Quarta-feira 01/06/2011

O Mascate do Rio GrandeO mascate foi o primeiro ambulante de que tivemos conhecimento. Vendia no interior e na cidade de casa em casa, de bolicho em bolicho,...

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O Mascate do Rio Grande
O mascate foi o primeiro ambulante de que tivemos conhecimento. Vendia no interior e na cidade de casa em casa, de bolicho em bolicho, com mercadoria à pronta entrega. Os primeiros vendiam a cavalo, ou montados num moar levando a mercadoria numa mala de garupa.
O primeiro mascate de que tivemos noticia foi nosso tataravô, Joaquim Silva, que desembarcou de um navio no Rio de Janeiro, vindo de Portugal. Seguiu para o Rio Grande do Sul, indo parar em Uruguaiana, como mascate. Percoria o interior vendendo suas marcadorias, pedir pouso na casa de um fazendeiro de nome Joaquim, apelidado de “Capataz”, que tinha também uma casa de negócios. Este o contratou para gerenciar seu estabelecimento e cuidar do gado.
Meu tata, vestindo bombachas, camisa de seda e alpargatas, dominou completamente a lida de campo, lançando, pialando, castrando, marcando e curando o gado. O “Capataz”, que era de nome Joaquim, igual ao nome de seu funcionário e meu tataravô, agradou-se do serviço do mesmo e deu-lhe a filha como presente. Para haver distinção entre os dois Joaquim, apelidaram meu antepassado de “O genro”. Este, muitos anos mais tarde, tornou-se fazendeiro mudando seu nome para Joaquim Genro, dando início a uma família genuinamente satiaguense.
O segundo mascate de que tivemos conhecimento foi nosso avô materno, Querino Nunes Pereira, que antes de se tornar um autodidata professor, revolucionário, político, funcionário público, intelectual, sendo também peão e carteiro, foi mascate. Sabemos que em certa ocasião, chegando ao entardecer à casa de uma fazendeira no interior de Mato Queimado, pediu pouso e ele quis seus artigos às suas filhas.
A moça não quis olhar o que ele tinha para vender. Ele respondeu que para olhar não era cobrado preço algum. Ao que a fazendeira ao ouvir este diálogo, respondeu: O que vocês estão se faceirando para esse moço? Olha que eu pincho uma enxurada de caldo quente pelas ventas de vocês. Com esta proposta, ele tratou de fechar suas malas, desistindo do pouso, e se mandou.
Nunca mais tive notícias de mascates. Lembrando, na quadra da rua Marechal Floriano havia um velho mascate judeu, que vendia roupa e tecidos, e outro vendia principalmente miudezas e bijuterias. O mascate foi uma figura que percorreu todo o interior do Brasil, montado em lombo de mula, ora num carroção, ora montado em um cavalo, levando e vendendo sua mercadoria à pronta entrega.
Os jordanianos e palestinos que vieram estabelecer-se no sul do Brasil, quando expulsos de suas pátrias, aqui foram bem recebidos e criaram um nova pátria, foram uma nova e moderna versão do “mascate”, percorrendo as cidades e interior, vendendo suas mercadorias de porta em porta para sobreviver, aqui se estabeleceram e hoje convivem bem integrados em Santo Ângelo/RS.

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