Sábado – 12/03/2011

O último voo do Egídio Nascido em Cerro Largo, Egídio Pedro Flach cumpriu neste solo missioneiro, por muitos anos, importante papel no desenvolvimento da aviação civil, grande responsável...

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O último voo do Egídio

Nascido em Cerro Largo, Egídio Pedro Flach cumpriu neste solo missioneiro, por muitos anos, importante papel no desenvolvimento da aviação civil, grande responsável que foi pelo Aero Clube de Santo Ângelo, especialmente pela construção da sede própria. Apaixonado pelo que fazia, Egídio foi o único instrutor da entidade por muito tempo e formou dezenas de pilotos, muitos deles admitidos nas empresas comerciais, como, por exemplo, foi o caso do santo-angelense Wilson Maraschin, que fez carreira na Varig, operando em viagens para o exterior. Lutador infatigável pela causa, o Egídio buscava verbas junto aos políticos e interferência para a cedência de aeronaves, no que contou com a ajuda do médico Otto Flach, irmão dele.
Não esqueço a viagem de teco-teco em que o Egídio me conduziu a Passo Fundo, num final de tarde de novembro. Avisado por colegas de que precisaria fazer exame oral de Direito Civil na manhã seguinte, lembrei do piloto e colega de rádio. Surpreso, não tive outro recurso senão apelar para o amigo, que prontamente acalmou meus nervos. Acontece que o Professor Ney Mena Barreto leu a minha prova e falou para os colegas que estava perfeita. Não tive dúvidas, voltei para casa. Ao procurá-lo, o Dr.Ney admitiu que tinha se enganado ao me atribuir nota quatro quando eu esperava nota máxima. No oral, me deu dez. Alguns anos mais tarde, o piloto Egidio outra vez atendeu ao meu pedido e levou o Marcelo, com sete anos de idade, gravemente enfermo,  a Porto Alegre.
Inúmeros outros exemplos de profissionalismo poderiam ser arrolados para mostrar aos santo-angelenses de hoje porque Egídio Pedro Flach recebeu da Câmara de Vereadores o título honorário de nosso conterrâneo. Quando solteiro, o piloto residiu no Hotel Brasil, nos bons tempos do Bertholdo Ilgner. Longe do aeroporto, ganhava a vida como motorista de táxi, esmerando-se no bom atendimento ao passageiro. Correto, cumpridor de horários, podia-se confiar nele. Mas, diariamente, às dezoito horas, ouvia-se o Egídio apresentando, com muita emoção, a Hora da Ave-Maria, na Rádio Santo Ângelo. Talvez, por ouvi-lo, religiosamente, a Zenita Michelotti acabou casando com ele e ambos geraram três filhos: Marco Antônio (piloto internacional), Marcelo (editor assistente de Economia da Zero Hora) e Marconi (com atuação em agência de turismo).
Na fila do desencarne, como todos nós, Egidio Pedro Flach voou para o plano espiritual no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, na última quinta-feira, aos 93 anos de idade, conforme notícia que me foi passada pelos amigos João Pio Flach, irmão mais moço, e Liane Flach, diretora da Rádio Cerro Azul, de Cerro Largo. Resta para os familiares e amigos o consolo de que o Egídio soube ser útil à comunidade em que viveu, cultivou o idealismo em seu melhor significado e deixou para Santo Ângelo inesquecível lição de amor à aviação civil, então praticada no Aero Clube daqui, como em outras cidades interioranas,  com extrema dificuldade, aeronaves antigas e precárias instalações no aeroporto. Verdadeiro heroísmo, sem dúvida. PS – Recebi amável comentário da leitora Joseane Huber sobre o “60 Crônicas”. Ela diz que ficou com gostinho de quero mais e pede o lançamento de outro livro. Obrigado, Joseane, no final do ano virá outro, sim.

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