Breno de la Rue restaura um Gordini 1965 e revive memórias a bordo deste modelo de automóvel que foi o primeiro e mais marcante de sua vida. Uma das viagens inesquecíveis foi no ano de 1971, quando ao lado do amigo de infância, Milton Sehn (também santo-angelense), partiu de São Paulo e veio a Santo Ângelo (RS) a bordo de um Gordini, pois a viagem cumpria o objetivo de trocar o veículo por um Corcel modelo 1972 na concessionária Bassani.
Os amigos de infância Breno de la Rue e Milton Sehn revivem a viagem de Gordini feita 50 anos atrás. Decidiram repetir o itinerário de 1400 quilômetros com o mesmo modelo de automóvel que fez parte de suas histórias e deixou lembranças. Foi então, que no último dia 7, a dupla partiu de Americana (SP) com destino a sua cidade natal, Santo Ângelo (RS). Mas Breno alerta que não foi uma aventura, o veículo foi todo restaurado e o motor adaptado para oferecer mais segurança durante a viagem. Diferente daquela feita em 1971, voltará a São Paulo com o mesmo Gordini e ainda pretende fazer um “pit stop” na fábrica da Renault, em Curitiba, na intenção de valorizar a indústria e a linha de montagem desse veículo que fez história no Brasil e no mundo.
“Meu pai era muito ligado à marca Renault e um ano antes de eu completar 18 anos, fui presenteado com um Gordini. Andei com ele por cinco anos e ficaram muitas lembranças”, contou Breno de la Rue ao chegar a Santo Ângelo. O projeto de restauração feito para reviver as memórias de Breno e Milton manteve características visuais com funilaria impecável, mas o motor foi preparado para aguentar a viagem.
Breno de la Rue conhece detalhes dos motores como poucos, pois é um experiente engenheiro mecânico que fez história no automobilismo brasileiro e quando ingressou na faculdade de engenharia mecânica em São Bernardo do Campo, no ano de 1968, era o Gordini que lhe permitia mobilidade e rendeu boas memórias dos tempos de estudo e convivências com colegas.
“Acredito ser verdade que o Gordini desperte a alegria de dirigir, talvez porque tenha sido feito para funcionar com uma rotação mais alta e possui um motor elástico, na terceira marcha tu pode andar a 30 km/h, mas, acelerando um pouco mais chega na mesma marcha a 110 km/h” respondeu Breno de la Rue ao ser questionado: Por que o Gordini?
“Naqueles anos que dirigia o meu Gordini aprendi os pontos fortes e fracos deste motor, um dos principais objetivos das modificações feitas neste projeto que viabilizou a viagem, está em função de melhorar a potência e o torque, pois queria que o automóvel não perdesse velocidade na quarta marcha. Pois na minha concepção, o motor original perdia muita velocidade em qualquer subida”.
Breno conta que o motor ficou com, pelo menos, 50% de ganho de potência. “Confeccionei novos pistões com a mesma tecnologia dos mais avançados motores, para que aguentasse taxas de compressão e rotações altas”, esclarece o engenheiro. Em virtude disso, vieram outras modificações como novas válvulas e um comando com regulagem, coisa que não tinha. “Construímos um motor bem mais alinhado… com carburador PAIA de dois corpos, um alternador com mais capacidade e assim por diante”.
Quanto ao desempenho do carro na viagem ele informou que foram gastas 17 horas e meia para vencer o percurso de 1400 km (contabilizando as paradas), segundo os pilotos, o motor não gastou nenhuma gota de óleo, foi possível uma autonomia de 14 quilômetros com um litro de combustível e não ocorreu nenhum problema mecânico ou elétrico.
Durante a viagem Breno conta que pilotou seu Gordini mantendo uma média de velocidade na casa de 80 a 95 quilômetros por hora, respeitando a mecânica do veículo, embora preparado para horas de trânsito, ainda possui limites.
Breno de la Rue ainda possui outro Gordini com apenas 5000 quilômetros rodados em sua coleção de veículos (que hoje é referência para colecionadores e restauradores, pois mantém 100% das características originais). Mantém ainda um acervo de motos antigas BMW que foram restauradas e ainda um raríssimo exemplar do carro Interlagos, também fabricado pela Renault, entre outros veículos.
Texto e edição – Marcos Demeneghi