Antimonumento ‘Jaz’ é uma instalação permanente localizada em São Miguel das Missões. No ano de 2007, entre 138 projetos de todo o Brasil, foi um dos 12 selecionados para ser executado como forma de celebrar os 70 anos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Iphan. O incêndio da estátua de Borba Gato ocorrido em São Paulo provocou a reflexão sobre as ações dos bandeirantes no Rio Grande do Sul e o antimonumento aos bandeirantes foi lembrado pelos Missioneiros.
‘Jáz’ interroga de maneira crítica a narrativa histórica contada sobre os bandeirantes, pois em São Paulo muitos fatos são contados de modo a elevarem os bandeirantes ao status de heróis. O antimonumento existente em São Miguel foi elaborado sob a coordenação de João Loureiro no ano de 2007 a partir do Edital Arte e Patrimônio, uma iniciativa do Ministério da Cultura e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, por meio do Paço Imperial, com patrocínio da Petrobras.
‘Jaz’ é cheio de significado, no entanto, se mantém discreto e passa despercebido, até mesmo dos moradores locais. Da superfície avista-se apenas um parapeito, mas ao descer a escadaria em uma peça subterrânea o visitante observará a representação que lembra, não a face de uma figura humana qualquer, mas de um personagem histórico do século XVII, um bandeirante em rústicas vestes sertanistas, como narra Liliane Benetti em rica descrição da obra ‘Jaz’.
A escritora ainda cita detalhes que exaltam o significado do antimonumento: “Para a história de São Miguel das Missões, no entanto, os bandeirantes são personagens secundários, quase proscritos. Não há indícios de que tenham passado pela região, mas se sabe que as reduções jesuíticas ali se fixaram em consequência do extermínio de aldeamentos por bandeiras de preação”.
O incêndio da estátua de Borba Gato ocorrido em São Paulo no dia 24 julho, rescendeu o diálogo sobre as ações dos bandeirantes junto aos povos indígenas no Rio Grande do Sul. No entanto, o historiador Eduardo Bueno esclarece que Borba Gato (em especial) não teria aprisionado integrantes dos povos nativos, antes disso, ele era um explorador de riquezas minerais e um episódio peculiar faz parte de sua história. Eduardo Bueno conta que o principal crime de Borga gato foi assassinar Rodrigo Castelo Branco nomeado pelo rei como Superintendente Geral das Minas. Depois deste episódio, teria fugido e vivido por 15 anos junto aos indígenas. Em agosto de 1698 é absolvido e se torna Superintendente Geral das Minas, abrindo caminho para a exploração destes minérios.
O historiador e professor Darlan Marchi também esclarece sobre a obra existente em São Miguel e seus significados: “Esta imagem é um antimonumento, uma anti-homenagem. Ela não está homenageando os bandeirantes, pelo contrário. Ao utilizar-se da linguagem da arte contemporânea, o artista produz uma obra que deve gerar reflexão. Ao contrário do monumento do Borba Gato em São Paulo, esta obra em São Miguel o “enterra”, o sepulta longe, atrás das ruínas que seguem em pé. É uma analogia ao lugar que o bandeirante ocupa na história das Missões. É como se ela dissesse: apesar de tudo que fizeram contra os índios, as Missões progrediram, tiveram êxito. Ela faz um contraponto com o bandeirantismo heroico de São Paulo” cita Marchi.
Na opinião de Darlan Marchi ainda há muito desconhecimento sobre a obra, que tem uma riqueza enorme para a discussão da História das Missões. Os guias de turismo e professores precisam se apropriar dos seus significados.
A existência desta obra é ignorada por muitos missioneiros, que ainda não compreenderam o seu significado. Há poucas indicações turísticas de como chegar até o lugar e mesmo que o turista queira conhecer, encontrará dificuldade para encontrá-la, pois como o título da obra sugere, é semelhante a um jazigo, onde jaz o bandeirante.