Estamos vivendo intensamente a era digital. O mundo está cada vez mais acelerado, os anos nos dão a impressão que passam cada vez mais rápido e as novas tecnologias estão cada vez tomando espaço em nossa sociedade. Todavia, todo este desenvolvimento social e tecnológico tem um preço, sendo que profissões que há séculos faziam parte do cotidiano hoje estão em extinção. É o caso dos sapateiros, que praticam este nobre ofício há muitos séculos, mas que chegam ao novo milênio já com um contingente pequeno de profissionais. Muito disso se deve ao processo de industrialização que o século XX sofreu. Entretanto, na Capital Missioneira, alguns grandes nomes da sapataria sobrevivem e fazem história neste ramo. Logo de início encontramos a figura carismática de um dos maiores sapateiros de sua época, que atende pelo nome de Guimorvan Flores da Cunha. Com 85 anos, sendo destes cerca de 70 anos voltados ao ofício. Começou ainda criança, por volta dos 10 anos, no então distrito de Nonoai que na época pertencia ao município de Sarandi/RS. Sua especialidade era fazer cordas em couro, se tornando guasqueiro e posteriormente celeiro. Para incrementar suas atividades, comprou as ferramentas de um sapateiro que tinha falido e desta forma resolveu aprender a lidar com calçados, principalmente botas, já que por morar no interior era o que mais se usava na lida campeira. Hoje, “Seu Flores”, como é popularmente conhecido, ainda mantém sua sapataria no bairro Pippi. Trabalhando exclusivamente com artigos em couro, se dedica principalmente aos concertos em botas e sapatos, além de confeccionar chinelos e relhos. “Aprendi o trabalho olhando os antigos sapateiros da cidade. Trabalhei a vida inteira como sapateiro e não me arrependo, pois gosto muito do que faço”, revela Guimorvan Flores da Cunha.
Outro ponto tradicional em Santo Ângelo é a famosa Sapataria Silva. Com mais de seis décadas de existência, a empresa se tornou um ícone em sapataria. O primeiro dono foi Amadeu Bueno, lendário sapateiro que faleceu há poucos anos. Este vendeu seu negócio para a família Silva que desde então conduz com mestria a arte de consertar e fabricar calçados e artigos em couro. De propriedade de Jorge Oliveira Silva, que assumiu os negócios na década de 1970, a empresa hoje é referencial e um dos nomes mais lembrados neste segmento. Trabalhando com artigos em couro, além de realizar os clássicos consertos, também fabrica calçados sob medida ao gosto do cliente. Com tantos anos de atuação neste ramo, a nova geração da “Família Silva” já está dando continuidade ao negócio. -“Conquistamos este reconhecimento com muito trabalho e dedicação em todos estes anos. Sempre trabalhamos com o que existe de melhor em materiais, e atribuímos o nosso êxito ao bom atendimento. Tenho dois filhos que estão trabalhando na empresa e querem continuar o negócio, o que me enche de orgulho”, conta o proprietário Jorge Oliveira Silva.
Para finalizar, não poderíamos deixar de citar um dos grandes sapateiros, Amadeu Bueno. Um mestre na arte dos calçados, fez escola no ramo da sapataria. Deixou como legado a “Casa do Sapateiro”, que está sob gerenciamento de seu filho, Paulo Bueno, a quem repassou seus conhecimentos. A empresa que comercializa alpargatas, botas, guaiacas, entre outros. Para o proprietário da Casa do Sapateiro, Paulo Bueno, os ensinamentos de seu pai foram fundamentais para que continuasse no ramo da sapataria.
-“Meu pai foi um grande sapateiro, tanto que muitos até hoje se lembram dele e atestam sua habilidade na área. Eu estou dando seguimento ao negocio que ele iniciou, até como reverência ao profissional que ele foi”, conta.