Escultura jesuítico/guarani com mais de 300 anos de Santa Bárbara é restaurada

Escultura jesuítico-Guarani com mais de trezentos anos passou por restauração estética na PUC/RS e ficará em exposição permanente no Museu José Olavo Machado em Santo Ângelo. O dia...

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Uma escultura em cedro entalhada nas Missões Jesuíticas entre os séculos XVII-XVIII e reconhecida como Arte Sacra Barroca Jesuítico-Guarani, reproduz a imagem de Santa Bárbara. Esta peça foi submetida a procedimentos de restauração estética e esterilização e vai compor o acervo do Museu José Olavo Machado da cidade de Santo Ângelo. A exposição deve ser aberta ao público assim que o nível de contágio do Covid-19 reduzir.

Escultura jesuítico-Guarani com mais de trezentos anos passou por restauração estética na PUC/RS. Representação de Santa Bárbara - Foto: Edison Hüttener
Escultura jesuítico-Guarani com mais de trezentos anos passou por restauração estética na PUC/RS. Representação de Santa Bárbara – Foto: Edison Hüttener

A imagem de Santa Bárbara esculpida nas Missões possui 42,7 cm Largura e pesa 1, 92 kg, carrega uma Torre e os entalhes que lembram cabelos longos característico em outras peças deste período.

A escultura foi arrematada de particulares em um leilão, transação intermediada pelo Ministério Público Federal no ano de 2018, posteriormente, a escultura foi doada ao Museu Municipal José Olavo Machado e encaminhada ao Grupo de Arte Sacra Jesuítico-Guarani da PUCRS, coordenado pelo professor Dr. Edison Hüttner, onde passou por um processo de restauração e foi metodologicamente analisada e estudada.

Hüttner, que trabalhou na restauração, é professor da Escola de Humanidade na Oficina Museográfica do Museu de Ciências e Tecnologia (MCT) da (PUCRS) e teve a orientação da Artista Plástica Carla Rigotti, responsável pelo setor de restauração do MCT da PUCRS. Contribuiu na restauração o doutorando do curso de PósGraduação em História: Cláudio Lopes Preza Junior.

No trabalho de restauração constatou-se que uma das mãos da escultura não era original, provavelmente teria sido implantada posteriormente. A tinta que cobria a peça também não era a mesma usada pela técnica missioneira, no entanto, ao remover as camadas superficiais de tinta e estudar os remanescentes cromáticos da peça, confirmam-se características da policromia sacra Jesuítico-guarani, em que as cores também faziam parte da estética destas peças, no entanto, feita a partir de elementos minerais e vegetais como o urucum, erva-mate, pó de ouro, entre outros. Portanto, a pesquisa também identificou a coloração original da peça em alguns elementos, em maior proporção, na parte superior da torre, bem como, na coroa.

Do mesmo modo que o Querubim Missioneiro, a escultura que representa Santa Bárbara passou por uma esterilização feita a partir de Luz Ultravioleta C, metodologia que utiliza o aparelho Huttech Tower com duas lâmpadas UV-C, desenvolvido pelo odontologista Eder Abreu Hüttner, coordenador da Startup Huttech, sediada no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc). Esta técnica foi usada para esta finalidade, pela primeira vez, com as imagens sacras vindas para Santo Ângelo.

Imagem de Santa Bárbara Banho Ultravioleta (Copy)

O professor Edison Hüttner acredita que existem ainda muitas esculturas espalhadas no RS, e outros Estados. “À medida que resgatamos estas peças, estamos nos unindo ao próprio patrimônio da história e da tradição de gerações, trazemos o passado para o presente”.

Antes da restauração
Antes da restauração

Imagem de Santa Bárbara (Copy)

 

As crenças populares revelam também o sincretismo afrocatólico em que Santa Bárbara está associada ao orixá Iansã, também chamada de Oyá: orixá feminino dos ventos, dos relâmpagos, raios, “(…) dona dos espíritos dos mortos”. A saudação é Eparrei! Elememento natural: raios, cores das roupas e colares: vermelho-escuro ou branco.
Neste contexto o pesquisador destaca a diversidade da fé brasileira e regional, bem como, a capacidade que estas peças históricas possuem de unirem duas vertentes de fé, uma religião de matriz afro-brasileira, que evoca o orixá Iansã ou Oyá e a católica que remete a Santa Bárbara.
Imagina-se que nas reduções jesuíticas a devoção de Santa Bárbara foi incentivada pelos padres. Eram feitas preces para que Santa Barbara não deixasse cair raios nos campanários e torres altas de igrejas nas reduções.
Morte ordenada pelo pai
Bárbara Nasceu em Nicomédia (Bitínia) em 280 d.C. e martirizada em 317 nesta mesma cidade. Ainda jovem, em Nicomédia, se converteu ao cristianismo. Seu pai Dióscoro, era viúvo, por isto tinha toda atenção na filha. Fez uma torre para proteger Bárbara quando saía de viagem, pois pretendia um casamento nobre para a filha. Ao saber da conversão de Bárbara, mandou trancá-la definitivamente na torre. Bárbara fugiu da torre para visitar os doentes e escravos. Bárbara foi encontrada numa gruta pelos soldados e levada à prisão, denunciada por seu pai. Foi açoitada na prisão. Diante dos juízes, Bárbara não renunciou ao cristianismo. Dióscoro furioso ordenou que os soldados chicoteassem Bárbara em praça pública, depois a degolou com sua própria espada. A história conta que, imediatamente um raio atingiu Dióscoro matando-o fulminantemente. Por este motivo S. Bárbara é a protetora contra as tempestades. Pelos seus méritos, é invocada “(…) contra os perigos dos raios, trovões, invocada também contra os perigos de raios, trovões, explosões, etc., e tornou-se a padroeira do Corpo de Bombeiros, Mineiros e Artilheiros”. Conforme Santos, as relíquias (ossos) foram levados para Constantinopla.

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