Quarta-feira 05/10/2011

O magnifico Cinema Avenida
Roberto Fray foi quem o construiu e iniciou a fazê-lo funcionar com seus filhos, Walter, Vilma, Nesbeste e filha Teti. Foi quem trouxe para Santo Ângelo as “Fórmulas dos sorvetes e dos picolés”. Instalou, também, a primeira fábrica de gelos da cidade em sua chácara. O cinema Avenida era localizado na Avenida Brasil onde está o atual prédio, ao lado do Banco do Rio Grande. Construção totalmente de madeira, com camarotes nas laterais. Semelhante e concorrente ao cinema Apoio, porém, não tinha palco e disputavam a clientela, porém tinha a melhor programação de filmes, melhores companhias cinematográficas. Propagandas eram colocadas nas esquinas, com cartazes. Quem conduzia a propaganda era o Walter Frey, com sua Baratinha. Vestia-se como Tom Mix. Gostava de brigar a socos.A propaganda, também, era feita por uma gaiota puchada por um cavalo, com dois cartazes em cima,percorrendo grande parte da cidade.Cartazes dizendo os filmes que iriam passar eram colocados nas esquinas centrais da cidade. O Vilma era o irmão operador de filme, estes também rebentavam e paravam a filmagem a cada parte.Esse filho do Sr. Roberto Frey era a alma do cinema,pois fazia o transporte dos filmes para a estação com carrinho de mão,ida e volta, e pintava os cartazes, resolvendo qualquer problema que surgisse para o bom funcionamento do cinema. Até que num domingo à tarde, durante a matinê, o Walter Frey se desentendeu com um portuguesinho, que tinha uma loja, onde era a Caixa Econômica Federal antigamente, por causa de mulher. Saíram para fora para brigar.Walter desferiu um soco certeiro no queixo do português, derrubando-o. Este levantou-se, sacou o revolver 32, desferindo-lhe dois tiros, o primeiro atingiu-lhe a testa. O segundo atravessou as paredes de madeira do prédio do cinema, cravando na tela do mesmo, cheio de gente que estava. Walter caiu, saindo os miolos pela testa. Morte instantânea. Presenciei a briga. O cinema mais tarde incendiou totalmente. Pegou fogo num rolo de filmes, incendiou o prédio totalmente. Do cinema antigo sobrou apenas escombros. O Sr. Roberto Frey desanimou totalmente, pois ficou sem recursos para recomeçar. Porém, Dona Gerny Stayer, pessoa muito rica, emprestou-lhe dinheiro para construir um novo cinema moderno onde é hoje. Ela emprestou o dinheiro para ele devolver quando pudesse, e assim ele fez. Pagou quando pôde. Construiu um novo e moderno cinema que foi inaugurado em 1946. Os Irmãos Frey lançaram-se novamente à luta, passando filmes para sobreviver. A irmã Tety também trabalhava no cinema com seus filhos ainda pequenos.
O cinema persistiu até quanto pôde. Pois vieram a concorrência dos grandes circuitos de cinemas e depois a televisão fê-lo sucumbir. Foi uma luta gloriosa e digna. Hoje o cinema é alugado para lojas. Não sabemos em que ano iniciou o funcionamento deste cinema. Em 1936 já existia, pois eu assistia já os matinês de domingo, assistindo aos seriados. Do cinema original, só restaram apenas cinzas. O que eu informo foi confirmado pelos herdeiros e sucessores do industrialista santo-angelense Robert Frey. Homem capaz e de visão. Ele fazia a programação dos filmes junto às companhias. Acompanhava as sessões de filmagens sentado no saguão da entrada. Vestia-se impecavelmente sempre de linho branco, gravata e colete. Todas as tardes passeava a cavalo pela cidade em seu cavalo branco, muito bem encilhado. O Sr.Roberto Frey naceu na Suíça, vindo da Argentina para o Brasil, por Cerro Largo,radicando-se em Santo Angelo.Iniciou sua vida como caixeiro-viajante e tirando seus pedidos.Transportava-se em lombo de mula.Mais tarde, tornou-se um grande industrialista e homem de muitos negócios, instalando uma fábrica de gelo e trazendo a fórmula do picolé e do sorvete para Santo Ângelo. Seu filho Tete foi o precursor de sorveterias, botando uma ao ar livre junto do cinema, onde hoje é o Banrisul. Ambiente muito acolhedor e aconchegante, com suas mesas sob as árvores de sombra. Além dos motivos acima enumeradas para o caso do cinema, creio que a traição do Sr. Eribert Schultz, proprietário do cinema Vogue, lhe tirou todas as companhias de cinema.