Deu na BBC
Antônio Carlos Rousselet, santo-angelense de muitas décadas, escreveu muito bem síntese biográfica de Siegfried Ritter, de marcante atuação em nossa comunidade. Lembrou, entre outras coisas, a eleição municipal de 1963, na qual o biografado se elegeu prefeito, tendo como vice João Calisto de Medeiros. Calisto não era companheiro de chapa de Ritter, e sim José Henrique Nozari. A legislação eleitoral então permitia a eleição de candidatos de chapas opostas. Nozari, natural de Rio Pardo, foi vice-prefeito do Município, ao lado de Odão Felippe Pippi, este pelo Partido Trabalhista Brasileiro, e aquele pelo Partido de Representação Popular, agremiação liderada pelo integralista Plínio Salgado. Na primeira vez que ganhou a Prefeitura, quando derrotou Alfredo Leopoldo Fett, Pippi teve o dr.Garibaldi Carrera Machado como vice.
Ritter era filiado ao Partido Libertador e Calisto concorreu pelo MDB. Ocorre que, na época, Calisto tinha a graduação de sargento do Exército e prestava serviços no Depósito de Subsistência, tendo como chefe o coronel José Otaviano da Silva. Nas horas de folga, o sargento desempenhava trabalho voluntário na Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, como se chamava a rede escolar criada pelo paraibano Felipe Tiago Gomes. Calisto se empenhou de corpo e alma na consolidação do Ginásio Sepé Tiaraju, iniciado pelos irmãos Valmir e Vilmar Schau de Araújo, e na fundação da Faculdade de Direito de Santo Ângelo. Com isso, conquistou a simpatia da comunidade e derrotou Nozari nas urnas. Nos impedimentos de Ritter, com quem se acertou nos rumos administrativos, assumiu o cargo de prefeito em diversas oportunidades.
A lei eleitoral, no entanto, impedia os sargentos na ativa de disputar cargos públicos. O Juiz Eleitoral Bayard de Toledo Mércio, primeiro diretor da Faculdade de Direito, admitiu o registro da candidatura de João Calisto e depois lhe entregou o diploma de vice-prefeito. Inconformado, o diretório municipal do Partido Libertador recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral, no objetivo de obter a cassação do militar.
Quase um ano depois, o TRE acolheu o recurso e cassou o mandato de João Calisto, determinando nova eleição somente para vice-prefeito. Marcada data, a coligação que elegeu Ritter concorreu com Lauro Anschau, funcionário da Companhia de Cigarros Souza Cruz, ao passo que os trabalhistas não apresentaram candidato, em sinal de protesto. Aí aconteceu episódio inédito na vida política santo-angelense, que deu muito o que falar.
Encerrada a apuração, o magistrado Bayard proclamou a vitória folgada dos votos em branco… O resultado inusitado ganhou espaços em jornais e rádios de todo o Brasil e até a famosa e poderosa BBC, de Londres, destacou a vitória dos votos em branco sobre o candidato Anschau.
Foi assim que Santo Ângelo foi notícia na emissora inglesa. Poucos meses depois, Anschau deixou a Capital das Missões e nunca mais retornou para cá.
Outra eleição foi disputada para preencher o cargo, quando o advogado Ricardo Leônidas Ribas, funcionário do Banco do Brasil, obteve a vitória ao superar o candidato adversário, o tradicionalista Maximiano Bogo.