Hoje trazemos os casos da crase especial e da crase nas locuções. A crase especial faz parte do grupo de palavras e de expressões que expressam ambiguidade, ou seja, dois significados diferentes. Os casos especiais facultam o uso do acento da crase. Aqueles que escrevem, querendo tirar a ambiguidade da frase e deixá-la clara, apenas com um significado determinado, preciso, podem pôr o acento da crase. Existem muitos casos de crases especiais.
Um deles, por exemplo, é este: João vende a vista. Como se vê, a expressão “vende a vista” é ambígua: apresenta dois sentidos. Um sentido é o de vender à vista, não a prazo. Outro é o de vender a vista, isto é, o olho. Se aqueles que escrevem querem dar o último sentido, o sentido de vender o olho, olho como sinônimo de vista, não devem pôr acento da crase no a: João vende o olho = João vende a vista. A expressão tem na base “o quê” do objeto direto – vender o quê? – vender o olho, vender a vista. Por outro lado, se querem dar o primeiro sentido, devem pôr acento da crase: João vende à vista. Vender à vista é, pois, o oposto de vender a prazo. A expressão “à vista” é adverbial: tem na base a palavra “como”.
Outro deles é este: Joana escreve a mão. A expressão “escreve a mão” é ambígua. Joana escreve “como” ou escreve “o quê”? Aqueles que escrevem, querendo dar o sentido de “como”, devem pôr acento da crase no a: Joana escreve à mão. Querendo dar o sentido do “o quê”, o sentido de escrever a “palavra” mão, não devem pôr acento da crase no a: Joana escreve a mão = Joana escreve a [palavra] mão. Convém dizermos que as expressões adverbiais dos casos especiais das crases conservam imutável a preposição “a” tanto antes de palavras femininas quanto antes de palavras masculinas: Dalva corta cabelos a vista e não a prazo. Dilma escreve a mão e não a dedo. Busquem na memória ou nas gramáticas, se quiserem e tiverem tempo, outros exemplos de crase especial.
Continuam existindo as crases nas locuções femininas adverbiais [que têm advérbio], prepositivas [que têm preposição] e conjuntivas [que têm conjunção]. Sete exemplos de crases nas locuções femininas adverbiais: à direita, à esquerda, à míngua, à revelia, à força, à escuta, à tarde. Sete exemplos de crases nas locuções femininas prepositivas: à espera de, à procura de, à guisa de, à moda de, à língua de, à fofoca de, à intriga de. E dois exemplos de crases nas locuções femininas conjuntivas: à medida que, à proporção que.
Alguns curiosos da língua querem saber se há ou não crase diante da palavra “distância”. Vejamos estas duas frases que contêm a palavra “distância”: Os guardas ficaram a distância. Os animais, no zoológico, ficam a distância. Nessas frases não há crase no “a” antes da palavra distância porque a palavra “distância” não é determinada.
E agora vejamos estas mesmas duas frases com esta redação: Os guardas ficaram à distância de cinquenta metros. Os animais, no zoológico, ficam à distância de cinco metros. O “a” dessas frases tem crase porque a palavra “distância” é determinada. Esta frase de fixação: Estudo a distância. Há crase no a? Não. Pois a palavra distância é indeterminada. A palavra distância, sendo indeterminada, não terá acento da crase no a. Nunca. Uma vez determinada, terá acento da crase no a. Sempre.