci Azambuja, João Simões Lopes Neto, entre outros. Também aprendeu a ler os movimentos da natureza, da política e do comportamento humano. Tudo isso borbulha em sua mente, até que chega um momento que as letras querem se juntar e formar uma palavra, uma frase, um parágrafo, um texto… Seus dedos não param…Até que o fio condutor das emoções permite juntar uma parte do conhecimento guardado para concluir uma narrativa literária, seja qual for o estilo, texto técnico para uma boa redação no ENEM, artigo de jornal, um conto, uma crônica ou um poema. Não importa, pois literalmente é um mestre das letras.

Artur Hamerski não ostenta os títulos que possui, mas valoriza os saberes. Nasceu em 21 de julho de 1944, filho de Estevo Aloísio Hamerski e Malvina W. Hamerski, na Linha Mila Norte, hoje interior de São Paulo das Missões, pequenos produtores que moravam naquela zona rural. Artur subverteu aquela situação, pois fez curso superior em letras e tornou-se mestre em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) em um tempo de difícil acesso à educação superior. Chegou a iniciar o doutorado, mas como era muito requisitado para dar aulas, preferiu não precarizar o trabalho em sala de aula e desistiu de ter o título formal do doutorado, mesmo faltando poucos créditos para concluí-lo.

No entanto, sua primeira ideia era ser padre e desde os 10 anos de idade estava decidido. Quando “Arturzinho” tinha seis anos, mudou-se com a família para São Luiz Gonzaga, interior, Rincão dos Melo, hoje pertencente a Rolador, onde trabalhou nas “lidas” da colônia até os 17 anos. Em 1962, com ajuda de Dom Estanislau Amadeu Kreutz, na época padre e reitor no Seminário São José, de Cerro Largo, iniciou o capítulo que o levaria a ser um “Mestre das Letras”.

Estudou no Seminário São José, em Cerro Largo (1962 – 1968) e no Seminário Pe. Adolfo Gallas (1969) em Santo Cristo. Foi nessas instituições que aprendeu as primeiras lições e desenvolveu a força de vontade para ser um sacerdote das letras. “Tive muita coragem, me desafiei! Quando cursava a 5ª série no Seminário fiz uma redação com cerca de 50 erros. Mas tinha um problema, o professor descontava um ponto por erro de português. No final, fiquei com uma nota negativa. Aquele fato me desafiou a ler contos, romances e teoria de português. Lia um livro atrás do outro! Tive que mostrar que era capaz de dominar o português e consegui passar de ano.”

Os planos de ser padre mudaram quando conheceu Maria Aromi dos Santos em 1969, em São Luiz Gonzaga, com quem teve, durante a vida, seis filhos. Preferiu então a missão de educar e contribuir para que os jovens tivessem uma boa formação intelectual, sobretudo, nas letras.

Depois que deixou o seminário,ministrava em 1970 aulas de Francês na cidade de Bossoroca. Neste mesmo período, iniciou o curso de letras na Fundames (atual URI). Nos anos de 1974 e 1975, já na carreira de servidor público estadual, lecionava na escola Polivalente de Carazinho, mais tarde, conseguiu uma vaga no Polivalente de Santa Rosa e finalmente em São Luiz Gonzaga, onde pôde ficar mais próximo de sua família.

Mas nem tudo são flores. Artur sempre conservou a modéstia, mas chegou a ser perseguido pela ditadura militar e retalhado pelos textos que escrevia. Desde que escrevia artigos para o jornal “A Notícia”, alguns militares que estavam no poder já não aplaudiam seus textos. Quando veio para Santo Ângelo, em 1980, na Semana da Pátria, um dos alunos da 8ª série do Colégio Marista fez uma redação sobre a Amazônia, dada à qualidade do texto, o professor Artur sugeriu que fosse lida na abertura da Semana da Pátria. O discurso foi classificado como subversivo por esses militares e a Polícia Federal passou a investigar e fotografar os passos do professor Artur, até que foi chamado para um julgamento. Vilson Perpétuo era o delegado da época e uma das frases assinaladas foi “A Amazónia é do Brasil e do Brasil deve ficar sempre”.

Naquele ano, Artur foi investigado e vigiado no seu itinerário. Fotografaram várias situações, uma delas dentro da igreja catedral, apertando a mão do aluno que leu o texto, no final, advogado e amigos maristas intercederam em favor do professor que de subversivo só tinha a vontade de incentivar a educação.

Artur desconfia que por sua postura de defender ideias populares, aquelas que prescrevem o bem do Brasil e das pessoas, foi confundido como alguém subversivo, contra as ideias dos comandantes do Brasil dos anos 70 e 80. Escrevia artigos para jornais e muitos deles foram censurados, sem motivo aparente. Na campanha de Fernando Collor, em seus textos para o Jornal das Missões, desmascarou a farsa do ‘caçador de marajás’ e também foi desqualificado pela oposição e desmoralizado por adversários, inclusive numa rádio de Santo Ângelo.

Artur Hamerski lecionou Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Estilística na URI (1982 – 2004). Trabalhou por vários anos no Colégio Marista e também na Faculdade de Direito, FADISA, atual CNEC, e um ano na UFFS, de Cerro Largo.

Muito pode ser dito sobre o professor Artur Hamerski, mas, para não alongar o texto, concluímos que possui profundo conhecimento, como poucos, da Língua Portuguesa e da Literatura Brasileira. Queria ser padre, mas a vida lhe direcionou para outra missão. Tornou-se um modesto e simples mestre para, em mais de trinta anos de magistério, melhor ensinar lições de português e literatura aos jovens e também passar, tanto quanto possível, as melhores lições de vida.

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1 comentário

  1. Celso Luiz Balbé Responder

    Meu professor de português e literatura nos maristas, um grande mestre.