Neste local iniciou uma história de 310 anos

No dia 12 de agosto a redução de Santo Ângelo Custódio completaria 310 anos

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Foto: Marcos Demeneghi
“Forquerta”: Encontro dos rios Ijuí e Ijuizinho, na divisa de Santo Ângelo, Entre-Ijuís e Vitória das Missões

A semente territorial de Santo Ângelo germinou e criou suas primeiras raízes em 12 de agosto de 1706, no local que foi batizado popularmente de Forqueta, pois lá encontram-se os leitos de dois rios, o Ijuí e o Ijuiízinho. Neste local, o Padre Diogo Haze e mais de 2500 índios fundaram o último dos povos missioneiros, Santo Ângelo Custódio. Um ano mais tarde, em 1707, atravessaram o rio é a planta foi transplantada para o local que hoje chamamos de centro histórico de Santo Ângelo. Portanto, um olhar atento nos fatos históricos lembra que na última sexta-feira, dia 12, as raízes missioneiras de Santo Ângelo completam 310 anos no imaginário popular e nas tradições deste povo.
No entanto, a data não ganha destaque na cena política e jornalística da região, pouco, ou quase nada é realizado para celebrar o aniversário da redução de Santo Ângelo Custódio. Talvez, porque os índios daquele tempo encontram-se literalmente desenTERRAdos como afirma o escritor e historiador José Roberto Oliveira, antes de celebrar a data temos que pedir perdão aos índios, verdadeiros donos desta terra.
O escritor Mário Simon entende que existem muitos fragmentos da história regional que ainda não foram totalmente incorporados nos currículos escolares. Recentemente registrados em livros ainda são ignorados por parcelas da população contemporânea.
Para chegar neste local chamado de Forqueta, seguindo por território santoangelense usa-se a estrada de chão que dá acesso a localidade de Atafona. Lá, o campo de visão permite alcançar as terras de três municípios vizinhos: Entre-Ijuís, Vitória das Missões e Santo Ângelo.

Lenda da Corrente

Livro de Mário Simon compila em livro de bolso lendas Missioneiras
Livro de Mário Simon compila em livro de bolso lendas Missioneiras

Durante a feira do livro, na noite de quinta-feira, o escritor Mário Simon lançou um livro de bolso denominado Lendas Missioneiras. Nele encontramos “A Lenda da Corrente” que faz menção a localidade em que nasceu Santo Ângelo Custódio.
O texto é uma transcrição de Amado Grisolia (in Resumo Histórico das Reduções Jesuíticas 3ª ed. 1976)
“Ao norte do município de Entre-Ijuís, próximo a forqueta dos rios Ijuizinho e Ijuí há um grande e profundo remanso no leito do Rio Ijuí, denominado Poço do Ijuí. Alí, segundo a narrativa dos moradores antigos, na margem direita do rio havia uma enorme árvore e, nela, amarrada de maneira impossível de soltar, uma corrente de ferro com elos da grossura de um dedo polegar. Amado Grisólia narra a lenda assim:
‘Santo Ângelo também tem a sua lenda: – Existiu durante quase dois séculos uma corrente de ferro, de elos enormes, com uma ponta amarrada a uma grossa árvore (angico)na margem direita do rio Ijuí, na confluencia do arroio São João, distante apenas cinco quilômetros desta cidade, e outra ponta mergulhada nas águas do rio, sem que nunca pudesse ser arrancada. Conta-se que os Jesuítas, na sua fuga precipitada, perseguidos de perto pelos exércitos vencedores e , na impossibilidade de transportarem as riquezas que possuiam, Puseram todos os seus fabulosos tesouros dentro de uma caixa de ferro, amarráram-na na corrente e jogaram-na para o fundo das águas lodosas do rio, que tem ali uns cinco metros de profundidade depois de amarrar a outra ponta na tal árvore.
Nos albores deste século, o espírito aventureiro de um santo-angelense, cujo nome não pudemos descobrir, constatando ser um dos troncos da família Pinheiro Machado, levou ao local oito juntas de bois, com o intuito de descobrir o segredo da corrente. Depois de um trabalho insano, que levou um dia inteiro, a corrente rebentou perto da caixa, conforme constatação de mergulhadores da época, continuando assim, como antes, tudo envolto no mais denso mistério’”.
Mário Simon narra que já ouviu outras versões da mesma lenda em que o povo conta que ninguém conseguiu retirar o tesouro do fundo do rio porque não cumpriram a condição lendária principal. A caixa de ferro só seria trazida do fundo do poço se fosse puxada por uma junta de bois gêmeos, um de cor preta, outro de cor branca. Simon disse que é uma lenda recente, já que foram muitos os testemunhos de pessoas que disseram ter visto a tal corrente, e que a árvore em que estava amarrada foi levada, juntamente com o barranco, numa das cheias do Rio Ijuí, desaparecendo para sempre.

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