O “Ramal de Ouro” está quase esquecido

Em 1940 a construção da ferrovia atinge Santa Rosa. Pela grande quantidade de mercadorias que transportava era chamada de “Ramal de Ouro”. No contexto atual, acordos tentam manter...

6586 0

Trilhos ponte sob o rio (50)A via ferroviária que cruza as nossas terras, está cada vez mais distante do cotidiano e cultura das novas gerações. No passado era a principal via de transporte de cargas e desenvolvimento econômico e chegou a ser chamada de “Ramal de Ouro”. No terminal ferroviário de Santo Ângelo embarcavam passageiros com destino a diversos pontos do Estado. No atual contexto a estação virou museu e a ferrovia é usada para eventuais transportes de grãos como soja, trigo e milho.
Os vagões e locomotivas são operadas por meio de uma concessão pública firmada entre Governo Federal e a Rumo ALL. No entanto, a história da construção e implantação da Ferrovia no trecho que liga Cruz Alta, Santo Ângelo, Giruá e Santa Rosa, bem como, a utilização deste tipo de transporte remonta uma série de curiosos fatos históricos, inclusive a marcha revolucionária de Luiz Carlos Prestes e toda uma simbologia cultural que ainda habita o consciente daqueles que viveram no tempo da explosão demográfica e do desenvolvimento de Santo Ângelo e região. A ferrovia proporcionava o fluxo de cargas e passageiros, na época, inaugurou “um movo tempo” para as cidades do interior do Estado.
No contexto atual a cultura é do transporte rodoviário e nossa produção de grãos, carne suína, peças agrícolas e produtos de siderurgia, raramente segue pela ferrovia. Uma criança não sabe em que hora o trem vai passar pelos trilhos
O Procurador da República, Osmar Veronese, afirmou que há cerca de três anos reuniu-se com lideranças e empresários locais na tentativa de potencializar esta via de transporte, na época, fez um levantamento e concluiu que a região apresenta demanda suficiente para reativar o transporte ferroviário. Veronese acredita que seria possível o trânsito diário de aproximadamente 80 vagões pela nossa malha ferroviária. A Rumo ALL tem a obrigação de realizar a manutenção periódica e manter ativo a malha ferroviária.

A linha do tempo da ferrovia

Trilhos ponte sob o rio (114)
A malha ferrovia gaúcha foi idealizada em 1889. Mais de um século se passou e a história do transporte de cargas ainda deve ser objeto de muitas páginas. Foi construída por militares e motivo de desenvolvimento econômico. Hoje está quase esquecida. Confira a linha cronológica que parte da sua formação passa pela decadência e termina na tentativa de reativação.

1889 – Um decreto federal do ano de 1889 aprovou os estudos para a construção de 292 quilômetros da estrada de ferro de Itararé, SP a Santa Maria, ligando Rio de Janeiro e São Paulo ao Rio Grande do Sul. O projeto foi idealizado pelo Engenheiro Teixeira Soares.

1894 – Inaugurado o primeiro trecho de Santa Maria à Cruz Alta com 160 quilômetros.

1898 – Trilhos alcançam Passo Fundo

1910 – A linha ferroviária chega a Marcelino Ramos, fronteira do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.

1911 – Entregue o primeiro trecho que ligaria Santo Ângelo a Cruz Alta

1915 – A ferrovia chega a Catuípe

1918 – Iniciou a construção da Estação Férrea de Santo Ângelo

1921 – A ferrovia chega a Santo Ângelo. Foi nesta época que o engenheiro Luís Carlos Prestes recebeu a missão de instalar o batalhão Ferroviário em Santo Ângelo, portanto foi construída por militares e homens sob o comando de Prestes.
A Estação de Santo Ângelo teve sua construção iniciada em 1918 e inaugurada em 1921, o prédio, com características da arquitetura colonial inglesa, durante 50 anos serviu como estação de passageiros. De grande importância histórica, a estação de trem representou um forte impulso para o desenvolvimento comercial, industrial e populacional da região. No local, ainda se encontra a caixa d’água de ferro de fabricação belga. Tombada pela Lei nº 825 de 19 de novembro de 1984.

1924 – Em outubro de 1924, o capitão, Prestes liderou a revolta tenentista na região das Missões, em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Lutando contra o governo de Arthur Bernardes, os jovens oficiais do Exército, os “tenentes”, pretendiam levantar a população contra o poder da oligarquia governante e, por meio da revolução, exigir reformas políticas e sociais, como a renúncia de Bernardes, a convocação de uma Assembléia Constituinte e o fim do voto de cabresto, bem como pela conquista do direito do voto feminino.
1928 – A ferrovia chega a Giruá

1940 – Atinge a extensão máxima chagando até Santa Rosa. Nesta época o ramal foi chamado de “Ramal de Ouro” devido a grande quantidade de mercadorias que transportava. Até a década de 80 a linha transportava passageiros.

1957 – Inaugurado o prolongamento do ramal que liga São Luiz Gonzaga até Santo Ângelo.

1996 – ALL recebeu a concessão da linha, bem como de todas as outras ainda existentes no Estado.
A malha ferroviária brasileira é dividida em regiões e estamos inseridos na Malha Sul que é operada pela empresa Rumo ALL. A nova companhia resultou da fusão de duas empresas do ramo a Rumo e ALL. Esta concessionária controla o transporte de carga em 12,9 mil quilômetros de malha ferroviária.
Na região composta por Santo Ângelo, Ijuí, Santa Rosa e Giruá, a Rumo ALL opera com o transporte mínimo de 15 vagões de cada vez. A prática é adotada por questões técnicas de traçado da ferrovia, pela capacidade de manobra dos vagões nos terminais dos depósitos de grãos da Região e leva em conta custo benefício calculado a partir dos tipos de locomotiva e vagões que fazem parte do patrimônio da empresa. Depois de carregados os vagões seguem até a cidade de Cruz Alta, onde são montadas cargas com 60 vagões, e, finalmente, seguem até o porto de Rio Grande.

2013 – All América Latina Logística Malha Sul assina um acordo judicial com o Ministério Público Federal, no qual fica comprometida em realizar a recapacitação do trecho Santa Rosa – Cruz Alta, incluindo Giruá, Santo Ângelo, Catuípe e Ijuí. Entre outras ações, a ALL teria que fomentar o transporte ferroviário na região e ainda faria um estudo para implantar um trem turístico nas referidas linhas.

2016 – O uso da ferrovia se resume em transporte de grãos para o porto de Rio Grande. A estação ferroviária de Santo Ângelo está sendo revitalizada e restaurada por meio de recursos oriundos do termo de ajuste de conduta proveniente do acordo firmado em 2013 com a América Latina Logística (ALL).

Neste artigo

Participe da conversa