O começo de mais um reforço no uso da expressão “a maioria de” vem desta oração de Juremir Machado da Silva escrita no Correio do Povo no dia vinte e dois de novembro recém-passado: “Situação agravada pelo fato de que a maioria esmagadora dos estados brasileiros paga o Piso.” Viu-se, no último sábado, que a expressão “a maioria de” aceita o verbo concordando com a palavra “maioria” ou com a palavra que vem depois da preposição de. Anote-se de novo que a preposição de pode variar para do e dos, da e das. A concordância do verbo com o núcleo “maioria” é sempre a preferida no nível culto da linguagem. É sempre correta e gramatical.
Também é culta, correta e gramatical [embora nem tanto quanto à outra é] a concordância do verbo com a periferia da expressão em foco. Ou seja, o verbo pode concordar com a palavra ou com as palavras que vêm depois da preposição de. Assim, a oração do cronista acima poderia ser escrita desta forma: “Situação agravada pelo fato de que a maioria esmagadora dos estados brasileiros pagam o Piso.” Em resumo, ambas as concordâncias verbais podem ser feitas e aceitas, porque ambas são corretas e gramaticais: a maioria paga ou os estados brasileiros pagam. Essas mesmas explicações e esses mesmos usos valem para a expressão antônima “a minoria de”.
Outra expressão danada e complicadora na fala e na escrita é “em que pese a”. Há gramáticos, entre os quais Luiz Antonio Sacconi, dizendo que depois de “pese” deve se usar preposição e não artigo. Diz ele que a locução que começa com preposição deve terminar com preposição. E mais, para ele, o “e” de “pese” deve ter pronúncia fechada: ê. A palavra “em” é preposição. A locução “em que pese” é, portanto, prepositiva. Eis dois exemplos segundo Sacconi: “Em que pese ao mau tempo, os turistas chegaram bem.” “ Em que pese à semana de provas, os estudantes estão passando sem exame.”
Gramáticos outros contradizem, entre os quais Paulo Flávio Ledur, a forma proposta por Luiz Antonio Sacconi. Ledur diz que a forma correta é usar artigo depois de “pese”. De acordo com Ledur, as frases de Sacconi devem ser escritas deste jeito: “Em que pese o mau tempo, os turistas chegaram bem.” “Em que pese a semana de provas, os estudantes estão passando sem exame.”
E outros gramáticos dizem, entre os quais Celso Pedro Luft, que é correta e gramatical tanto a forma proposta por Sacconi quanto a forma proposta por Ledur. Modernamente, diz Luft, a locução “em que pese” tanto pode iniciar e terminar com preposição quanto iniciar com preposição e terminar com artigo. E mais, a pronúncia do “e” de “pese” é, neste último caso, aberta: é. Segundo Luft, além de outros gramáticos que pensam da mesma forma, ficam corretas, portanto, as expressões iniciadas e terminadas por preposição “em que pese ao”, “em que pese aos”, “em que pese à” e “em que pese às” e também as expressões iniciadas por preposição e terminadas por artigo “em que pese o”, “em que pesem os”, “em que pese a” e “em que pesem as”.