Chimarrão: Bebida que une povos e gerações

O Dia do Chimarrão, celebrado em 24 de abril, lembra que este hábito foi herdado dos povos indígenas, inclusive que Santo Ângelo Custódio era a redução que mais...

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Chimarrão (12)Os colonizadores europeus ao se instalarem em terras Missioneiras herdaram o costume de sorver água infusa nas folhas de ilex paraguaiensis (erva-mate) dos povos indígenas. O hábito atravessou gerações e no ano de 2003 foi regulamentado no Estado o “Dia do Chimarrão” (Lei 11.929). Em Santo Ângelo o hábito continua presente na maioria dos lares, talvez 90%, e a história da bebida, símbolo do Rio Grande do Sul tem uma estreita ligação com Santo Ângelo.

Matéria prima
“desta terra”
A erva-mate produzida em Santo Ângelo Custódio atravessava fronteiras. A historiadora Nadir Damiani afirma que cada Redução Jesuítica era autossuficiente, mas apresentava uma produção vocacionada, por exemplo; São Miguel era especialista no cultivo de cereais; São Lourenço na confecção de cerâmicas, tijolos, telhas… São João Batista, na fundição de ferro e aço, Santo Ângelo, algodão e erva-mate, etc.
Inclusive a localização da última das reduções, Santo Ângelo Custódio, pode ter sido fixada geograficamente por motivações relacionadas com o hábito de sorver o chimarrão. Em 1706 a redução foi instalada no lado oposto do Rio Ijuí, na “Forqueta” (encontro dos rios Ijuí e Ijuizinho). Um ano mais tarde a redução mudou-se de lugar e a semente de Santo Ângelo finalmente germinou no local onde hoje é o centro histórico, acredita-se que a busca por ervais, entre outros motivos, tenha influenciado neste marcante episódio.
Segundo Nadir Damiani a estreita história de Santo Ângelo com a produção de erva-mate está comprovada por meio de documentos que serviam de inventários e relatos das atividades dos padres jesuítas nas reduções.

História “Pitoresca”
Nos primeiros tempos os guaranis exploravam os ervais nativos e com o aumento da demanda, inclusive com exportação de erva-mate para a Europa, foi desenvolvida uma técnica de plantio de mudas, no mínimo pitoresca.
O pé de erva-mate forma sementes resistentes (duras) que dificilmente germinam em estado natural. A observação dos jesuítas permitiu concluir que as sementes que estavam nas fezes de passarinhos brotavam com mais facilidade no meio do mato. A partir desta observação resolveram potencializar o cultivo de mudas e colocavam sementes de erva-mate na alimentação das crianças, elas defecavam em lugares estratégicos para produzir mudas da planta.

Herança cultural
Atualmente não produzimos erva-mate e nem algodão, as lavouras mecanizadas de soja acabaram com os ervais nativos. Mas a cultura guarani está presente em nosso cotidiano. Entre estes hábitos está o banho diário, o uso de ervas medicinais e no nosso sistema de comunicação. Segundo o Doutor em Lingüística pela UNICAMP, Wilmar da Rocha D’Angelis, cerca de 20% de nosso vocabulário é de palavras de origem indígena.

Caldeirão cultural
Os índios Guaranis tomavam o Ka’ay utilizando o porongo, o tacuapi (era a bomba primitiva feita de taquara). Diz-se que essa era uma tradição herdada do Deus Tupã. Mas o choque cultural também resultou em modificações no modo de consumir e preparar o chimarrão no Sul do Brasil. Para os castelhanos, o mate; em português o chimarrão; em guarani Ka’ay ( ka’a = erva, y = agua).
Antes dos jesuítas a planta era seca picada e sorvida sem o processo de sapeca dos galhos e os índios usavam a bebida em rituais espirituais. O consumo chegou a ser proibido pelos Jesuítas sob a denominação de “erva do diabo”.
A partir do século XVII, no entanto, os mesmos mudaram sua atitude para com a bebida e passaram a incentivar seu uso com o objetivo de afastar a população local do consumo de bebidas alcoólicas, introduzindo a sapeca dos galhos como forma de purificação da planta.
Mas a escolha do dia 24 de abril como “Dia do Chimarrão” mão está em função das origens culturais da bebida e sim consiste em uma homenagem a fundação do primeiro Centro de Tradição Gaúcha do mundo – CTG 35, em 24 de abril de 1948.

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