Farmacêuticos acusam Conselho Federal de privilegiar o comércio de medicamentos

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Na semana passada, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) publicou resolução mudando o posicionamento no que diz respeito a prescrição de medicamentos. A nova medida permite ao farmacêutico prescrever medicamentos que não necessitam de receita médica, como analgésicos, antitérmicos e fitoterápicos. Com a nova medida, o farmacêutico poderá prescrever a receita e orientar ao paciente sobre que remédio usar no combate a sintomas como febre, dor de cabeça e cólica.

 

Em Santo Ângelo a medida não foi bem aceita pelos profissionais farmacêuticos, acompanhe:

Paulo Welfer, da Farmácia Licht, atua no ramo há mais de 54 anos. Quando ele começou sua atividade o município contava com apenas quatro farmácias. Segundo ele a nova resolução coloca nas mãos do farmacêutico um poder que ele não tem. “Acho que o poder do farmacêutico não chega a tanto. Somente o médico tem conhecimento suficiente para prescrever e acompanhar cada caso”, destaca.

A farmacêutica Carmem Ligia Carrion, da Farmácia Santo Ângelo, tem 31 anos de profissão. E não concorda com a nova medida. “A nossa formação é focada mais na orientação ao paciente de como tomar a medicação de forma correta. O médico conhece profundamente o histórico do paciente e, no momento que este paciente tiver uma doença mais séria o medicamento poderá mascarar o diagnóstico, dificultando ainda mais o tratamento. Cada profissional tem sua habilidade e tem que ser respeitada”, diz. Segundo Carmem o que vem ocorrendo nos últimos dias é uma tentativa de buscar incessantemente o lucro, abrindo margem para o que ela destacou como “empurroterapia”. “A farmácia tem que ser um instrumento da saúde”, concluiu.

A opinião da farmacêutica da Farmácia Tiaraju, Micheli Daline Bandeira, que atua há três anos e meio nesta área, questiona outros aspectos da nova função. Segundo ela a nova tarefa até poderia ser designada para o farmacêutico desde que houvesse uma remuneração apropriada. “Nos cabe mais uma tarefa, um serviço a mais. Só que o salário não aumenta”, destaca, acrescentando que outro detalhe está no risco do profissional ser penalizado. “No momento em mudam estes parâmetros a responsabilidade aumenta”, diz.

Conselho Regional de Medicina também critica nova medida

O Conselho Federal de Medicina (CFM) já avisou que vai questionar a medida na Justiça. O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (CREMERS), Rogério Aguiar, em entrevista ao Jornal O Mensageiro, na última segunda-feira, destacou que o órgão vai acompanhar a decisão em âmbito nacional. “A medida põe em risco a saúde do paciente e abre precedente a medida que inclui o prescrever medicamento que já foi prescrito, na chamada renovação da receita. Se a pessoa já utilizou o medicamento um mês anterior, por exemplo, o quadro pode ter mudado e sem uma nova avaliação não há como saber a evolução da situação do paciente. Alguns medicamentos causam dependência, outros reações adversas devido ao uso prolongado, outros maquiam causas mais graves, além do risco dos efeitos colaterais. A saúde pública é algo sério, e deve ser tratada com responsabilidade. Nós apoiamos a medida do Conselho de contestar essa resolução na justiça e vamos aguardar as decisões em instâncias superiores”, destacou.

Por Edna Lautert

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