Sábado 10/12/2011

Necessárias são algumas explicações acerca da expressão “em que pese”. O gramático Luiz Antonio Sacconi diz que a locução iniciada por preposição deve terminar por preposição. A palavra...

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Necessárias são algumas explicações acerca da expressão “em que pese”. O gramático Luiz Antonio Sacconi diz que a locução iniciada por preposição deve terminar por preposição. A palavra “em” é preposição e depois de “pese” deve vir preposição. Deve vir, portanto, ao, se depois desta aparecer um nome masculino, e à, se depois desta aparecer um nome feminino. Exemplos: Em que pese ao mau tempo, as plantações sofrem. Em que pese aos maus tempos, as plantações sofrem.  Em que pese à seca, os rios diminuem. Em que pese às secas, os rios diminuem. De acordo com Sacconi, é errado usar no lugar das preposições artigo o, os, a, as.
O gramático Paulo Flávio Ledur diz o contrário do que diz o gramático Sacconi. Ledur diz que é errado usar preposição depois de “pese”. Depois de “pese” o certo é usar artigo. Conforme Ledur, portanto, as frases de Sacconi, para serem corretas, deveriam e devem ser escritas com artigo: Em que pese o mau tempo, as plantações sofrem. Em que pesem os maus tempos, as plantações sofrem. Em que pese a seca, os rios diminuem. Em que pesem as secas, os rios diminuem.
E o gramático Celso Pedro Luft, por sua vez, aceita tanto a forma proposta por Sacconi quanto a forma proposta por Ledur. E faz notar que o “pese” na forma proposta por Sacconi não varia, fica sempre “pese”, no singular, enquanto na forma proposta por Ledur varia, pode ficar “pese” e “pesem”.  Detalhando, a expressão “em que pese” iniciada e terminada por preposição tem invariável o termo “pese” com “ao” e “à” no singular e com “aos” e “às” no plural: Exemplos: Em que pese ao mau tempo, em que pese aos maus tempos, em que pese à seca e em que pese às secas. Por outro lado, essa expressão, se terminada por artigo, varia o termo “pese” de acordo com o número do artigo. Exemplos: Em que pese o mau tempo, em que pesem os maus tempos, em que pese a seca e em que pesem as secas.
Luft diz que a expressão “em que pese a” é clássica, tem pronúncia “pê”, com o sentido de “ainda que cause pesar ou custe a alguém o contrário” e de “ainda que contrarie a opinião de alguém”. Exemplos: Em que pese ao purista da língua, reprochar é bom português; em que pese aos puristas, reprochar é bom português. Esse pese [ê] clássico é do verbo pesar [pê]. Pesar significa incomodar, magoar, doer. Conjuga-se tão só na terceira pessoa. Mostras dessas conjugações estão nas frases acima.
Modernamente, ainda segundo Luft, surgiu um “em que pese” sem a preposição “a”, com pronúncia aberta [pé] e com sentido preposicional  “apesar de”. Exemplos: Em que pese o esforço de todos, nada se conseguiu e em que pesem os esforços de todos, nada se conseguiu. Pode-se dizer, em resumo, que “em que pese [pê] a” é forma arcaizada. Foi substituída por “em que pese [pé]”. Esta forma é moderna, correta e gramatical, hoje largamente usada com o sentido “apesar de” e com “ainda que tenha peso”. Peso no sentido não físico. Uso de “em que pese” está correto, pois, em que pese o Natal, em que pesem os presentes de Natal, em que pese a média das notas, em que pesem as férias. Reprochar? É censurar, exprobrar, lançar em rosto.

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