Esculápios do saber discutem filosofia

Há cinco anos, um grupo de pensadores locais discute os problemas da filosofia. O horário é britânico. A pauta é complexa. As portas estão abertas. E o saber...

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O mundo é composto muito mais de ignorância do que de conhecimentos. O desafio? Destruir as certezas doutrinárias e filósoficas através de um debate semanal aos sábados pela manhã, às dez horas da manhã em ponto, nas dependências dantescas do Sebo Café, para bater um papo e debater uma série de indagações. Participam desta sociedade de filósofos e amantes da leitura e do saber, professores, acadêmicos, advogados, autodidatas culturais, pensadores e até mesmo quem nada sabe. “Quem não sabe, não sabe que sabe, pois como poderias tu saberes que não sabes?”, indaga o advogado e professor Paulo Leal, atual presidente da OAB de Santo Ângelo, proprietário da “caverna filósofica”, aconchegante “cavidade literária” que reune esculápios do saber, famintos por sabedoria, sedentos de novos conhecimentos e adequados às ideias kantianas, o mestre que “bate o sino” para o primeiro debate e tem seu retrato exposto ao lado deste “gigante do conhecimento missioneiro”, Pedro Osório do Nascimento.

– “É uma experiência muito interessante este grupo de estudos. Eu confesso ter nascido, novamente, após o início disso tudo.”

O início ocorreu no dia 4 de abril de 2006, através de uma palestra ministrada pelo professor Pedro Osório do Nascimento. De lá para cá, o grupo debate no imbróglio do saber, batendo o martelo em três questões: Como é possível o ser humano entender o que lê? Como ele consegue pensar sobre aquilo que leu? E como ele consegue falar sobre aquilo que entendeu?

– “Não trabalhamos com nenhum autor específico em nossos encontros. Pra falar a verdade, nestes cinco anos, foram lidos somente 15 páginas de Kant. Este grupo de estudo perdurar este tempo todo é uma façanha, não somente local, e por que não nacional? Várias personalidades já nos visitaram aqui, neste local. O ex-Governador do Estado Olívio Dutra foi uma delas”, conta Paulo Leal, o mentor do grupo de estudos.

Como surgiu a ideia de começar

o grupo lendo Kant?

Surgiu de um grupo de estudos destinado a examinar o problema da crise da cultura jurídica, quando percebemos que a crise, na verdade, não era só da cultura jurídica, mas também da ciência como um todo, pela ausência de respostas a perguntas que teimam reaparecer nesse meio, tais como: É possível conhecer algo? Como conhecemos? O que efetivamente conhecemos?

Kant foi o primeiro filósofo a demonstrar claramente que o conhecimento tem origem na sensibilidade e no entendimento. Através da sensibilidade recebemos as impressões dos fenômenos do mundo, mas é o entendimento que permite compreendê-los.

– “Nossa sensibilidade é limitada e contingente. Ela não recebe na totalidade os fenômenos dos objetos na natureza. Veja somente o seguinte exemplo: à noite percebemos uma série de pontos luminosos no firmamento de algo que denominamos estrelas, mas se tivermos a ajuda de um telescópio veremos também outros objetos, alguns que ainda sequer foram identificados plenamente. O que muda entre o que vemos a olho nu e com o auxílio de um telescópio? Mudam as impressões causadas pelos fenômenos no plano da sensibilidade”, cita Paulo Leal.

E assim o Grupo de Estudos iniciou, conforme resumiu Paulo Leal, com “Pedro Osório do Nascimento e mais dez pessoas”. Hoje, além de Paulo Leal e o próprio Pedro Osório, recebe diversas pessoas semanalmente, sempre renovando os participantes. Vão e retornam em cada novo encontro.

– “A nossa intenção não é revelar novas verdades e tampouco dar por resolvidos os problemas sobre os quais nos debruçamos para analisar, mas o certo é que temos a convicção de ter encontrado novos caminhos para percorrer de agora em diante”, diz Paulo Leal, de mentor a alguém realizado pela sobrevivência do grupo de estudos.

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