Passarela de pedra construída por indígenas reaparece no Rio Ijuí

A estiagem baixou o nível do Rio Ijuí e revela os vestígios de uma estrutura de pedras feita por indígenas. Desconfia-se que tenha sido construída no tempo das...

81031 3
Foto - Marcos Demeneghi - Rio Ijuí quando passa pela zona rural de Santo Ângelo em Linha Sabiá
Foto – Marcos Demeneghi – Rio Ijuí quando passa pela zona rural de Santo Ângelo em Linha Sabiá

Reportagem, texto e edição – Marcos Demeneghi

O caminho usado pelos índios para atravessar o Rio Ijuí a pé, está localizado no limite dos Municípios de Santo Ângelo e Vitória das Missões, em Linha Sabiá, na zona rural. Neste lugar, o relevo conduz o rio a fazer sinuosas curvas e o peculiar relevo também revela a beleza da região.

Quando o assunto é volume de água, o Rio Ijuí é o principal curso hídrico da região e referência na hidrografia do estado do Rio Grande do Sul. Por este motivo, a edificação que aparece, em situações anormais de incidência de chuva, desperta a curiosidade e relembra fatos históricos do tempo das Missões Jesuíticas.

Uma das suspeitas é que ao atravessar o rio e adentrar na localidade de Ressaca dos Paullus, em Vitória das Missões, existe um lugar, identificado como “Lagoa Seca”, onde os índios se agrupavam para trabalhar na extração de minério ferro.

Quem conta é Evanir Liberalesso, ela é uma das proprietárias das terras que estão nas imediações desta ponte de pedra indígena. Ela conta que a família até resolveu preservar o lugar, devido aos relatos históricos contados por seu avô, Sr. Antônio Barichello.

Evanir conta que em tempos mais antigos os moradores preservavam as pedras no lugar, sempre que a força da água levava parte delas, a comunidade em esforço coletivo, tentava recolocar as pedras. Segundo os relatos ouvidos no âmbito familiar, a largura da faixa de pedras permitia a travessia segura para a outra margem, mas com o tempo e com a força da água as pedras foram saindo do lugar, e, sem intervenção humana, a ponte foi desaparecendo.

Segundo Darci Pedro Donadel, que é um morador da região, o aparecimento desta “pinguela dos índios” é uma referência de secas mais severas, ele afirma que a última vez que apareceu esta formação, foi em 2012, ano em que ele escreveu em uma pedra a frase “SETE MÊS S.H. 2012”. Naquela época tendo como testemunho o Jornalista Oda Kotowski, que fez uma matéria para um jornal local de Santo Ângelo. O Técnico Agrícola, Diomar Formenton, que sempre trabalhou na área ligada a agricultura, também testemunhou o fato.

Rio Ijuí, zona rural de Santo Ângelo em Linha Sabiá - Darci Pedro Donadel aponta para a pedra, na qual fez a inscrição na seca de 2012 - Foto: Marcos Demeneghi
Rio Ijuí, zona rural de Santo Ângelo em Linha Sabiá – Darci Pedro Donadel aponta para a pedra, na qual fez a inscrição na seca de 2012 – Foto: Marcos Demeneghi

 

Kotowski também relata que outro marco histórico de aparecimento da ponte indígena seria nos anos 40, identificando períodos mais severos de seca no Rio Grande do Sul.

O pesquisador e especialista em assuntos missioneiros, José Roberto, confirma que naquela região há restos do período jesuítico e informa que esteve lá no ano de 1993 para conferir o relato de moradores. Afirma que conferiu in loco vestígios do período jesuítico. Tanto, no lado de Santo Ângelo quanto, de Vitória das Missões, há pedras cúbicas que pareciam prontas para uso em edificações.

Ele acredita que esta ponte era um caminho secundário que em algum ponto próximo unia-se a caminhos principais, onde eram feitas as rotas comerciais entre São Miguel, São Lourenço, São João Batista, até as reduções do lado argentino.

José Roberto lembra que Santo Ângelo era o maior produtor de erva mate da época e este caminho poderia ser uma das vias de escoamento da produção. Segundo o historiador o fato da ponte é apenas uma peça de um grande quebra-cabeça que remonta a história e comprova a força das missões e de Santo Ângelo no contexto histórico jesuítico.

IMG_6486 (Copy) IMG_6477 (Copy)

Córrego que secou com a estiagem na mesma localidade, nas proximidades da passarela indígena. Moradores mostram os detalhes das pedras esculpidas, ou pelo tempo, ou pelos índios das Missões Jesuíticas - Fotos Marcos Demeneghi
Córrego que secou com a estiagem na mesma localidade, nas proximidades da passarela indígena. Moradores mostram os detalhes das pedras esculpidas, ou pelo tempo, ou pelos índios das Missões Jesuíticas – Fotos Marcos Demeneghi
Neste artigo

Participe da conversa

3 comentários

  1. Jorge Adolfo de Arruda Responder

    Achei muito interessante esta matéria. Espero poder ler mais sobre este importante tema. Parabéns

  2. Sergio Ademir Bohrer Responder

    Parabéns pela reportagem. Temas como esse deveriam ser mais frequentes. Temos muito a descobrir sobre nossa região.

  3. Tau Golin Responder

    Muito interessante a matéria sobre a passagem indígena no rio Ijuí. Poderia me mandar as coordenadas, ou indicar no mapa. Abraços.