O Ginásio de Santo Ângelo
Num terreno que era destinado a instalação de uma praça na esquina da Rua Venâncio Aires com a rua Antonio Manoel, no meio da qual, iniciava-se a Rua florêncio de Abreu , foi construído o ginásioS anto Ângelo, dirigido pelos irmãos Maristas. Esse terreno era de propriedade do Sr. Raul Oliveira, ou foi cedido por ele, quando prefeito para essa finalidade. Em 15 de novembro iniciava o funcionamento. com 98 alunos.
Iniciada a construção, no primeiro ano do ginásio funcionou mixto-a parte masculina funcionando em uma chácara, alugada, nos fundos pelos irmãos maristas, e, a parte feminina já funcionando no Colégio Tereza Verzeri, no ano de 1940. A historia do colégio Marista Santo ângelo começou em 1936, com a carta do prefeito municipal, cel. Raut de Oliveira, ao irmão Otão Provincial dos Maristas no Rio grande do sul e nós alunos chamávamos de “Afonsão” por ele ter mais de dois metros de altura. Era também povidencial de Portugal, Lion na França e de Madagascar na Africa. Era francês e os franceses gostavam de viajar muito.
Solicitando a fundação de um Ginásio Marista. Em 1938 foi lançado a pedra fundamental. Muitas historias podiam ser contadas dos dez anos que freqüentamos este educandário tão querido para nós. Hoje nos limitaremos a fazer um rápido relato para não deixar em branco esse período tão importante para Santo Angelo, e para nos. Foi um verdadeiro marco. Voltaremos mais adiante para falar deste colégio onde passamos os melhores anos de nossa vida.
Antes dele quem quisesse cursar o ginásio teria que ir a Cruz Alta, santa Maria, ou Porto alegre. Chegaram a ser matriculados 400 alunos da região toda.
Nos matriculamos no curso de admissão em 1941. Ai ouvimos o PRIMEIRO BADALAR DO SINO de entrada das aulas. Parece que estavam nos dando boas vindas. Logo o colega Pedro osório do Nascimento por delegação do diretor, assumiu o comando do sino, anunciando sempre a entrada e saída das aulas.
DEPOIMENTO DO SR. PEDRO OSORIO NASCIMENTO
Parece que foi por conhecidencia que o diretor me designou como sineiro, pois tinha um sentimento que talvez, veio a mim filho do campo, algo curioso. Era meu companheiro a um metro da janela do meu quarto de pensão em que eu parava (atualmente é o Skinão próximo a catedral) Logo me veio a mente a Quadrinha do Autor desconhecido:
Sino– Coração de Aldeia
Coração, sino da gente
Um, a sentir, quando bate
Outro, a bater, quando sente.
E, eu vi minha mãe rezando
Aos pés da Ave Maria
Era uma santa escutando
O que outra santa dizia
Transcorreu tudo normalmente. As filas dos cursos postadas para a entrada nas aulas com o respectivo regente. O irmão Amadeu, diretor do ginásio, era o regente do curso de admissão. Todos em silencio. Não poderíamos falar, principalmente contra o governo.
Em toda e qualquer eferméride colocávamos o retrato do Ditador Getulio sobre uma cadeira no pátio, e tínhamos de desfilar, fazendo sua saudação narista na frente da fotografia.
O diretor tinha um Ford Bigode para sair a visitar os amigos. Tínhamos, a gurizada a sair a empurra-lo pelo pátio para fazer pegar.
O uniforme era caqui, com casquete. Tínhamos, banda de tambores, para tocar na semana da pátria. Criaram o dia da juventude. Participávamos de todos os desfiles militares, como sete de setembro e dia do soldado em 25 de agosto.
Alem da aula de esportes havia uma instrução pré militar ministrada pelo sargento Stegilisch, o qual encinava a montar e desmontar um fuzil, mirar e atirar sem bala. Era para criar um espírito militarista e belicoso.Nos recreios jogávamos futebol de grêmio e elite. Todo mundo participava. Quando não tinha bola chutávamos bola de pano, e ate, bocha ou mesmo lata. O irmão Pedro No lasko era prefeito do internato. No aniversario do Sr. Getulio Vargas tínhamos de fazer redação felicitando-o. Como ouvi meu pai em casa contar que se negou a assinar um telegrama de felicitação junto com o Sr. Oscar Sabo ao Getulio, porque não sabia se amanha seria contra ele, eu, também, no colégio me neguei a fazer a redação de felicitação. O mesmo imediatamente um espia da policia me chamou de 5º coluna, como eram taxados os que eram contra o governo.
Em 1942 e 1944 o regente da nossa aula foi o irmão Danilo- francesces da Alsacia Lorena, ferrenho antiametinofilo. Um dia um ex colega meu, Pegy e Manuel de Castro que se tornou inspetor de policia, me pediu, em nome de nossa amizade que eu declarasse que o irmão Danilo falava mal dos americanos na aula. Eu lhe respondi perguntando se ele não tinha vergonha de fazer uma proposta dessa.. E ele nunca mais voltou ao assunto.
Em 1945 o regente da nossa aula era o irmão Ottomar Adolfo, também, professor de inglês em todas as series. Homem de grande e firme personalidade. Muito estimado por todos. Nosso campo de futebol era uma ladeira, e ele obstinadamente lutou ate conseguir uma patrola com o Daer (fez diversas viagens a porto alegre para conseguir junto a direção do Daer) para aplainar o campo de futebol e torna-lo no estádio que é hoje. Isso lhe valeu o apelido de “Irmão patrola”
Em 1946 quando concluímos o curso Ginasial o regente de nossa aula era o irmão Gabriel. O diretor do ginásio era o irmão januário. O irmão Pedro no lasco prefeito do internato, foi o fundador de esporte Clube Tuiucy, cujo o único defeito era ser gremista de cruz na testa. O Tuiuty er a ao time do ginásio, com o qual disputávamos com clubes de esporte de outros colégios de outras cidades. Também nas paginas. Quarenta e seis… de nosso livro Santo ângelo que eu conheci falamos desse clube com fotografia da época.
Durante quase todos esses anos fui escoteiro, pertencendo a tropa de Tiradentes, que era a do ginásio Santo Ângelo cuja atuação foi descrita na pagina 98 do livro acima referido.
Todos os anos no dia do Padre Champanhaque, em 6 de junho, em comemoração dessa data havia um torneio de futebol intersérie, sagrando-se uma delas campeã Outrossim, esse mesmo irmão Pedro Nolasko, organizou na frente do ginásio uma grande fogueira de São João em seu dia. Muita madeira e taquara foi trazida e empilhada, e ela era muito alta. Muitos fogos de artifícios, com rojões e buscapés. Após queimar toda madeira o irmão Pedro espalhou todas as brasas por uns 5 metros de extensão por dois de largura. Após, tirou o calçado e passou descalso sobre as brasas sem queimar os pés, apenas sentindo um calor morno na sola dos mesmos, parecendo que pisávamos sobre uma areia quente. Para uns era interpretado como um milagre e São João. Enquanto outros achavam que era porque pisávamos com o pé parelho e com fé (ou certeza de que não nos queimaríamos, talvez, por sugestão), parecendo que flanávamos sobre as brasas.
Então, ao concluirmos o curso de ginásio, nesse ano de 1946, ouvimos o penúltimo BADALAR DO SINO DO GINASIO, pressagiando a dispersão de uma turma que viveu junto por seis longos e felizes anos. – O sino já não era mais batido por Pedro Osório do Nascimento, que havia ido embora para servir na aeronáutica.
Após o tradicional Baile de formatura da turma de formandos do Ginásio Santo ângelo de 1946, descemos do clube gaúcho para a zona, indo festejar pela ultima vez no cabaré de Dna. Bella. Lembro que na despedida dali dancei pela derradeira vez o tango “Adeus muchachos companheiros de mi vida…” na pista de danças.
Os Irmãos maristas dirigiram oGinásio Santo Ângelo e eram seus professores durante essa época : Irmãos Amadeu, Danilo, Januário e Arnaldo, diretores.
O restante do ano transcorreu normalmente bem. Na noite de Natal meu pai me acordou para a ceia de Natal em que tomamos a tradicional champanhe. Depois, seguimos para a missa do Galo a meia noite na Catedral.
Dia 31 de dezembro, com a despedida do ano velho e boas vindas ao Ano Novo, tocaram todos os sinos das igrejas, apitaram todas as maquinas de trem,cirene da Souza Cruz, frigorífico e CURTUME Basso, sinetas de trens e estação da viação férrea, foguetórios, tiros de revolve para o alto, todos se cumprimentaram nos clubes 28 de maio, clube gaúcho e comercial, em casa desejando um feliz ano novo, uns aos outros.
Os ex alunos daquela época que ainda aqui existem na cidade são: Dr. Pedro Osório do nascimento, Cap. José Krinski, Ubirajara Dornelles, Alfredo Tonetto, Alceu e Almiro Berwanger, Ivo Schneider, Darwin Gome filho, Mauro e Mauri Gomes, Héioi, Olavo e Oswaldo Basso este no Mato grosso Niwton Furtado (em porto alegre) A grande maioria dos outros ex colegas contemporâneos daquele tempo, ou foram embora, ou já passaram pela transição.
1947- este ano começou com a continuidade das férias que começaram com a conclusão do Curso ginasial. Em março desse ano fomos estudar em Porto alegre, nos matriculamos no primeiro ano do curso cientifico do Colégio Anchietta.
COLÉGIO SANTO ÂNGELO
ESCOLA TÉCNICA DO COMÉRCIO
Em 1950 voltamos a estudar no Colégio Santo Ângelo, dessa vez na primeira turma da escola técnica do comercio. Esse curso funcionava a noite das 19:30 as 23:00hrs. A ultima hora de aula era difícil agüentar, pois a maioria dos alunos trabalhava durante o dia. Inicialmente no primeiro ano, devido ao tratamento de pulmão,não trabalhamos. De segundo ano em diante,passamos a trabalhar também. Curso técnico de contabilidade era de três anos. Primeiro como viajante comercial viajando um ano com meu pai no interior da região Noroeste. Depois fui trabalhar na firma de construção de seu irmão José Carlos na qual me tornei sócio, juntoo com meu pai.. Aprendi a desenhar plantas simples e passei a dirigir o escritório da mesma. Passei a fazer a contabilidade junto com o Sr. Siegrified Ritter, que era o responsável pela contabilidade, com quem aprendi muito na pratica. A contabilidade de construção tem detalhes de balanço que poucos sabiam na época.
Voltando ao colégio santo ângelo, devo dizer que alem de trabalhar, seguir o tratamento de pulmão, estudava a noite. Criamos um clube de estudantes , disputando as Olimpíadas da Serra,disputando em ijui, cruz alta, vencendo no futebol em Passo Fundo, disputando também vôlei e basquete. A escola era mixta, funcionando a parte feminina no Colégio Verzeri. No esporte e atividades sociais praticávamos juntos. Disputamos eleições, vencemos e assumimos a direção do grêmio dos estudantes de santo ângelo, em nome da nossa escola.
Nos formamos em 1952 como o primeira turma de formandos em técnica em contabilidade da escola técnica de contabilidade de 1952.
Então, sim, ouvimos pela derradeira vez, o ultimo BADALAR DO SINO DO GINASIO SANTO ANGELO, anunciando o fim de um ciclo de nossas vidas. Partimos, então, para a luta da vida, para nunca mais voltar a esse colégio que foi tão querido para nós e nossos colegas.. nos dando a despedida final.
Devo acrescentar que o regente de nossa aula era o irmão Gabriel e o diretor o irmão Arnaldo, que pagou a musica de baile de formatura. Era um grande amigo de todos os alunos.
AUMENTO DA CONSTRUÇÃO, INCENDIO E RECONSTRUÇÃO
O prédio do ginásio ia quase da esquina ate a recepção inclusive, em cima da qual situava-se a capela. Devido a expansão do colégio pela instalação da escola de comercio, a direção contratou a construção de um grande aumento para o lado sul com a firma de construção de meu irmão Engenheiro José Carlos Rousselet, da qual eu e meu pai éramos sócios. Construção muito sólida, felizmente com parede carta fogo na união dos dois prédios.
Pouco tempo depois, a parte a velha pegou fogo, incendiando-se totalmente. Dois alunos ficaram presos pelas chamas no terceiro piso, acima da capela, sem escadas para descer, isolados. Não havia corpo de bombeiros. A única solução foi estenderem uma lona de caminhão, suspensa ,pega por 10 pessoas, fazendo com que eles saltassem sobre ela. Após muita hesitação, quando chegou o fogo perto de suas costas não tiveram outra solução que não saltarem sobre a lona estendida, do 3º andar. Foi a única opção para não morrerem queimados. Felizmente não se machucaram no salto, pois a lona estava firmemente suspensa pelas pessoas que a agarraram. Porem, foi uma sena dramática. Mas as chamas, tendiam a passar para a parte nova do prédio, pois a pesar da parede corta fogo, os prédios era m ligados pelo assoalho e forro do corredor e um espigão que unia os dois prédios.
Havia muita gente na frente tentando salvar o que estava dentro do prédio. No afã de ajudar, o que não foi quebrado e saqueado, foi queimado.
Muitos heróis de ultima hora e salvadores estavam prontos para fazer alguma coisa. Porem, meu irmão José naquele instante, lembrou-se que para salvar a parte nova do fogo tinha que isolar o forro e o soalho entre os dois prédios e, cortar aquele espigão de ligação dos telhados e serrar parte dos ripamentos próximos..
Como não havia corpo de bombeiros, ele pediu que se apresentasse um voluntário para ajuda-lo a fazer essa tarefa. Silencio geral, ate que um militar que fora cabo dos bombeiros, se apresentou.
Colocaram lenços sobre o rosto e com machados em punho, subiram ate o terceiro andar e fizeram heroicamente essa tarefa perigosa quase no meio do fogo, e salvaram a parte nova do prédio.
Da parte antiga do prédio só sobraram as paredes e Lages. O José mandou vir um perito em concreto armado de porto alegre, Ivo Wolff (Prof. De engenharia) para fazer uma avaliação do que sobrou, optando pelo aproveitamento de pardes e Lages para a reconstrução, que iniciou imediatamete, sob a direção de meu irmão , Eng. José Carlos Rousselet.
A grande maioria dos ex alunos se prontificaram a ajudar, vi mais de um assinarem e darem cheques em branco para o diretor. Eu, como não dispunha de dinheiro para dar, contribui com remoção dos escombros e o fornecimento de 100m de areia, que eu trasportava dirigindo o caminhão da firma após o expediente do escritório com dois internos do ginásio, dos portos de areia em Santa Tereza, para a construção. Operação essa que durou vários dias transportando ate a meia noite a areia.
O Irmão Arnaldo foi o grande artífice do reerguimento do colégio Santo Ãngelo
Não mais convivi com este estabelecimento tão querido.
Apenas meus quatro filhos Carlos Augusto, Tânia Jussara, Sandra Beatriz e Danieli, lá estudaram em diversos cursos. E também, meu cunhado Antonio Ludovico Krejci e meu neto Antonio Carlos Rousselet Neto.
Meu primo Pery seno Pereira na contou A seguinte historia de quando la estudou, parando na internato junto com seu irmão Expedit Pereira.
“Informo que estudei no ginásio santo angelo em 1948 – fiz admissão. Completei ate a quarta série em são luiz. Que m me entregou o diploma na formatura foi o presidente da Camera de vereadores Sr. Darwin Genro Pereira.
Fui interno e diversas vezes quando os irmãos nos levavam para rezar o terço ou missa na Matriz do domingo a noite em fila como soldados eu entrava numa portinhola (a igreja estava em obras) sem ninguém notar e depois que todos passavam, tranquilamente caminhava ate o Merklei e tomava um bom sorvete e batendo um papo cm a vilma. Retornava ao mesmo ponto e quando a fila passava de volta entrava ao natural na mesma sem ninguém notar. Tudo numa boa ate que um belo dia fui para o outro lado ou seja, ao clube gaúcho onde o Naná Miranda me ofereceu o seu tradicional bife acebolado e encontrando-se ali com a gente de São Luiz o papo foi mais longo o que provocou um atraso no esquema. Resultado; corri para o colégio e fui recepcionado pelo irmão Otomar e o Mariano no Portão, dali direto para o gabinete do Diretor tomando um baita conselho para não repetir a façanha.
Justifiquei contando a minha versão real, o café que nos serviram no internato antes de partir para a igreja estava muito fraco… falando nisto é bom lembrar que minha querida e saudosa TIÇÃO – tia Maria conceição sempre nos mandava umas gostosas bananas catarina. Muita saudade.
“Um abraço e disponha sempre, Pery “.