Kaingang aprende a fazer réplicas de animais com guaranis e fala das transformações culturais

Adelino Marculino está acampado no Bairro Neri Cavalheiro em Santo Ângelo, juntamente com outros 40 kaingangs que vivem na reserva indígena Inhacorá, localizada no município de São Valério...

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Adelino Marculino comercializa artesanato no centro de Santo Ângelo
Adelino Marculino comercializa artesanato no centro de Santo Ângelo

Adelino Marculino está acampado no Bairro Neri Cavalheiro em Santo Ângelo, juntamente com outros 40 kaingangs que vivem na reserva indígena Inhacorá, localizada no município de São Valério do Sul, se instalaram nesta época que antecede a páscoa para vender o seu artesanato.

Adelino Marculino é um indígena kaingang que nesta semana expõem para a venda artesanato em ruas centrais de Santo Ângelo. São cestos feitos de taquaruçu, casas decorativas de passarinhos, marcela e réplicas de animais do mato, estes últimos ele aprendeu a fazer com um indígena guarani de Tenente Portela, chamado Jeremias.

Na reserva kaingang onde mora, juntamente com outros 800 indígenas, somente ele conserva este hábito de fazer os animais entalhados em madeira.

A ESTADIA NA TERRA MISSIONEIRA

O indígena revela que sua vinda para Santo Ângelo não está somente associada a subsistência e a venda desse artesanato, pois Adelino e sua família consideram a viagem uma oportunidade para sair da reserva e conhecer outros lugares, uma atividade de experiência para as crianças e adultos da reserva. Embora a motivação esteja associada à venda de artesanato na época da páscoa, não é o único motivo do deslocamento para Santo Ângelo.

Adelino explica que a vida dos Kaingangs é muito semelhante a de outros brasileiros, no entanto, aproveitam a época do ano para levar o resultado de suas habilidades artesanais para as zonas urbanas das cidades, obter renda e conhecer lugares novos.

TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS

Adelino Marculino também narra algumas transformações culturais ocorridas com seu povo. Atualmente vivem da agricultura de subsistência. Nas terras da reserva eles plantam milho, mandioca, feijão, entre outros alimentos. Mas também compram os alimentos no supermercado como qualquer pessoa. Possuem casas de alvenaria, televisão, geladeira e eletrodomésticos em geral.

Uma tradição que se mantém e é destacada pelo kaingang tem relação com os casamentos. Os indígenas desta reserva seguem uma regra que permite apenas o casamento entre eles. No entanto, conta que outras tradições relacionadas a religião, arquitetura, alimentação e saúde já não são mantidas, pois usam remédios convencionais de farmácia, compram alimentos industrializados e muitos adotaram o cristianismo, segundo contou Adelino, a conversão religiosa ajudou a minimizar os problemas com alcoolismo, comuns na reserva.

Outra mudança percebida por este kaingang está associada a inclusão de seu povo na legislação da sociedade civil. Algo que ele considera salutar, pois permite que tenham crediário em lojas, conta bancária, possam acionar a polícia quando se sentem agredidos, entre outros benefícios que este processo de inclusão e pertencimento pôde lhes oferecer.

O ARTESANATO

Há cerca de um mês sua família iniciou a confecção do artesanato e nesse período que antecede a páscoa o foco é somente na venda, que não está muito aquecida, diante de questões relacionadas a pandemia.

Adelino ainda conta que para obter o “taquaruçu” usado na confecção das cestas, foi necessário pagar um frete para buscar o material, pois na encosta do riacho em que estão acamados, onde encontravam este material, já não possui abundância desta espécie que é matéria prima para confecção dos cestos.

Agentes de saúde visitaram o acampamento

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) realizou na tarde deste sábado (06), uma visita no acampamento. A intenção foi de orientar sobre a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) e realizarem uma avaliação de saúde. Os indígenas também receberam a doação de máscaras descartáveis. Segundo a subsecretária de Saúde, enfermeira Andréia Bernardi, todos os indígenas adultos estão imunizados com a primeira dose da vacina e apresentam condições normais de saúde.

Edição | Marcos Demeneghi

 

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